18.2.06

Queixada, Gregório e o James Dean parisiense

João Victor (www.vigiadanatureza.blogger.com.br) tem um post muito engraçado sobre a estátua de Ademir de Menezes, que fica na Praça da Bandeira. Para falar a verdade, nunca prestei atenção nessa estátua, apesar de falar muito do artilheiro, que é um dos maiores símbolos da união das torcidas do Vasco e do Sport. É que essa parceria foi a forma que meu pai encontrou para me fazer torcer pelo time de Roberto Dinamite.

Mas acho interessante que ela exista. Assim como o fato de João Paulo ter criado a Ponte Gregório Bezerra. Me incomoda muito o quanto somos completamente analfabetos sobre a história do lugar onde moramos. Minha mãe é a pessoa que conheço que mais sabe a história do Recife. Se você pedir ela conta com detalhes a história de como umas mulheres de Casa Forte foram para as janelas, com panelas e assim impediram que o engenho fosse destruído pelos (holandeses? portugueses?).

Bem, como dá para notar, sou ignorante mesmo. Mas explico. As palavras dela daqui a 50 anos vão morrer. Placa na Praça de Casa Forte não tem, nem em nenhum outro lugar que lembre isso. Talvez o nome Avenida 17 de Agosto seja uma referência a esse momento histórico, mas eu não sei nenhum livro em que eu possa ter certeza disso? Quer dizer, como é que podemos viver num País tão sem memória?

Me lembrei disso porque na França fomos na casa onde Graça morou quando era adolescente. Tinha uma placa sobre o pai do amigo dela, que segundo ela era um James Dean do cinema francês dos anos 60, que morreu perto dos 30 anos. É mais ou menos como ir na casa de Dona Jaci e ter na frente uma placa dizendo: "Aqui viveu o ministro da Agricultura, Oswaldo Lima Filho, que foi deposto pela Ditadura Militar e teve sua vida dedicada ao homem do campo nordestino. Tendo sido também deputado federal constituinte e recebido nota 10 por avaliação de entidades sindicais em 1989".

Simples né? Ninguém fez. Os livros sobre ele existem, mas são burocráticos.

Mas isso não é o pior. Como é que se passa na pracinha em frente ao Ibama e não existe nada para homenagear Gregório Bezerra. Quantas histórias lendárias o CPOR viveu, por conta desse homem que era analfabeto até os 18 anos. E quantos outros caras têm histórias tão importantes ou menos importantes. E todos, ou quase, com poucas ou nulas referências que nos lembre dele.

Isso é só para explicar que queria muito fazer um mestrado em história. 2007 vem ai.

15.2.06

Latinidade européia

Desci em Barcelona no dia 17 de janeiro. Andei todos os metrôs do mundo com um montão de malas. Váarias pessoas se ofereceram para me ajudar. Quando cheguei no prédio de Helena já estava adorando o lugar, nem tanto pelo elevador (que me salvou de um colapso de cansaço), mas principalmente pelo calor humano: "Leninha, todas as mulheres dessa cidade estão dando em cima de mim!". Ela me mandou ter calma, não é bem assim mesmo não.

A cidade me lembra o Rio. Um povo sem frescura que adora tomar uma clara, que não chega para conversar do nada tanto quanto os espanhois (eles são catalães), mas que demonstra muito carinho e vontade de viver. As belezas naturais somadas com as arquitetônicas se não batem pelo menos equilibram com o que vi na capital fluminense (claro, sou muito mais de natureza do que arquitetura). Parque Gwell, Montjuic, Bairro Gótico, o Porto, Barceloneta, as Ramblas, Praça Real, La Pedrera, Sagrada Família. Muita gente vai achar que é a cidade mais bonita do mundo. Eu mesmo tenho uma certa tendência a achar isso.

Achei que meus amigos estavam morando muito bem em Barcelona. Fiquei fã totalmente de Lela e Pedro, porque de repente são pessoas tão calmas e estão fazendo uma vida super cheia. Depois de morar na Italia, estarem vivendo e trabalhando e estudando com tanto gosto na Catalunha. E ainda são um casal que parece se gostar pra caramba. O resto do povo não fique com ciúme, tenho meus motivos para me identificar com aqueles dois.

A noite de Barcelona seria o atrativo principal para a maior parte dos meus amigos. Como eu descobri que realmente não tenho nenhum gosto pela vida noturna, só fiquei achando aqueles barezinhos uma coisa muito do caralho. Fui numa boite com Miguel e a gente se divertiu pra caramba, saímos de lá de manhã. Tinha também um bar de jarra de cerveja. E, claro, adorei sair ponteando em barezinhos, bebendo cerveja e comendo uma ou duas tapas em cada porta.

Pena que tinha de ir logo para Madri. Mas Miguel me animou: "a noite de lá é muito melhor do que a daqui!" Como pode? Bem, eu realmente não sou a melhor pessoa para avaliar. Meu território de interesses é bem diferente da maioria dos caras de 27 anos (maio está chegando). Wendy estava meio doente quando eu cheguei. Em compensação já estava adorando andar naquelas cidades sozinho (em Paris, as vezes queria ficar fazendo as coisas com Mateus. Forçando a barra. Mas depois descobri que os interesses de cada um são muito diversos).

De repente podia parar para comer um bocadillo de calamares quando bem entendesse. Delícia! Ou então ir no Santiago Bernabéu fazer uma visita e resolver comprar o ingresso para o jogo que ia acontecer naquela mesma noite. Real Madrid x Betis. Tive que adiar minha ida para Lisboa por um dia, mas valeu a pena. No fim Wendy ainda ficou melhor e pôde fazer um passeio pela cidade comigo e eu ainda conheci a Escola de Teatro.

Lisboa compete com Barcelona para ser a melhor cidade para um brasileiro morar na Europa. Tudo bem, tem tanto brasileiro que o povo português deve mesmo ter um pouco de preconceito (apesar de eu não ter sentido em nenhum momento, ao contrário do que aconteceu na Suiça). Mas é linda. Tem um povo muito simpático. Que fala português (cansa estar falando a língua dos outros). É uma puta capital (com cinemateca e tudo, como faz falta uma coisinha dessas). Mas tem um clima super tranquilo.

Lisboa foi só festa. Felicidade de ver João. A saudade de Chico já estava perto de terminar. Os amigos de Johny foram todos super legais comigo, parecia que eu já fazia parte daquilo tudo. Só me arrependi de não ter passado uma madrugada colando cartazes com Pedro. Nevou quando fomos comer um pastel de belém. Histórico! Trouxe o jornal: "Há 50 anos não nevava assim", dizia a manchete.

Bacalhau, arroz de polvo, vinho barato pra caramba, a melhor mostra de vinhos grátis do mundo (na Praça do Comércio, o cara sai bêbado se tomar tudo o que a galera oferece). Bem, é muito mais barato que na França e pelo menos tão bom quanto a comida de lá. Me desculpem os franceses. A da Espanha fez minha cabeça pela desorganização, tudo é um grande petisco. Na Suiça, só provei mesmo fondue e raclete (um queijo que se derrete na mesa, antes de botar no pão ou batata).

A Feira da Ladra é muito legal. Tão bom passear naquelas ruas. De repente você acha uma livraria de livros infantis, em cima da Alfama, do lado do Castelo de São Jorge, onde se fala português e uma mulher lia um livro para umas trinta crianças. Uma coisa muito mais linda do que a do filme de Meg Ryan. E olha que uma livraria daquelas já seria apaixonante.

A noite de Lisboa é tão boa quando a da Espanha. E ainda tem a vantagem de que a língua oficial é o português. Mas isso eu digo porque... Vocês já sabem. No meu último dia lá, era aniversário de João. A italiana que mora com ele, Francesca, desbancou a minha promessa de fazer uma muqueca e fez uma massa (que eu ajudei a preparar). Por sinal, são três meninas lindas que moram com o cara. Marta é da Colombia e Libb do Mexico. João está bem pra caralho! Só ele ainda não tem certeza disso. Nuria também é outra menina muito especial. Enfim, vou parar de dizer que o cara está com a vida que pediu a Deus. Até porque sei que tem muitas dificuldades também.

Saí de casa e o motorista tentou me enganar, mas português é foda: esperou aparecer a placa de aeroporto para dar o arrudeio. Eu fui bem claro: "prefiro ir pelo caminho que está sinalizado". ELe obedeceu. Peguei o avião e no mesmo dia estava em Recife. Quando cheguei no Aeroporto as malas demoravam e minhas pernas tremiam de saudade de Chico. Que bom estar de volta. A vida chama. O sonho é bom porque dura pouco. Vou trabalhar.

13.2.06

Um inesquecível janeiro

Nunca fui de veranear. Meu único veraneio inesquecível foi um janeiro em Ponta de Mangue, quando aprendi a velejar. Pena que quando tive chance eu não repeti a dose. Agora também tenho um inverno que não vou esquecer nem tão cedo.

Fomos para o apartamento de Graça na Rua Oberckampf no dia 2 de janeiro. Eu, Julio e Mateus. O lugar é absolutamente lindo, tem uma entrada que parece o cenário da cena de Antes do Pôr do Sol em que Julie Delpy leva Ethan Halke (sei que esse nome está errado) para conhecer o apartamento dela.

O apartamentinho é todo transado, mas nem fizemos tanta coisa nele. Um dia recebemos Mauricio Silva e enchemos a cara de vinho, para depois o vizinho de baixo ficar reclamando. Outro dia cozinhei uma coisa gostosa pra caramba. Mateus dormiu pra caralho, como sempre. E Julio Cavani infelizmente perdeu a chance de comer uma gatinha ali.

Museus, museus, museus. Tudo bem, me sentia um ignorante tábua rasa com todas as informações que Mateus tinha sobre aqueles quadros. Julio e João ainda dava para eu enrolar, com um pouco de sensibilidade. Mas pelo menos perdi o medo de ser um ignorante completo que odeia exposições. Pontos altos: Big Bang (no Pompidou), Vienna 1900 (Grand Palais) e a visita ao acervo do Musée D`Orsay (Degas e todos os impressionistas... Fuderoso!). O Louvre é gigante, impressionante, mas eu não consegui desvendá-lo em minhas sete/oito horas de visita (ponto alto foram uns quadros gigantes renascentistas. E o ponto baixo foram dez euros gastos em um retalho de pizza massudo e uma coca-cola choca).

Saídas na noite parisiense? Para dizer a verdade ficou entre eu não gosto de noite e a gente não teve sorte em Paris. O mais engraçado foi ver a cara de Julio Cavani depois de ser barrado em duas boites: Dado, você á mais bonito, tenta entrar nessa ai. Eu pago. Quanto é? 20 euros. Paga ai Julio. Passamos 20 minutos e voltamos para casa. Noite merda da porra. Como ensinou Mauricio é melhor comprar uns vinhos e beber com alguém, mas só fiz isso uma vez na casa de Carol Barreto. Uma outra saída foi bem legal, mas eu nem conto quanto eu gastei. Juro que não bebi nenhum cerveja de seis euros, que é o preço básico nas boites.

Depois que os meninos foram embora ainda fui para Nanteuil. Queria ter passado mais tempo lá, com Graça, Pedro e Patrice. Mas foi legal. Próxima vez vou até Chantilly de bicicleta. Dou uma volta de cavalo com Graça. Convenço Patrice a me deixar cozinhar um dia. Enfim, tem várias coisas a realizar ainda. Além de levar Chico no Parque Asterix, La Villete, alugar um barquinho a vela miniatura nos jardins de Luxembourg, ir no Castelo de Versailles com os pirralhos de Maurício e Anne...

Despedida histórica. New Morning, um dos maiores templos do jazz parisiense. Valia só pelas fotografias naquela parede. O show de Aldo Romano e Andrea Cicarelli (evento do início do ano em Paris, dizia o Liberation) foi um plus muito legal. Trouxe uma coleção de jazz antigo comprada lá, que queria ter dado de presente a minha mãe, mas dei bobeira (achei que ela não ia gostar...). Como é que a pessoa descobre o presente ideal, e fica inseguro depois?

Está ficando gigante. Depois conto como foram meus dias de Península Ibérica.

11.2.06

40 dias de um macaco tomando vinho

Há nove anos, era Carnaval e eu já sonhava em ir para a Europa. Não é possível escrever todas as historinhas dessa viagem em um post, mas vou me esforçar para escrever pelo menos aquelas mais óbvias que quem está me encontrando aqui em Recife já cansou de ouvir. O título está meio trash, mas é que na estação de esqui (Murren) nos Alpes suiços me senti isso mesmo. Comer um fondue naquele lugar, a três metros de altitude, não é uma coisa que eu faça no meu dia-a-dia.

O primeiro dia de Paris já foi lindo. É ridículo a pessoa conhecer um lugar superficialmente, mas tem lugares como o Rio e Paris e Barcelona que vale a pena se for sua única opção. Se tiver chance indico que a pessoa more um tempo em qualquer uma dessas cidades. Tinha visto recentemente Os Sonhadores de Bertolucci e fui ver a vista da Torre Eifell justamente do Trocadeiro (a antiga Cinemateca). O Louvre é gigante. As ruas são lindas. Sensação de irmandade com Pedro. Enfim, foi bom sentir o cheiro da França.

No dia seguinte fomos para a ceia de Natal dos Rabaroux. Tive a minha segunda experiência com a mais típica piada francesa: 1 (no aeroporto) - vejo o cara dizendo que não sabe falar inglês, me aproximo e pergunto em francês macarrônico pela minha mala, ele me responde em perfeitamente intendível língua de Shakespeare. 2 (no jantar) - a mãe de Patrice me dá as boas vindas e tal, "não sabe falar francês... Mas com certeza fala inglês." Com ar de desdem. Tenho culpa se os americanos têm o triplo do PIB da França e ainda habitam um certo continente chamado América? Bem, dei meu troco, semanas depois faria um cordeiro no curry bem melhor do que o que comi naquele dia e vou repetir assim que tiver um carro para ir comprar a carne no Mercado da Madalena (viu Simone/Mateus, foi mal a promessa antecipada, mas um dia sai).

Nancy, Strasboug, Berna. Uma rápida viagem para a Suiça. Em família, eu, Graça, Pedro e Patrice ficamos na casa de um casal suiço que tem três filhos. Uma família linda, que mora perto de Interlaken (uma das principais áreas de esqui da Europa). Aquele País é todo um cartão postal. Fica mais ridículo ver os restaurantes de Gravatá depois de estar ali... A história típica: derrubei uma alemã esquiando, a cinco quilômetros por hora. Ela botou para gritar em alemão. Queria me processar. Eu só entendia o BREZILIEN, mas dei meus contatos e ela foi retirada de helicóptero. Não teve nada, era só esparro de uma saudosa compatriota de Hitler (um amigo meu disse que eu devia ter perguntado se ela estava com saudade do Nazismo, quando contei essa história toda).

A história mais típica de todas. Caramba, juro que essa é a última vez que conto isso. Reveillon. 31 de dezembro. Na frente da Sacre Couer. Eu e Pedro encontramos João (que saudade!), Clarinha, Julio, Mateus e mais uma galera. Cachaça, cerveja, vinho, champanhe e uma smirnoff ice. Depois de meia noite a gente ainda estava perdendo em gritaria para os italianos, mas Pedro começou a fazer o maior sucesso. Bonne Anne! Duas horas da manhã, estava completamente embriagado. Vamos voltar para casa. Os meninos seguiram o passeio. Entramos no metrô (Garre do Nord). Nego sendo preso adoidado. Enfrentando a polícia para se fuder. E tropa de choque é a mesma coisa em qualquer canto. Bate primeiro para depois perguntar. Depois de ver umas quinze prisões, finalmente conseguimos entrar num RER que nos levaria para perto de Nanteuil (o trem só sairia de 9h). Quando começou a andar um negão do meu lado grita: Seus otários, bando de corno, nem me pegaram! Para quê? Entraram uns trinta policiais metendo porrada no cara e tiraram ele do trem. Meia hora depois Graça pegou a gente em Mitry Claye. Coitada!

Depois faço outro post contando como foi meu primeiro mês de 2006.

7.2.06

O ano da virada

Na minha Sexta Série eu fiz um livrinho lindo, que tinha suásticas coloridas na capa e foi assunto de muita discussão entre as professoras do Instituto Capibaribe. É que além da capa tinha uma uma redação que foi super elogiada, e lida em voz alta na frente da turma, por Débora Suassuna e uma outra sobre o Carnaval de Olinda.

Eu sempre ia passar os Carnavais da minha infância nas casas que minha mãe alugava. Um saco! Eram os pirralhos (Tuti e os irmãos Cavani) brincando de boneco e eu meio ali perdido. O que mais odiava era quando Inalda ou Ana Simões vinham me obrigar a participar de algum bloco, Tereza era a única que não tinha esse tipo de atitude.

Naquele ano, 1989, não sei porque motivo acabei ficando o Carnaval com meu pai. Ele não era um cara de se programar. Muito menos de pensar coisas para fazer com os filhos. Muito menos numa Terça-feira de Eu acho é pouco. Fomos juntos. Deve ter sido um saco para ele, mas para mim criou todo o prazer mítico de viver esses quatro dias.

Me lembro de procurar o bloco pelas ruas de Olinda. Parecia uma coisa tão importante. Correr para pegar a chegada no Bêbado e o Equilibrista. Tomar meu primeiro porre de lança, das mãos do meu pai. Me interessar pela primeira vez por uma menina que não se chamava Helena Marques (e que anos depois veio me dar um beijo num Sábado de Zé Pereira, como será o nome dela?).

Mas na minha redação o que mais me chamava a atenção era uma disputa que houve. Sobe ou não sobe a Misericórdia? Claro que sobe. "Criança sobe de ré!", me ensinou papai. E a frase parece que acabou virando uma tradição familiar (ou já era?). Com certeza estava muito mais fresca do jeito que escrevi no meu livrinho, mas a memória continua me dando muito prazer. E o bloco também. Apesar de só ter entrado na festa de 3 horas da manhã, dada a falta de ingressos. Eu acho é pouco.

2.2.06

Desorganizando posso me organizar




Viajar é preciso








Umas poucas fotos da segunda parte da viagem. Barcelona, Madrid e Lisboa. E uma foto do pirralho que eu estava mais morrendo de saudade, com a roupinha que eu Graça e Pedro demos para ele.