10.8.10

Distâncias

Estava na casa do meu pai quando chegaram dois colegas dele. Me levaram para a casa de minha mãe. Nessa época, meus irmãos todos estudavam de manhã. E foram horas e horas sozinho, sem nenhuma informação. Enquanto Maria, que tinha vindo comigo, chorava e comentava baixinho alguma coisa com a empregada da minha mãe.

Fiquei numa varandinha que dava para o pergolado, da parte de trás da casa, até um grito que marcou a minha vida.

- Foi minha mãe ou foi meu pai………….?

Marta soltou tudo o que tinha dentro dela e segurou o grito durante todo o longo percurso enquanto eu atravessava o quarto de Inalda, corria o corredor, pulava as escadas, atravessava sala e cozinha e me jogava para abraça-la na entrada de casa.

Esse grito se chama impotência.

------------------------------------------------------------------------------------------------------

Anos depois estava no Aeroporto do Galeão. Meu filho e a mãe dele do outro lado do vidro. A dor de caminhar contra a direção do que você mais ama na vida é algo que não se repete. Foram os passos mais silenciosos que eu me lembro de ter dado.

E voltei. E voltei. E voltei. E trouxe eles de volta finalmente.

Felizmente, consegui colar metade da separação. As despedidas de Chico vão ficando cada vez mais tranquilas. Qualquer dia vai ser ele que virá me dizer que está indo ali passar um tempinho em São Paulo. E
aquele momento apenas vai ser mais uma prova de que os caminhos de pai e filho podem até se distanciar, mas algo em quem somos registra para sempre os passos de um e do outro.

------------------------------------------------------------------------------------------------------

Sábado passado estávamos eu, Xandinho e Tuti na varanda da casa da minha mãe. Na companhia de três garrafas de whisky. Ela deitou ali pela sala, como quem faz questão de nos deixar à vontade e de cuidar ao mesmo tempo.

Mais uma noite de despedida. Fiquei ali testemunhando os dois irmãos trocando confidências.

O choro viria depois. Mas lágrimas também constroem. E eu preferi nem ir atrás para ver. Aquele mesmo líquido que Baggio deixou jorrar em 1994. Mas dessa vez sem nenhuma euforia. Coisa de homem. Coisa de adulto. Coisa de quem sabe que chegou a hora de enfrentar o mundo.

Sento hoje de novo na varanda da casa de minha mãe, olhando para o lado de fora e tomo uma dose de whisky para comemorar a nossa distância.


Era para ter uma lição muito importante da minha vida nesses dois dias tristes e nesta noite feliz. Espero que alguém saiba ler, porque eu tenho de trabalhar agora.