1.10.10

O verde é uma onda ou fica na marola?

Se Marina passar dos 10% terá superado as expectativas de todos os seus correligionários. Chegando aos 15%, terá deixado uma marca que pelo menos nos próximos quatro anos fará o PV parecer ter deixado o estado nanico que sempre o acompanhou. Caso atinja os 20% pode até gerar um Segundo Turno, em que os dois candidatos obrigatoriamente vão ter de assumir compromissos com a questão do desenvolvimento sustentável.

Muita gente fala que o povo brasileiro não sabe votar. Eu acho que as vezes é preciso analisar com mais cuidado as lições das urnas. Mas o eleitorado de repente passou a se preocupar com o meio ambiente?

Tenho impressão que não é bem assim.
A Região Metropolitana do Recife tem questões ambientais seríssimas e que ainda não recebem a devida atenção, especialmente do governador Eduardo Campos. Mesmo o candidato do PV no Estado foi evasivo ao deixar de enfrentar as polêmicas ambientais que quase sempre jogam em conflito empresários e ambientalistas. Talvez por isso esteja tão mal nas pesquisas, em comparação com a candidata do seu próprio partido.

Vejamos o caso mais recente. A presidente da Caixa Econômica Federal esteve na semana passada no Recife para liberar R$500 milhões para uma obra de logística entre os municípios de Jaboatão e Cabo de Santo Agostinho. Na ocasião, a Moura Dubeux (empresa beneficiada pelo empréstimo milionário) fez questão de dizer que o investimento começaria de imediato com a terraplanagem da área.

O interesse dos prefeitos obviamente é enorme para que as empresas venham e se instalem nos municípios e a competição para atrair as maiores indústrias é inevitável. Mas foram feitos os estudos ambientais para liberar esse gigantesco aterro? Afinal, Jaboatão e Cabo foram vítimas recentemente de enchentes. É natural que o Governo Federal faça a liberação das verbas sem a comprovação da viabilidade das interferências no meio ambiente? Com o aterro, com certeza algumas áreas serão prejudicadas, mas ainda não se falou em remoção de famílias.

A maioria vai achar que isso está muito longe do debate de quem está nas ruas. Acabei de chegar da comunidade Novo Horizonte, que era conhecida antigamente como Suvaco da Cobra. As pessoas ali comemoravam a construção de quatro pontes pelo Governo Municipal e contavam com muita tranqüilidade como se deu o processo de degradação da Lagoa Olho D`Água nos últimos 40 anos. Por sinal, elas continuam esperando as verbas do (fantasioso?) PAC, que teoricamente deveriam ter chegado por ali.

A Moura Dubeux tem um histórico de desrespeito ao planejamento arquitetônico e ambiental. Basta lembrar das duas torres construídas no Cais José Estelita, que desvirtuaram completamente a paisagem do Centro do Recife. Mas isso não é o mais grave. Mais grave mesmo é que o Porto de Suape já causou alterações ambientais gravíssimas no nosso meio ambiente.

Quando eu era criança e morava em Piedade adorava ver os maiores pegando onda. Na minha pranchinha de body boarding ensaiei um aprendizado do surfe, mas quando virei adolescente no Colégio Marista já tinha um colega que jogava bola com o pé de madeira, porque um tubarão o atacou ali na divisa entre as cidades de Recife e Jaboatão. O uso da praia, mais até do que os alagamentos nas favelas, é uma questão que atinge os cidadãos de todas as classes sociais e idades. E a economia, já que ninguém imaginava há 20 anos o prejuízo que nosso turismo teria com esse desastre ecológico.

Evidente que muitos podem dizer que Marina está ganhando votos porque Dilma se mostrou favorável a algumas questões como o aborto e depois voltou atrás. Ninguém gosta de um candidato sem palavra. Mas volto a insistir que os políticos ainda não viram a importância que a população já está dando ao respeito ao meio ambiente.

Para mim, Recife é um exemplo disso. Bastaria ver as mobilizações em defesa do Parque Dona Lindu, do Sítio da Trindade e do Hospital da Tamarineira e a reação gerada pela construção das duas torres pela Moura Dubeux. Como sempre, a classe média vem primeiro, porque tem mais acesso à leitura. É esperar para ver se logo essa preocupação não estará na boca do povo que de tempos em tempos tem que deixar suas casas por conta dos alagamentos.