29.3.06

Narizinho quebrado

São Francisco de Assis era feliz?
Dona Raquel era feliz?
Minha mãe ainda pode ser feliz?

Pensava aquilo ali. Deitada na cama. Felizmente o último cliente estava indo embora. Por que alguns caras demoram tanto? Parece que ficam procurando um ombro para se encontrar. Ops, encostar. Acho que já bebi demais hoje. Seis caras, nenhuma trepada boa, pelo menos o primeiro era um cara super inteligente. Pena que conversa não faz a gente gozar. Tive que descer para fazer o babaca ir embora da minha casa. Gordo, feio e o pau dele ainda é fino! Queria distância logo.

Ele pelo menos me ofereceu carona. Eu tenho carro, respondi. Só que resolvi ir andando ali comer alguma coisa. Sei lá, acho que foi pressentimento mesmo, pois nunca faço isso. E logo que entrei na padaria vi aquele menino e fui sentar na mesa dele. Gostei de deixar ele errado. Encontrar a puta que você nem conseguiu comer ontem, indo para a padaria junto de casa não é o sonho de nenhum dos meus clientes. Mas até que o estranhamento dele me causou um certo interesse.

- Estou indo para o trabalho.
- Estou saindo do meu.
- Eu nunca tinha feito isso.
- Você não precisa me explicar.
- Sou casado... Para você isso deve ser super comum.
- Para dizer a verdade eu apenas não sei.
- Evita perguntar né?
- Nem isso. Você tem filhos?
- Só ela.

Eu sei que vai parecer ridículo dizer isso, mas ver Maria com a fardinha do Instituto Capibaribe me deixou louca para conhecer aquele cara. A menina era bem diferente de mim. Despachada. Nada haver com a pirralhinha queridinha de Dona Raquel, que fez questão de fazer primeira comunhão só para não decepcionar a velhinha. Mentira, né? Pelo menos, eu ganhei uns super presentes no meu batizado. Mas é como se tivesse sido corrupção bem feita, tráfico de influência sem que ninguém tenha falado no assunto. Não disse ao meu queridinho que tinha estudado no Capibaribe. Só fiquei ali espiando a filhinha dele.

- Olha, quando estiver afim é só ligar.

Essa foi foda. O cara brocha e ainda recebe um vale. Não podia ter me saído pior. Mas era que também não ia ficar ali conversando com o pai da menina na frente dela.

6.3.06

Amigos

O bom é que eles são para todas as horas.
Para tomar 10 ou 12 saideiras.
Para perder de você mesmo jogando melhor.
Para ouvir suas merdas mesmo que não façam sentido.
Para rir da sua desgraça.
Para chorar com o nosso prazer.
Para dizer que tem vários caminhos.
E para te ajudar a seguir o seu coração.

1.3.06

As mais ricas cinzas

Uma flor na mão dela;
Marca a chama que não se apaga.

A neve que cai devagarinho;
Aquece uma paixão dividida.

Uma foto na hora exata;
Lembrança do amor passageiro.

Até o furo que nunca fiz;
É saudade do proibido.

A leveza da trapezista;
Faz dos opostos parecidos.