27.9.07

A pintura

As pessoas gostam de colocar placas nos estádios para lembrar dos gols bonitos. O quarto gol do Brasil contra os Estados Unidos, na final da Copa do Mundo merecia mais que isso. Um belo quadro cairia bem. Só assim para mostrar o lampejo, o calcanhar, a malícia, o drible seco, a pontaria certeira e a feminilidade. Devem existir placas para gols feitos por mulheres, mas a número 10 do Brasil (como é bom encher a boca para dizer que temos um(a) jogador(a) para vestir essa camisa) merecia inaugurar uma nova tradição. Assim como existem bonitas estátuas dos grandes craques na frente dos estádios, gostaria de ver um belo quadro em um local estratégico para lembrar aquela pintura, pois se o futebol não é arte ao menos merece ser retratado plenamente de vez em quando.

Qualquer que seja o resultado da final, o futebol feminino brasileiro impôs respeito, pois têm momentos que são tão importantes quanto um torneio inteiro.

26.9.07

Do lado de lá

Tenho impressão que todo repórter de Política deveria passar pela experiência da assessoria de imprensa. Estar do outro lado é uma das poucas maneiras de passar a entender como funciona a mente dos gestores e parlamentares.

Já trabalhei com gente muito diferente e a convivência menos conturbada com os parlamentares me faz entender bem direitinho como algumas pessoas se relacionam com a mídia e com o público.

Byron Sarinho por muito tempo foi um modelo que admirei. Trabalhava demais. Em excesso. Não sei como arranjava tempo para namorar e ainda ficar tomando uma na sua cadeira preferida do Dom Pedro. E não tinha nenhum interesse demasiado pelo que diziam dele, queria ser reconhecido sem ir atrás dos jornalistas. No máximo mantinha contatos com pessoas de quem era fonte há anos.

Mas o comunista não era nenhum bonachão. Eu já fui assessor de um cara que fazia atos heróicos dentro de uma gestão complicada e não deixava que eu divulgasse. Era engraçado mesmo o perfil dele, vai ver por isso não prosseguiu na política.

O inverso é muito fácil de identificar. Raul Jungman, Silvio Costa são pessoas que vão fazer o que puderem para chamar a atenção dos jornalistas certos. Engraçado é notar a dificuldade que alguns parlamentares têm quando saem da província e chegam no Congresso, ao perceberem que as muitas lentes têm sempre os mesmos focos.

Tem gente que realmente só se torna fonte por relação de confiança. Recentemente, almocei com um deputado. Ele começou falando como vinha de uma elite histórica pernambucana. Esse tipo eu tenho papo certo, aprendi com o grande Wilson Campos, ainda nos tempos de Jornalismo esportivo. Contei as histórias da minha bisavó e da força da mulher pernambucana. Ela chegou a eleger dois deputados quando o combinado pelo meu avô era deixar uma vaga para a oposição. Quando o deputado descobriu que eu era neto do prefeito Novais Filho, passou a me tratar como se fossemos de uma mesma grande família.

24.9.07

Meu primeiro assalto à mão armada

O pior para mim é o depois.

Hoje eu nem botei meu filho para dormir. Mesmo assim, voltei da casa dele achando que todo mundo tinha uma arma escondida na cintura.

Ridículo, entre a Praça de Casa Forte e o Hospital Agamenon Magalhães atravessei a rua umas três vezes para desviar dos suspeitos. Ainda bem que encontrei um cara que adoro no meio do caminho.

Quando eu era pirralho e fui roubado pela primeira vez passei um tempo morrendo de medo de andar na rua. Me achava super medroso, levaram uma bicicleta de mim sem nem mostrar uma arma. Eu não gostava mesmo daquela Cruiser vermelha.

Agora tenho um pouco de raiva. Não consigo evitar o pensamento que tive na hora. Devia ter pulado em cima dele, tive muita certeza disso, mas ai apareceu outro cara que estava dando cobertura. A arma do primeiro não me passou muita confiança, parecia antiga. Já o outro cara parecia bem mais mala e tinha um 38.

O ódio é por não ter reagido na frente do seu filho. Por mais que eu tenha dito a ele: "Chico ainda bem que você estava aqui, senão eu poderia ter morrido nesse assalto", quando vi que tinha um outro fazendo a segurança.

Passou. Agora é refazer a agenda. Pagar o prejuizo. Comprar outro celular. E tirar os documentos perdidos. O carro já foi consertado.

13.9.07

Putz

Agora que vi, o Brasil ganhou do Mexico. Assisti ao jogo em um bar aqui em Brasília, mas depois da absolvição de Renan Calheiros eu simplesmente nem notei. O jogo passou sem eu ver. Para mim, a derrota foi tão grande que nem deu para ver o outro lado. Por sinal, devia ter perdido.

12.9.07

Vergonha

Trabalhar no Congresso Nacional não é nada fácil.

Olha, as pessoas chamam um monte de coisas de pragmatismo. Mas é contra qualquer lógica 40 deputados pragmaticamente votarem pela absolvição de Renan Calheiros. Se vier amanhã ou depois a confirmação da renúncia à Presidência do Senado e de um acordo com o Governo Federal não será surpresa.

Espero que acabe logo minha ligação com o PT.

Mas a verdade é que vou continuar trabalhando aqui. Engraçado que as pessoas que gosto mesmo aqui são dos gabinetes de Chico Alencar e do Ivan Valente. Mas, mesmo eles, se incomodam com o peso do ambiente. Ninguém está imune a ficar achando que o vizinho de mesa de almoço é conivente com o desvio de verbas na merenda das escolas de SP, PE, RS.

Existe limite para tudo no mundo.

Me lembro com um prazer enorme de fazer silk screen com Paula no Poço da Panela. A camisa vermelha ganhava uma marca de paixão. Pois eu quero poder mostrar a meu filho a Praça de Casa Forte em dia de eleição e dizer que a gente pode acreditar em quem está de amarelo. E depois dizer que uns são melhores e outros piores, mas que eles discutem entre si.

Contradições vão continuar existindo.

Me lembro de perguntar ao meu pai se era melhor Tancredo ou Maluf. E ele me disse muito claramente que nenhum dos dois prestava. Mas dentro disso ai quem é melhor? Ele não devia saber fazer política. Eu não sei. Conversei com Carlos Wilson hoje e fiquei feliz de não apertar a mão de Paulo Maluf. Uma sobrada não é um murro...

Será que tenho chance como vendedor de sanduíche natural?

11.9.07

It is a long way

São Paulo-Recife em 18 horas. Muito bom fazer isso. Só não faço a próxima viagem de bicicleta porque ficaria sem condições de ir anotando as minhas elocubrações.

As mudanças da paisagem. As laranjeiras estavam cheias de frutas. O enormes eucaliptos vinham com um out-door: Chamex: crescer com responsabilidade é o nosso papel! Em Ribeirão Preto a cana parece uma outra planta, de tão bem cuidada.

Os conjuntos habitacionais de São Paulo. Parece que eles nunca vão acabar de aparecer. Mas é legal que em geral vêm com uma grafitagem. Dá até um certo charme periférico aos Cingapuras da vida.

Escrevi uma carta. Duas para ser mais sincero.

Algumas ligações do trabalho, para lembrar da vida.

- Não Joana, o deputado está reunido com a assessoria em Recife (e eu em algum lugar de Minas Gerais)

Depois um texto de abertura para um projeto a ser apresentado. Só falta mandar Chico passar para a letrinha dele e scannear. Acabei pensando em um outro para apresentar na TV Câmara.

No meio resolvi tirar algumas fotos. Só não cedi à tentação de assistir aos Goonies. O laptop ficou dentro da mala como pensado desde o início.

Recomendo a Rodoviária de São Paulo, tem uma baguete maravilhosa. Quando fui comprar a minha tinham duas senhoras e uma delas dizia com água na boca: Ele adorava essa de frango com bacon...

Chegar em casa. Sensação boa. Acho que preciso ir trabalhar. Seize the day!