19.6.08

Caminhar é preciso


Saudades do gordinho que comandava o trânsito no Recife. Lembro que quando ainda trabalhava na CTTU alguém me disse que a única maneira de se fazer um corredor de ônibus na Conde da Boa Vista era proibir o tráfego de veículos comuns. E ponto. Duas faixas para cada lado. Não precisava de grandes obras. Era, naquela época, só coragem e decisão política.

Ontem, como faço quase todos os dias, desci na Conde da Boa Vista às 18h30. Saí da Rua da Aurora e fui ultrapassando os ônibus. Fiquei pensando que iria na mesma velocidade. Engano. Fui ultrapassando todos eles. Quando passei pela Riachuello vi um ônibus que servia para mim (Alto Santa Isabel). Passei e continuei ganhando distância. Na Católica ainda pensei em subir em um Casa Amarela-Nova Torre.

Resultado, meia-hora depois parei na última parada da Conde da Boa Vista. Esperei um pouco e peguei o Alto Santa Isabel que tinha visto pouco depois da antiga Mesbla. Perguntei à cobradora e ela me disse que tinha levado uma hora para fazer o percurso da Rua da Aurora até ali. Considerando que tenha andado a quatro quilômetros por hora, seriam dois quilômetros de distância (ou seja, o ônibus fez uma velocidade média de 2km/h).

Putz, algum candidato a prefeito por favor contrate um engenheiro de trânsito para fazer esses cálculos. Na minha época de Prefeitura a pior velocidade média do Recife era no corredor Rosa e Silva-Rui Barbosa. Era algo entre 9 e 13km/h nos horários de pico. Ou seja, a grande obra desse ano foi atrasar a vida das pessoas. A Prefeitura conseguiu criar o que é, disparado, o corredor de tráfego mais lento do Estado. Depois de um investimento milionário, claro!!!

Isso aqui é só um desabafo. Vou comprar um carro logo. Mas vou continuar com certeza de que Ivan Carlos Cunha estava certo. Não se pode brincar com o trânsito. É cálculo. Coragem. Decisão. Lembro dele chateado porque João Paulo teve medo de ver o fracasso da Inversão de Trânsito de Boa Viagem. Foi um sucesso!

Por sinal, às vésperas da eleição, Boa Viagem também está um caos por conta da obra do corredor de ônibus da Domingos Ferreira. Esse momento eu não entendi. Mas a obra parece ser importante. Os engenheiros de trânsito com quem convivi na CTTU tinham diversas discussões sobre a melhor maneira de realizar, mas todos eram a favor da obra em BV.

16.6.08

O candidato salada


Em Gravatá faz sucesso o Bar da Salada. Com uma bela vista do Agreste pernambucano, o local ficou famoso pela picanha no ponto e por outras especialidades de churrasco. O proprietário, no entanto, faz questão de servir uma bela porção de verduras orgânicas para os seus clientes. No almoço deste domingo, fiquei notando como a maioria dos freqüentadores deixava absolutamente intactos a rúcula, alface, palmito, mini-milho e até mesmo as lascas de queijos branco e do reino.

Poucos pernambucanos aprenderam a deixar de lado aquela insossa, e tradicional nas nossas mesas, salada de tomate, alface e cebola. Quando têm uma oportunidade de aproveitar uma comida bem diferente, com molho especial e vários saborosos e coloridos ingredientes, mantém o preconceito.

Essa imagem me trouxe à mente a pífia atuação nas pesquisas até o momento do candidato do PMDB em Recife. Raul Henry tem praticamente todas as credenciais políticas para ser um dos mais fortes pretendentes a vitória na capital pernambucana. Tem apoio dos senadores Sergio Guerra e Jarbas Vasconcelos, vasta experiência no Executivo e um perfil extremamente leve. Para mim, está nesse ponto o dilema.

Os recifenses ainda não entraram no momento político que pode favorecer Fernando Gabeira no Rio de Janeiro e Soninha em São Paulo. Candidatos ligados ao setor cultural, com alguma ligação aos movimentos sociais (ecológico, gay, de mulheres...), que se apresentam como possíveis surpresas nos dois maiores municípios do País.

Por aqui, ainda reinam absolutos conceitos como o de votar em quem vai ganhar. Sem falar na prática da cooptação de lideranças por benefícios (muitas vezes empregos) diretos das gestões públicas ou da compra de votos, travestida ou não de pagamento para que os eleitores façam campanha.

Raul Henry, de quem ouvi com muita satisfação um relato indignado sobre o nível de falsidade da política em Brasília, pode até partir para a rasteirice das acusações mal fundamentadas e da compra de votos. Características normais das nossas eleições. Mas seria interessante e educativo ter um candidato que fizesse um papel diferente da buchada, rabada e mão de vaca da nossa política tradicional.

O outro Raul, por sinal, tentou fazer esse papel nas eleições passadas, mas não tem as mesmas credenciais. Seu estilo falastrão é o inverso disso. Em Brasília, disputa com Silvio Costa o posto de bobo da corte pernambucana. E sua passagem pelo Governo Fernando Henrique Cardoso lhe deixou como bagagem alguns processos que lhe deixam vulnerável. Qualquer sopro desmonta aquele papo todo de ética.

5.6.08

DO BLOG DO JUCA

Achei interessante esse artigo do Blog do Juca. Mas...

A gente tem sempre que notar que tendemos a nos achar, como pernambucanos, no marco inicial do Universo.

Os conflitos que aconteceram na Ilha do Retiro e nos Aflitos acontecem em outros estados, nem por isso se deve incentivar.

O incentivo à hostilidade com os visitantes, do lado do Sport, vem desde quando o time foi a Brasília enfrentar o Brasiliense.

Percebi isso quando estava fazendo a cobertura.

O Typhis Pernambucano
Por Roberto Vieira

De repente, Pernambuco se tornou a Argentina dos anos 60.
Wanderley Luxemburgo diz que tem medo de jogar no Recife. Abel Braga exclama sobre a nossa prostituição. O presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, deseja retirar os jogos do nosso estado. Rubens Lopes, que assistiu o conflito no jogo Náutico x Botafogo ali perto. Na Austrália. Tudo curiosamente depois das derrotas dos seus clubes.

Tudo no dia 2 de junho. Dia em que se completam 184 anos da Confederação do Equador.

O futebol brasileiro foi tomado por uma aura de santidade nunca vista. Jamais houve quebra-pau entre PM e torcida em Porto Alegre. Na Batalha dos Aflitos, os jogadores do Grêmio não chutaram o árbitro. A PM de São Paulo não evitou um desastre no jogo Corinthians e River Plate quando os torcedores ameaçaram invadir o campo. São Januário não presenciou cenas dantescas na partida entre Vasco e Sport.

O Maracanã nunca foi invadido. Nunca teve mortos na quebra de grades de proteção. Nunca antes na história deste país um estádio assistiu a confusões entre jogadores e polícia.
O Brasil não tem prostitutas.
O Brasil não tem marginais.
O Brasil não tem violência.
O Brasil não tem desigualdade social.
O Brasil é um oásis de felicidade e desenvolvimento na América Latina.

Exceto por uma chaga. Exceto por uma ovelha negra. Exceto por uma pústula:
O Estado de Pernambuco. O resto do Brasil esqueceu. Pois a amnésia é abundante nesta terra que tudo dá. Mas Pernambuco não se rende. Nunca se rendeu.

Nem em 1817. Nem em 1824. Nem hoje.

As manobras que tecem nos bastidores do futebol brasileiro são mesquinhas. São injustas. São fratricidas. O Estado de Pernambuco é muito maior que as calúnias de Wanderley Luxemburgo, Abel Braga, Bebeto de Freitas e Rubens Lopes.

Muito maior que um jogo de futebol. Pernambuco é mais que um estado. É um sentimento. Uma saudade. E o nosso amor por Pernambuco não está à venda. Não tem preço.

Mesmo nesse tempo de trevas esportivas. Tempos em que cabe recordar os versos de Camões que constavam do jornal Typhis Pernambucano, editado por Frei Caneca: "Uma nuvem que os ares escurece sobre nossas cabeças aparece."