19.9.10

Assessor de imprensa é jornalista?

Uma ex-namorada me mandou um texto interessante, publicado no Estadão, sobre a diferença entre as profissões de jornalista e assessor de imprensa.

Sempre tive dificuldade para traduzir os meus trabalhos como assessor de imprensa para o inglês, já que na língua de Shakespeare as duas profissões têm seus espaços muito bem delimitados.

Aqui no Brasil, uma questão cultural levou ambos os profissionais a assinarem o mesmo código de conduta. Me atrevo a dizer, para ódio da maioria dos que exercem a profissão de assessor de imprensa, que essa é mais uma obra do “jeitinho brasileiro”.

A história do jornalismo brasileiro é, na verdade, marcada pela relação de poder que as elites sempre exerceram nas redações. Assim me contava meu saudoso avô, que me deu de presente sua carteira de repórter do Diario da Noite, assinada em 3 de fevereiro de 1938: Rio de Janeiro, Adelino Christovam de Amorim.

O documento chegou às minhas mãos junto com uma flor de papel, que deve ser fruto das noites boêmias da Capital Federal, no segundo quarto do século passado. E a assinatura de uma das mais emblemáticas figuras da história do nosso jornalismo: Director: Austregésilo de Athaide.

Acho que temos de lutar a favor da liberdade de expressão das diferentes opiniões existentes na nossa sociedade. Discordo do ponto de vista de quem diz que os veículos comandados por pouco mais de uma duzia de empresários represente a caleidoscópica sociedade brasileira.

Mas realmente não sei se a simples divisão da categoria ao meio traria algum resultado ? Nos meus anos de prática, conheci quatro tipos de profissionais e tenho amigos entre todos estes grupos:

Aqueles que não compreendem nem o básico do contexto político.

Os que, declaradamente ou não, escrevem o que o patrão deseja.

Os que tentam dar um tom mais próximo da sua visão, mas sabem se adaptar ao necessário para continuarem nos seus empregos.

E os que têm uma visão de mundo tão forte que não conseguiriam redigir nada sob as linhas ideológicas do empresário-político que é proprietário ou comanda ideologicamente uma redação.

Evidentemente, no dia-a-dia as pessoas passam facilmente de uma posição para outra. E ao longo dos anos quem era um sonhador vira um infeliz reprodutor de verdades alheias (também conhecidas como releases).

No meu caso particular, já entrei numa redação sabendo que não conseguiria esconder a emoção que corre nas minhas veias e as idéias que tenho no cérebro.

Diante disso, fiz uma opção simples. Depois de sair da Folha de Pernambuco por opção, entrei no Jornal do Coummercio no caderno de Esportes. Não imaginava eu que ali também a política exerce uma forte influência.

Mas isso não é o mais importante. O que considero mais chocante na minha vivência são os grandes profissionais que deixaram o Jornalismo. Com certeza a maioria dos que que convivi que expunham nos seus textos a verve de um repórter que escreve com o sentimento próprio.

Só vim a trabalhar em uma editoria de Política, em Brasília. Mas dividi algumas conversas com Marta Samico e Alberto Lima, que era para mim o exemplo de repórter de Política, na minha época ainda de estagiário. Desde então, nunca conheci ninguém que se dedicasse tanto a ler Diario Oficial e chafurdar as incoerências dos nossos governantes.

Como muitos outros (citaria meus professores, Samarone, Marinita...), Alberto Lima é mais um exemplo – espero que feliz para ele – de um repórter que deixou o ofício. Vive em Paris e passou em um concurso do Itamaraty. Acho que teve uma sorte melhor do que o meu avô, que veio para Recife e virou advogado, mas no fim da vida curtiu bastante a memória das aventuras na antiga Capital Federal.