Eu lembro quando fiz a opção pelo P-Sol.
Em 2002, morava no Rio de Janeiro, Ronaldo e Rivaldo tinham
feito aquela dupla infernal na Copa do Mundo e as eleições indicavam a primeira
vitória de Lula para presidente da República. Fui para um pequeno encontro na
casa de uma tia minha no Arpoador e o deputado federal Chico Alencar colocou em
palavras aquilo que eu queria dizer.
“O PT está chegando ao poder, mas não podemos nos contentar
em ganhar as eleições. Temos que lutar para avermelhar esse Governo. Temos uma
tarefa que será dura, porque sabemos que o caminho mais difícil é o da
coerência e o mais fácil leva aos conchavos com os grupos econômicos
tradicionais, com as oligarquias e é muito possível que não consigamos segurar
esse barco. E se tivermos que sair do partido para continuarmos a lutar por
nossos ideais, a luta vai ser mais dura, mas também será ainda mais importante”.
Eu, que já tinha vivido a sensação de estar vivendo uma
gestão petista na Prefeitura do Recife, me identifiquei completamente com
aquele discurso. Voltei para o Recife e formei a ala Chico Alencar em um
gabinete do PT. Do outro lado da sala, Rodolfo Cabral formava a ala Ivan
Valente. Fizemos tanta pressão que conseguimos levar Roberto Leandro para o
único grande encontro do Bloco de Esquerda do partido no Recife.
Fiquei extremamente feliz pelos elogios de Paulo Rubem pela
coragem que o deputado estadual teve de participar daquela reunião que tinha
sido organizada para discutir a reação do grupo ao escândalo do Mensalão. E
comemorei o voto em Chico Alencar quando ele, como petista, expressou o
sentimento de milhares de filiados e de boa parte da sociedade que se
envergonharam com a tentativa de impedir a criação da CPI do Mensalão: “O fato
de governos anteriores, em especial o de FHC, abafarem CPIs, não nos legitima a
fazer o mesmo. A política é, de fato, muito dinâmica: os "hereges" de
ontem são os "companheiros sensatos" de hoje...Quem dentro do próprio
PT nos desmereceu, classificando-nos como "braço tucano" ou
"lacaios da oposição", agora reconhece que a operação anti-CPI nos
desmoralizava na opinião pública, reforçava suspeitas de envolvimentos em
ilícitos e se chocava com a história do PT”, dizia ele.
Fui para Brasília. E novamente me encontrei com o deputado
Chico Alencar. Conheci pessoalmente Ivan Valente. Mas agora já trabalhávamos em
lados distintos, pois eu estava como assessor de imprensa do então petista
Paulo Rubem Santiago. Quando veio a briga final do PT com o parlamentar, achei
que era finalmente a hora de unir o discurso à política partidária e que a
filiação ao P-Sol era a alternativa da coerência.
Naquele momento, Edilson Silva teve a coragem e o
desprendimento de dizer que abria mão de uma candidatura a prefeito do Recife.
Aquilo juntava praticamente toda a minha esperança, porque costumava dizer que
João da Costa era o Delúbio Soares do PT de Pernambuco. E tive a cara de pau de
pedir pessoalmente aos deputados Chico Alencar e Ivan Valente que fizessem um
apelo para a filiação de Paulo Rubem ao P-Sol. Infelizmente, o parlamentar
optou pelo PDT e forçou o pequeno partido a repetir pela segunda vez uma mesma
candidatura majoritária em Pernambuco.
A história continua com uma candidatura derrotada à
Prefeitura de Jaboatão e eu já não tinha mais clima de trabalhar com os
pedetistas, pois tinha virado traidor por ter declaradamente feito campanha por
uma opção que era o P-Sol, mas que era principalmente a coerência de um
político que tinha uma história de vida a defender. Mas ainda fui trabalhar na
Prefeitura de Jaboatão e do meu celular Elias Gomes chamou Paulo Rubem para
participar do Governo Municipal. Assim como no início da gestão de João Paulo,
achei que tinha feito meu trabalho e pedi para sair.
Dez anos depois, estava de novo pisando no solo e sem trabalhar
com política. Comecei a atuar no Direitos Urbanos, porque acho que os partidos
estão longe de serem as únicas maneiras de se fazer política. Acompanho, de
longe mas com expectativa, a criação do Partido Pirata do Brasil. Mas tenho de
admitir que tenho agora exatos dez anos de dívida com Chico Alencar, Edilson
Silva e com o P-Sol. Lendo uma reportagem no último domingo que falava sobre a
política de alianças de um grupo do partido, resolvi declarar meu voto. Por caminhos tronchos também se chega a um caminho de
coerência. Voto 50!