24.11.07

Olinda

Sexta, depois do expediente.

Ele me chamou para tomar uma cerveja. Quando estávamos na segunda teve coragem de dizer que ela estava vindo passar uns dias. Percebi que chegaria a qualquer momento.

O reencontro foi de um silêncio espantoso.

Primeiro ele a abraçou carinhosamente. Amelia então colocou a cabeça no ombro de Júlio e o apertou. Quando eles finalmente se beijaram as lágrimas já escorriam no rosto dela. Me levantei e saí sem dizer nada. Guardando comigo aquela cena, que só eu presenciei e deixando as duas cervejas para ele pagar.

- As vezes a dor é tão aguda que mesmo sem saber o quê é preciso gritar.

No dia seguinte ele me acordou dizendo um monte de coisas. Tinham passado uma noite maravilhosa de sexo. Eu não podia entender de que aquele cara se queixava tanto.

Mandei ele entrar no banho.

- As vezes tenho vontade de deixar a água bater no meu corpo por horas para deixar os sentimentos escorrerem. A verdade é que comigo não funciona. Também já tentei correr e as vezes nem isso funciona.

Passaram o fim de semana quase sem se ver. Não puxei assunto. Ele me pareceu realmente transtornado com aquela situação. Mas ela continuava com o mesmo sorriso brilhante. Só se queixou dele ter lhe apresentado a alguém como sua amiga.

Sempre achei que seria bom para ele ir viver um mercado de trabalho maior. Mas ele nunca admitiu abandonar seu escritório. Afinal, eram anos de investimento. Um publicitário sabe bem o que vale a marca que ele mesmo desenvolveu.

A distância foi apenas a primeira barreira daqueles dois. Ele já tinha se apaixonado. Ela tinha tido alguns casinhos também. O reencontro na nossa cidade havia sido planejado por semanas. Mas eles só ficaram juntos de novo no domingo de noite.

Quando acordei na segunda-feira notei um bilhete deixado em cima do sofá.

Na semana seguinte juntei as coisas dele e comecei a arrumar. Ele deixou tudo que era mais importante jogado pelo apartamento. Não tinha nem mesmo se dado ao trabalho de dobrar as camisas do varal.

Coloquei o disco de Chet Baker, o meu preferido dos dele, como trilha sonora para aquela despedida. E acabei de ler o livro que Júlio havia me emprestado e eu nunca tinha passado do primeiro capítulo.

No dia do aniversário dele eu mandei tudo para o Rio de Janeiro. Guardei só o bilhete que ele havia deixado para me explicar tudo.

“Ela é a mulher da minha vida”.

Nenhum comentário: