2.11.10

Tropa e Pernambuco

Assisti ontem Tropa de Elite 2. O filme continua lotando os cinemas. Na véspera do feriado, era o único em cartaz que lotava as sessões do shopping aqui perto de casa.

Achei muito bom, apesar de ter criado uma expectativa tão grande que fez com que saísse do filme achando o longa-metragem meio careta.

Um pouco porque os personagens são muito simplificados. Li uma explicação em que Marcelo Freixo (deputado que inspirou o personagem Diogo Fraga) afasta as comparações entre Wagner Montes e o jornalista corrupto do filme. É preciso mesmo dar muitas explicações, porque a história diminuiu tanto a complexidade dos personagens que Hollywood bateu na porta. Mas o principal é ter em mente que aquilo é uma obra de ficção.

Nem todo mundo que vai ver o filme leu Meu casaco de general, acompanhou a política de segurança dos governos Garotinho e Sergio Cabral e menos gente ainda fez mestrado no Iuperj.

Todo mundo fez o maior bicho sobre a violência. Eu, sinceramente, fico achando que não faria mal nenhum levar meu filho de 11 anos para assistir. Ele vê tanta baboseira bem mais violenta na Internet, que um filme com fundo de realidade até poderia fazer algum sentido.

Fico, no entanto, extremamente satisfeito de ver a política brasileira retratada na tela do cinema. Me vi várias vezes no gabinete de Romário Dias e de Guilherme Uchoa, quando apareciam as cenas de discussão para a abertura da CPI das Milícias na Alerj. Mas ao mesmo tempo me entristece perceber que o Governo Eduardo Campos simplesmente acabou com as possibilidades de uma oposição mais incisiva no campo dos Direitos Humanos e da Segurança. Quem denuncia a violência em Pernambuco?

Encontrei o sociólogo José Luiz Ratton domingo, na Praça de Casa Forte. Sou amigo dele, mas não votei no candidato dele e acredito que a sociedade pernambucana precisa urgentemente de gente que conteste os números do Pacto pela Vida. Deputados, sociólogos, jornalistas.

O fim do PE Body Count é um indício de que está tudo errado. É como se em Pernambuco a questão homicídios estivesse resolvida?

Na minha aula de História dos Direitos Humanos, recentemente, tivemos uma discussão sobre os números da violência. Uma assessora do Governo do Estado não conseguia nem mesmo se colocar na posição de gestora, se confundia com o povo e depois dizia que estava recebendo salário do Estado.

Quem vai levantar os números da violência e levar para a tribuna da Assembléia Legislativa como fazia Roberto Leandro na gestão de Jarbas Vasconcelos? Quem vai dizer que Cavaleiro é dominado pelos grupos de extermínio e o Pacto pela Vida foi para Prazeres para beneficiar eleitoralmente o governador Eduardo Campos?

Vamos aprofundar os estudos sobre a violência no Estado. Estão mesmo diminuindo os números de homicídios? E a corrupção nas polícias? Evidente, nossa violência era causada muito mais por falta de oportunidades e no momento que surgem empresas e vagas a tendência é diminuir alguns números. Mas é preciso aprofundar as discussões para exigir a melhoria efetiva do Sistema (para usar a palavra da moda).

Eu só fico menos chateado por um motivo. Votei Edílson Silva para governador. Esperoque daqui há dois e depois quatro anos o P-Sol de pernambuco mostre que está seguindo a trajetória de Marcelo Freixo e Chico Alencar no Rio de Janeiro. Oposição crítica e sugestiva. Para Pernambuco seguir avançando. Cansado desse discurso de que está tudo muito bom!

Um comentário:

Inalda N. Baptista disse...

Dado, fique cansado mas não esmoreça!
Você mesmo faz este papel de oposiçào crítica e sugestiva. Procure seus pares, organizem foruns de debate. Pernambuco sempre foi espaço de luta, resistência e de iniciativas ímpares. Por outro lado, a corrupção compra tudo; a corrida eleitoreira derruba princípios e lá vai o Brasil, negando sua realidade, tornando-se imensa geléia geral onde todos dizem amém. Inalda N. Baptista