23.5.11

Gêmeos

Fui encontrar meu professor no meio da torcida do Santa Cruz. "Em cima do escudo", ele tentou marcar. Mas ali do lado do Arruda já era o bastante para um coração rubro-negro. Talvez outro dia, quem sabe numa partida que não seja a sonhada final, a do hexa, de preferência contra um time que não seja o Sport ou mesmo de Pernambuco.

Perguntei ao garçon o que ele recomendava para uma menina. Rindo da forma como falei com ele, ela pediu um cosmopolitan. "Por que me lembra a época que eu saia com umas amigas e assistia Sex and the city". E eu fiquei ali namorando o rosa, vermelho e branco daquela vodka. Enquanto devorava o meu whisky, ela sorvia o que queria da sua bebida.

Chico, do nada, me disse "isso me lembra alguma coisa". E eu me lembrei de um dia que meu pai foi me pegar no Instituto Capibaribe. Helena já era uma lenda na minha vida e eu resolvi falar. Afinal, Mariana era a segunda mais bonita da sala e estavam todos dizendo que ela queria namorar comigo. Poucas vezes eu achei que precisava falar com ele.

"Os dois somos muito tímidos". Era tão simples ter dito isso, na certa o velho entenderia. Talvez ele já estivesse muito longe dos 11 naquela época, mas todos nos lembramos de alguma maneira da nossa infância. Eu até hoje sonho com o cheiro de alho, ou de maresia, ou mesmo de uma úmida cocheira.

Mas de uma maneira diferente acabei repetindo aquela mania que meu pai tinha de ir para a torcida do adversário. Sem gritos, muito menos xingamentos. Não fui encontrar com os cabelos brancos do meu professor, mas dei um grande abraço em Duda antes do jogo começar. E quase fiquei feliz com a contida vibração dele.

Tem gente que veste a camisa todo domingo. Outros guardam a música no coração. Eu fico feliz pelas coincidências de ajudar amigos a lembrarem dos seus pais. Um catálogo de arte. Um desenho animado. Um filme que ficamos assistindo juntos no telão, enquanto o resto do mundo pula e grita um show de rock.

E continuo tentando me sentir bem nesse fim de maio. Comprei uma radiola nova para me preparar. Mandei fazer um móvel para os discos de jazz. Por incrível que pareça, era o mais simples e foi o único que ainda não foi entregue. Talvez o marcineiro tenha percebido o tamanho da responsabilidade que joguei nas mãos dele...

...até que chegou. Não tem retorno para o princípio. Se reinicio é de um novo começo. Como um prédio. Ele implode, deixa vestígios, então a gente arruma, faz a base que é para não ter que destruir de novo, arruma tudinho e finalmente estamos prontos para iniciar novamente a construção das duas torres.

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