19.8.12

Os clássicos também apaixonam


Cheguei às 15h30 e para meu espanto a fila já estava dobrando a esquina. Um picolé para aliviar o sol e vamos esperar que era dia de estreia. “Isso é para quem diz que pernambucano não gosta de teatro. O ingresso é caro, mas de graça a gente vem”, me disse o rapaz na minha frente, que nunca tinha ouvido falar de Magiluth.

Não bastava ser um Nelson Rodrigues. Melhor lugar do que o Santa Isabel está difícil de aparecer para uma encenação de Viúva, porém honesta. E pra quem conhece o grupo, ficava uma grande interrogação de como eles iam se sair com a interpretação de um clássico. Logo eles, tão apegados a um jeito livre de criar e interpretar.

O público estava bem diversificado. É verdade, o grupo vem criando um hall de fãs/amigos e na última temporada no Recife muitas vezes teve gente que ficou de fora por falta de ingressos. Mas para lotar o nosso palco nobre ainda apareceram os colegas de teatro, muitos críticos e jornalistas e uma quantidade enorme de gente atraída pelo preço (R$0) e a oportunidade de ver um clássico no Santa Isabel.

Mas o que é bom tem seu preço. Para ver essa estreia, foi baratinho. Quem conseguiu ingresso, precisou apenas esperar a fila do bilhete, a da entrada e depois os discursos de quem ia falar sobre o festival Letra e Voz. Mas eu queria mesmo era ver o Magiluth outra vez.

E seria mentira dizer que surpreenderam. Eles mantiveram a pegada, estão crescendo de qualidade há cada espetáculo e agora aparecem com uma superprodução. Eu tinha perguntado quem faz a viúva para Giordano Castro, só pra ouvir a resposta. “Todos. A gente se divide nos papéis”. Mas não tinha imaginado a desenvoltura que eles trocariam de personagens em cena, brincando com os espectadores que chegam a pensar que é tudo um grande improviso.

Será que é?  Na hora H, uma grande brochada. A cama de encher fica meia bomba e a cena da noite de núpcias demora a acontecer, mesmo quando os atores sobem no colchão inflável ele está com menos da metade do ar. E aquela confusão entre o texto e a brincadeira Magiluth de fazer teatro deixa a todos sem saber até onde vai a capacidade do grupo brincar com o seu público.

São homens que não têm medo de aparecer sem pênis para fazer o papel da noiva safada ou da viúva honesta. E quem costuma ver os espetáculos dos meninos já identifica os jogos de cena, que projetam um estilo próprio e irreverente. Que bom, o Magiluth está ganhando o país. Mas, façam o favor, voltem sempre. A casa estará sempre aberta, senão com a pompa deste domingo, com a cerveja gelada e o caldinho quente da receptividade pernambucana.

Risadas. O público pernambucano recebeu o drama de Nelson Rodrigues com sonoras gargalhadas. Luzes. O Santa Isabel merecia uma peça contemporânea para iluminar e rejuvenescer as suas estruturas históricas. Projeção. E o Magiluth fez muito bem em encarar um clássico para se tornar uma companhia de envergadura nacional.

Obrigado pelo presente Magiluth. Feliz de ter levado dois meninos de 12 anos e de sentir a vibração deles com uma produção que diz tanto do nosso passado quanto do futuro da arte que se faz nessa terra.