Apesar de falar muito nunca fui no Aterro Sanitário da Muribeca. Passo pela frente toda semana. E converso muito com o pessoal que trabalha lá, catando lixo, e as vezes com os policiais. Algum dia vou lá.
Semana passada fui na Fundac de Abreu e Lima. Digamos que continuo sem conhecer o ambiente, porque fui acompanhando uma visita da Comissão de Defesa da Cidadania da Assembléia. Ou seja, era uma realidade muito diferente do que Maria Sobral deve pegar toda semana (segundo Julia ela faz isso toda semana mesmo?). Mas só das conversas com o pessoal da administração já fico chocado com a distância entre mundo real e administração de recursos públicos.
Antes mesmo de entrar nas celas uma coisa que me chamou atenção foi a sinceridade com que os diretores da unidade tratam os assuntos. Os problemas são tão graves que eles esquecem de fazer Política e expoem mesmo as mazelas e até mesmo as divergências internas.
Cada quartinho é mais ou menos do tamanho da minha cama de casal e abriga entre três e cinco meninos. Quase todos estão sem colchões, pois foram queimados em rebeliões. Fora o tamanho, parece uma cadeia normal porque, além das grades, sempre tem uns posters de mulheres nuas pelas paredes.
Os meninos estão atualmente sem direito a banho de sol. É uma punição porque eles realizaram cinco rebeliões em 2005. Só que punição maior é ter de dividir aquele espaço com tanta gente. A Fundac era para abrigar 60 e já contou com mais de 200, depois de vários incêndios tem 180 atualmente.
Na minha mente imunda fiquei pensando a quantidade de estupros que aquele pessoal devia se vitimar. Mas depois soube que os estupradores eram vistos com muito preconceito e são até separados do restante dos adolescentes (talvez isso evite um pouco essa atrocidade). Outros que recebem cuidados especiais são pessoas que mataram as mães. Pareceu-me uma coisa muito sintomática.
A reforma da unidade custaria R$320 mil, mas a verba não foi nem mesmo sinalizada. Toda a área administrativa está queimada. Salas de aula destruídas. Redes elétrica e hidráulica em péssimo estado. Isso sem falar nos equipamentos (pelo menos colchonetes). Seria pouco dinheiro se aquilo fosse tratado como pertencente a nossa realidade, mas o discurso vigente incentiva à marginalização.
- Consertar para ter outra rebelião?
Essa é a pergunta. Reforçada pelo fato dos meninos justificarem as revoltas com argumentos considerados fracos (solicitam Bolacha Vitarella, pernoite, galinha assada). Mas a realidade está muito evidente, mesmo para quem vai ali de passagem como eu.
Um menino que entra ali com cara de criança e consegue sair sem ter perdido o semblante deve ser pura obra do destino. Por que aquilo ali é uma máquina de tirar esperanças. E o pior é que vi muitas pessoas ali com cara de adolescente. Justamente o que eles não deviam perder.
Uma informação que chamou minha atenção: a verba de custeio para manter mensalmente 180 adolescentes é de R$500. Imagine isso para uma pessoa que trabalha em um gabinete parlamentar.
O pior é que os juízes continuam mandando gente para dentro, sem pena. E o Governo do Estado faz de conta que se preocupa e continua mentindo dizendo que vai criar uma unidade modelo em Jaboatão. Se fosse para criar alguma coisa que preste deviam ser vários locais que dessem para abrigar pelo menos a quantidade de adolescentes que estão presos atualmente. Tapar o sol com peneira não adianta.
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