26.8.05

Juntando os cacos

Construir um ideal. Lutar para torná-lo real. Ter a desilusão. E
reunir forças para continuar. Não é fácil.

Em recente reunião realizada para dar um pontapé inicial no trabalho
de reconstruir o PT aqui em Pernambuco um militante histórico das
esquerdas lembrava da tradição de se gritar: "O Socialismo morreu?
Viva o Socialismo!". Ninguém teve coragem de fazer essa saudação para o PT.

No fundo do poço, nem mesmo os deputados Roberto Leandro e Paulo Rubem
Santiago tinham forças para traçar novos caminhos. Queriam ouvir da
multidão quais seriam os esforços possíveis.

Mas a multidão ainda estava chorando. As discussões inflamadas com
familiares e amigos. O dinheiro gasto para se fazer as primeiras
campanhas (e, para alguns, até mesmo em empreitadas recentes). O suor
derramado. A perda do mito. A vergonha diante dos próprios filhos.
Alguns desistiram de assistir o Jornal Nacional.

Veio do Padre Reginaldo Velozo o primeiro flerte com uma nova (antiga)
caminhada. Fazendo um paralelo com os antigos partidos comunistas do
Brasil, ele lembrou que a diferença do PT era o fato de ter crescido
de baixo para cima.

"Nascemos criticando as estruturas centralizadoras dos partidos
comunistas do Leste Europeu", lembrou o religioso. Para então admitir
que na Década de 90 o PT foi reestruturado para garantir o predomínio
do grupo liderado por José Dirceu (Campo Majoritário), que acabou com
a Democracia interna (muitas vezes se utilizando de manipulação para
vencer eleições e mudar o Estatuto do PT).

O discurso do Orçamento Participativo nas gestões petistas não ilude
mais nem mesmo os gestores do Partido. Muito menos a população. No
Recife, o principal responsável pelas ouvidas é candidato a um cargo
parlamentar. E essa gestão, apesar de ter proximidade, nem faz parte
do grupo de José Dirceu.

Talvez o mais sério seja a falta de diálogo dentro da estrutura
partidária. Os deputados petistas no Congresso Nacional reclamam que o
presidente Lula nunca fez reunião com sua bancada parlamentar. Então
precisam também fazer reuniões e estarem dispostos a ouvir seus
eleitores.

Recomeçar pela escuta do povo é o pontapé inicial. Expulsar os
corruptos do PT. Vencer o debate interno, sob as regras criadas pelo
inimigo. Trazer de volta aqueles que baixaram a cabeça. A batalha como
sempre é injusta. E a solução mais racional, para alguns, será
escolher um novo caminho. "Muda a marca, mas continua a luta pela
Cidadania do nosso povo". Será que diremos isso?

O mito Lula perdeu força. E, em Pernambuco, Miguel Arraes de Alencar
deixa saudade. No PT, ou fora dele, será preciso ter propostas e
ideais ainda mais avançados que a Democracia do início dos anos 80.

Fui eleitor de Chico Alencar na última eleição, pois passei um ano
morando na querida Vila Isabel. Orgulhosamente, acompanho a atuação do
parlamentar na Câmara Federal. Escrevo essas poucas linhas para dizer
que sua atuação tem servido para encontrar algumas formas de
encontrarmos saídas no mar de lama que se tornou nosso partido.

Como assessor de imprensa do presidente da Comissão de Defesa da
Cidadania da Assembléia Legislativa aqui de Pernambuco, o deputado
estadual Roberto Leandro, vejo na proximidade que Chico Alencar faz
questão de manter com o seu eleitorado (participando de diversos
fóruns e valorizando um encontro semanal, numa carioquíssima política
de rua), no uso da Internet como ferramenta para aproximar o mandato
dos eleitores e finalmente na atuação séria e transparente na Comissão
de Ética da Câmara Federal um dos poucos motivos de inspiração nessa
crise que tomou conta do meu partido.

A caminhada não é fácil companheiros. Obrigado aos que estão conosco.

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