30.4.07

Meu ponto de vista, em resposta a João

Vou tentar responder a algumas angústias de João. Lógico que ninguém vai conseguir resolvê-las, mas talvez faça algum sentido a visão de um cara que não tem medo de ser antiquado e que ama essa cidade ao ponto de sair dela e continuar trabalhando com algumas das maiores mazelas que tem por lá.

O silêncio da nossa geração? Não é um sentimento pernambucano. O engajamento é uma coisa muito demodê. Para vestir uma camisa eu ganho salário. Não posso falar dos que esquecem de vestir as suas, só que acredito plenamente na minha trajetória.

Talvez aqui no Brasil seja um pouco mais difícil assumir os posicionamentos. Realmente, são poucas as oportunidades e são favorecidos os que baixam a cabeça para os grupos políticos ou econômicos: O jornalista que trabalha para vender o peixe de João Carlos Paes Mendonça ou de Eduardo Monteiro e que, quando muda o governador, muda também de opinião para agradar os novos maiores anunciantes. A arquiteta que se cala ao ver a corrupção e muitas vezes até deixa seu carguinho comissionado, mas não vê forças para enfrentar toda a máquina da estrutura Políticos Corruptos/Empreiteiras. Na arte existe a mesma divisão: os que se calam, os que são excluídos e os que entram no esquema de cabeça.

Aqui no meu trabalho temos feito aquela pergunta direto. Como intervir no seio da sociedade recifense em busca de debate? Como apresentar outras alternativas de vida? Como fazer tudo por um pouco mais de ternura?

Cada um escolhe o seu caminho né João. Acho muito importante a gente saber que a mãe que cria seu filho abrindo o olho dele para não pisar no pé dos outros está fazendo a parte dela. E não acho que seja parcialmente não, porque cada um tem a sua escolha mesmo.

Paulo Rubem, por exemplo, decidiu voltar às bases, sem acreditar na política atual. A idéia dele é aquela da TV Viva no fim dos anos 80. Está com uma equipe de comunicação, equipamentos de gravação e exibição e tenta fazer os vídeos e exibir nas comunidades para causar o debate. Semana passada foi lançado um vídeo no Preto Velho. Mas é uma coisa muito inicial. Na qual estou tentando me integrar, apesar de estar mais aqui em Brasília.

Isso aqui é a idéia de quem faz Política. E acredita nisso. E acha até que para fazer o que acredita pode viver com menos do que o mercado lhe pagaria. Em Recife, ganharia mais do que aqui, para trabalhar para gente em quem não acredito (era a alternativa que eu tinha).

Mais um pouco aqui de Brasília. Estou em Assembléia aberta para discutir o Recife. Quando não tenho de acalmar Paulo Rubem, me sinto na obrigação de abrir a cabeça de Bernardo e ele tenta me mostrar algumas coisas boas que têm sido feitas por lá. Fico no meio da gangorra.

Semana passada fiquei puto com um texto que saiu no JC defendendo o Parque de Boa Viagem, Paulo me estigaria a responder, mas Bernardo acabou me convencendo de que estaria tirando o foco do debate principal. Resultado: botei uma enquetizinha no site de Paulo e acabei sem mandar a resposta para o JC.

João. Tenho certeza que você não precisa de dica minha, mas se está querendo mostrar as suas inquietações no Recife só precisa começar a suar para isso. A arte ainda tem alternativas bastante honestas de aprovação de projetos, que poderiam além de lhe dar o direito de discutir com o público e os profissionais brasileiros, pagar as passagens para você vir visitar sua família e amigos. Senta a bunda e escreve os projetos, que uma hora acaba saindo (pois qualidade você tem).

Sobre o espaço de debate, não existe lugar melhor do que a Internet, para gente tão distante.

Venho inevitavelmente vivendo memórias e impressões do recife de maneira atávica, quase que avassaladora

Normal. Mas não adianta viver esse desejo e essa saudade e querer voltar e não pensar como pode ser feito esse caminho de forma muito boa. Tem que estudar um pouco as possibilidades, escolher um caminho e suar para realizar o que você imaginar. Ou então aproveitar a sua história ai.

observo o intenso sufocamento e a assustadora violência a que o recife vem vivendo, em crescimento até agora incontrolável.

A cidade pode estar estática. Mas acho esse papo de crescimento da violência uma babaquice. Serve muito bem para quem quer tirar o foco do debate. A violência existe, os caras continuam assaltando o orçamento, mas o controle começa a existir. As escolas continuam uma merda, mas será que eram muito melhores há dez anos? A polícia continua a matar gente pra caralho (vocês viram É proibido proibir? Filme do caralho!), mas o Ministério Público e a Polícia Federal investigam e prendem gente importante como nunca. Os usineiros continuam fazendo grilagem bem pertinho do Recife, antes de Porto de Galinhas, como sempre... Só não dá para achar que o grande problema do nosso Estado é a violência chegando perto da classe média. Isso é burrice ou sacanagem?!

Assisto ao êxodo acelerado da minha geração com um misto de perplexidade e compreensão (entendo-o bem pois também faço parte deste movimento).

Arrume dinheiro para voltar no Carnaval. E gaste sem pena no Recife, pois as coisas são baratas lá para quem ganha em euro. Culpa? Menos...

25.4.07

Um parque para o Recife

O secretário de Planejamento e Orçamento Participativo, João da Costa, em artigo publicado pelo JC, esquece de um princípio que vêm sendo defendido pelo PT desde a primeira bem sucedida gestão de Tarso Genro na Prefeitura de Porto Alegre. A participação popular nas decisões dos gestores públicos é um objetivo, um sonho, uma utopia e se não estamos na Suiça das votações pela internet temos algumas boas experiências no Brasil. A que ele capitaneia é apenas um dos exemplos a serem estudados e aprimorados.

A Prefeitura do Recife tem legalmente todo o direito de efetuar a obra que bem desejar no terreno cedido pelo Governo Federal, resta aos que participaram das mobilizações desde 2004 ou que passaram a ser apoiadores da idéia com o tempo (como o prefeito João Paulo) sugerir alterações que lhes pareçam interessantes. Os gestores do Executivo aceitam ou não as sugestões, mas se a carapuça de déspota recaiu sobre o deputado licenciado, talvez tenha sido justamente por ele ser o responsável pela pasta que deveria ouvir a população do Recife.
Tendo trabalhado na Prefeitura do Recife em projetos bem sucedidos como o da Inversão do Trânsito de Boa Viagem, posso dizer que ouvir a população é uma tarefa árdua, mas que na maioria das vezes dá certo. Lembro que na mudança do sentido das avenidas Domingos Ferreira e Conselheiro Aguiar um dos maiores prazeres do então presidente da CTTU, Ivan Carlos Cunha, foi tomar um café da manhã na padaria de um dos empresários que mais criticou o projeto e ouvir dele que a clientela do negócio tinha mudado, mas que o projeto tinha sido aprovado. Depois de muitas adequações, diga-se de passagem.

Há alguns anos, os skatistas recifenses aprovaram em um movimento fantástico através de milhares de votos a criação de pistas para a modalidade street no Orçamento Participativo. Uma delas inclusive já deveria ter sido construída em Brasília Teimosa. A gestão municipal vem propor a colocação de rampas no novo parque? A Avenida Boa Viagem já conta com esse tipo de equipamentos e quase sem uso, pois a maior parte dos atletas pernambucanos é praticante da modalidade que atualmente só tem uma pista com obstáculos adequados em Pernambuco – na Rua da Aurora. Que está sempre cheia de jovens moradores não só do Recife, como de toda a Região Metropolitana.

Neste ano, vim morar em Brasília. Niemeyerland como brincam alguns brasilienses. Aqui estão algumas das obras mais conhecidas desse fantástico arquiteto. Todas muito bonitas e adequadas ao clima de Brasília. Uma cidade onde me surpreendi em ver ao meio-dia a pista de cooper do Parque da Cidade lotada de gente (imaginem que é uma pista de dez quilômetros e as árvores do cerrado têm pouca folhagem). No Parque da Jaqueira, mesmo com a sombra e a brisa do Capibaribe, pouquíssimas pessoas se aventuram a correr no horário do almoço.

Não tenho o mínimo de propriedade para questionar o projeto do arquiteto Oscar Nyemeier e concordo que será uma assinatura importante para o Recife, mas porque não aproveitar a idéia e construir em um outro local, como foi sugerido pelas entidades que atuaram.

13.4.07

O pior sistema de transporte público do Brasil

Começo a pensar nas coisas que Brasília tem de pior do que o Recife. O sistema de transporte é disparado o primeiro lugar na lista. Não me lembro de ter ficado em um ônibus quebrado nenhuma vez no Recife, pois aqui já passei por essa situação duas vezes.

Tudo bem, já tive a informação de que a empresa que faz a rota para o Sudoeste tem a pior frota de ônibus do Distrito Federal. Mesmo assim, não esperava ter de conviver com veículos do milênio passado, que passam quando querem e ainda quebram diariamente (segundo confissão de uma cobradora).

Vai ver é por isso que todo brasiliense me manda pegar van. Mas isso nem sempre é recomendával. Uma das vezes que estava indo para a casa de Duda resolvi ceder aos alternativos, que estão por todos os lados.

- Condução para o Sudoeste?
- Tá saindo agora?
- Agora mesmo, tá ali do outro lado.
- Beleza.

Resultado: andei mais ou menos um quilômetro, para encontrar um prêmio preto velhíssimo e entrar nele com outros quatro passageiros. Coisa surreal. Mas cheguei sem problemas. Ainda foi menos ruim do que as experiências nos ônibus.

Existem alternativas? Deveriam. Brasília me parece perfeita para o uso da bicicleta. O cara não sua e quase não existem subidas. Mas não vejo ninguém usando. De carro, Duda me emprestou esse fim de semana, estou me divertindo por aqui. Os endereços são muito loucos. Me divirto de tentar achar os lugares.

Agora, a falta de humidade é mais complicada de resolver. Duda tinha me dito que com o tempo eu ia ficar doente. O organismo ia perder a resistência que tinha quando vim do Recife. Dito e feito. Já estou tendo a dor de cabeça e o nariz entupido típicos da Capital Federal.

Para isso não tem solução, mas pelo menos melhorou quando eu fui remar com Bernardo na Lagoa Paranoá. Vou ver se fico fazendo isso, mas é meio caro. Só que vale a pena até pelo lugar: Minas Brasília Tenis Clube.

2.4.07

Sábado no Parque




















Estava afim de ir ver o Festival Internacional de Palhaços. Eu e Bernardo assistimos a um show de uma argentina muito boa. Ele achou ela linda. Eu achei muito engraçado o show. Inclusive, pelas piadas sexualizadas.
O Parque da Cidade é gigante. Por enquanto, dei a volta de bicicleta, mas vou me preparar para dar correndo. Essa torre ai atrás da tenda do circo é a Torre de TV, um dos pontos turísticos aqui de Brasília.
Essa história de que Brasília não tem o que fazer? Bem, até agora discordo, vamos ver com o passar do tempo. O parque é muito legal, a vida cultural é bem mais cheia de coisas que a de Recife. Restaurante bom tem, precisa ter dinheiro. Essas coisas...