5.5.09

Interregnum


Não tenho grande conhecimento de arte contemporânea. Mas até pelo meu distanciamento fico com vontade de falar deste espetáculo.

Claudio Lacerda é um dos artistas pernambucanos que mais me surpreendem. A primeira vez que tive a idéia da força do trabalho dele foi em uma intervenção coletiva sobre a Ponte de Ferro, no Centro do Recife.

Causou espanto em todos os pedestres aquele grupo de bailarinos, dirigidos por Claudio, dançando sobre as estruturas de ferro, circulando no meio da rua de pedestres e fazendo os movimentos da coreografia nem tão ensaiada.

Era engraçado ver a reação dos ambulantes, das donas de casa e dos jornalistas que tinham ido somente para ver aquela intervenção artística. É, meu filho, arte contemporânea nem sempre é uma cabecice sem pé nem cabeça que te enche o saco.

Fiquei surpreso pelo interesse de um cara tão viajado em fazer uma intervenção voltada basicamente para o público que circula no Centro do Recife. E mais impressionado ainda ao ver a interação surgida na hora da apresentação.

Nos próximos dois fins de semana, Claudio e Juliana Siqueira continuam a temporada de Interregnum. Um duo hiper sensual, que ele interpretou pela primeira vez em 2006, mas que só veio a ter uma temporada em Recife agora.

O espetáculo começa com uma recomendação simples. “Se espalhem pela platéia, dá para ficar nos quatro lados do tablado e de cada lugar a visão é totalmente diferente”. A platéia do dia em que eu fui ficou quase que concentrada na arquibancada mais próxima da entrada, pena para eles.

Os encontros e desencontros dos personagens de Claudio e Juliana realmente podem ser vistos de todas aquelas perspectivas, sempre de maneira diferente. Como que lembrando quem ama de tentar enchergar a visão do amado e analisar se não há razões para os movimentos, as ausências ou a vontade de ficar estático.

Não estou falando de uma comédia romântica. Poderia até ser um drama. Mas é um espetáculo de corpos. Duas pessoas que mais que dançam, se expressam. E um criador de uma virilidade sensível e bem definida.

O som, como sempre nos espetáculos de Claudio, é o terceiro personagem. Sempre no clima certo. Figurinos e cenários mais simples impossível. Fica aberta a possibilidade de ver uma dançarina lindíssima como Juliana. (Ele também é bonito para caramba). Mais seria menos.

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