Estudei durante dois anos os julgamentos realizados pela imprensa. Para realizar o vídeo Parcialmente Verdadeiro, que analisa a cobertura da mídia pernambucana em um caso policial e na última eleição para prefeito, e durante o período que integrei a pesquisa Tribunais da Idade Mídia em Pernambuco, coordenada pela professora Marinita Neves.
Nesta semana, o tema volta a me emocionar já que fiquei chocado com a reportagem realizada pela Revista Época contra o economista Reginaldo Muniz. Um militante com história nos movimentos sociais de Pernambuco, que ocupou cargos de chefia em administrações do PT,inclusive o de secretário de Finanças da Prefeitura do Recife. Faço questão de deixar claro: não conheço ele pessoalmente.
Não precisa ser especialista em análise de discurso para descobrir os recursos que estão sendo utilizados para ?vampirizar? essa pessoa, que amigos e pessoas respeitadas me garantem ser um homem digno e humilde. Recursos visuais e de lingüística são colados de uma maneira que é comum nos piores jornais sensacionalistas, mas envergonha a principal revista do conglomerado Globo.
Mas o mais chocante são as informações. Escondido no finzinho da reportagem é dito que ?a Polícia Federal pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Reginaldo, mas até agora não explicou por que não incluiu o nome dele no pedido de prisão preventiva??. Ou a revista está tentando acusar a PF de fazer vista grossa ou há um motivo forte para desconfiar da fonte (entrevistado) dessa matéria? Mas, antes disso, já é de estranhar que nenhuma das pessoas que o acusam tenham assumido a acusação. Não é citado o nome de quem o esculhamba e não há documentos que comprovem o crime.
Manda a regra da boa reportagem que só se publique matéria depois que há um processo criado. Qualquer estagiário de jornal do interior aprende isso assim que entra pela primeira semana numa redação. Se ele não estava na lista de suspeitos da PF era preciso ter indícios muito fortes para fugir a esse preceito, ou más intenções (poderiam ser causadas, por exemplo, pela pressão das empresas envolvidas, que desejam desviar o foco das atenções para longe delas).
Mas a reportagem continua dando mais indícios de que não deveria ter sido publicada: Depois da prisão dos primeiros integrantes da quadrilha, foi o próprio Reginaldo quem sugeriu ao ministro que seu nome fosse incluído na segunda lista dos funcionários afastados por precaução, para facilitar as investigações das compras na Saúde. Seu ato acabou entendido como demonstração de desapego e valentia?.
Infelizmente, o erro não pode ser desfeito por essa perspectiva. Mas a sociedade pernambucana precisa se indignar. O caso de Reginaldo Muniz pode se transformar em mais uma Escola Base, no sentido de que pelo menos teremos esclarecido o problema e a família vai poder tentar na Justiça garantir que a Rede Globo pague uma indenização (que poderia ser usada ? sugiro eu ? em um projeto voltado a ensinar os jovens a utilizar a mídia corretamente. Para isso, existem ONGs competentes como o Auçuba e a TV Viva).
O prefeito João Paulo coloca a mão no fogo por Reginaldo Muniz. Tânia Bacelar, Marcos Costa Lima, Tarcizio Patrício, também. Eles, e muitos outros, assinaram uma nota paga publicada nos principais jornais do Estado.
É pouco.
O importante nesse caso ? como em tantos outros que precisam ser revistos ? é que se garanta o direito à dúvida nesse primeiro momento, que é acobertado pelas manchetes sensacionalistas. A cobertura jornalística deve ser realizada de maneira precisa e ter a paciência que muitas vezes a pressão da redação corrói (como sei eu que vivi esse ambiente no Jornal do Commercio e Folha de Pernambuco).
A família tem o direito e até obrigação de quando for esclarecida a inocência processar a Rede Globo (proprietária da Época) por ter desencadeado o processo de difamação. E os pernambucanos de liderar o processo de esclarecimento pois o importante é que no fim fique clara a verdade. Mas é importante que esse movimento seja apartidário, esteja acima do pleito que se aproxima.
Convido os amigos petistas, jarbistas, petebistas (rockeiros e pagodeiros) a lerem sobre o que aconteceu com Reginaldo Muniz. Indignem-se. Por que só assim menos pessoas sérias serão atingidas por falhas cometidas muitas vezes por falta de preparo ou excesso de pressão nas redações.
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