23.2.08

Um pouco de frescura, para compensar o paletó, o excesso de trabalho e a secura de Brasília

Cantinho escondido (Marisa Monte)

Dentro de cada pessoa tem um cantinho
Escondido, decorado de saudades
Um lugar pro coração pousar
Um endereço que frequente sem morar
Ali na esquina do sonho com a razão
No centro do peito, no largo da ilusão
Coração não tem barreira não
Desce a ladeira, perde o freio devagar
Eu quero ver cachoeira desabar
Montanha, roleta-russa, felicidade
Posso me perder pela cidade
Fazer o circo pegar fogo de verdade
Mas tenho o meu canto cativo pra voltar
Eu posso até mudar
Mas onde quer que eu vá
O meu cantinho arde, dentro

Quando deu sábado eu estava ouvindo essa música e resolvi escolher o meu cantinho. Podia muito bem ser a pedra enorme em que brincava de me esconder, catava cajá e meti a cara numa queda de cavalo quando tinha 5 anos. Mais engraçado é minha lembrança de ficar sonhando liderando guerras e operações vietnamitas no mangue que dividia o campinho da Monsenhor Odilon Lobo do Sítio de Zé Donino. Em matéria de futebol, fico sempre dividido, até porque reencontrei Raquel dez anos depois no terreno que era dos meus amigos. Viva Lenine e o Poço da Panela! Podia ser também em frente aos pés de macaíba do meu pai, ainda planto Tuti e Pedro ali algum dia. E Chico também que ali só quem tomou banho de rio foi o meu filho. Se fosse praia seria Brasília Teimosa, pelos passeios de bicicleta com Rafa e Júlia também, mas principalmente pelo prazer de participar ativamente daquela obra e depois das futuras decepções que não apagam o prazer de ter vivenciado o sonho. No Rio, a pracinha da Tijuca, com o parquinho para Chico e a feijoada para passar a tarde ouvindo jazz e namorando na calçada. Barcelona é Parque Guell, Paris a entradinha “Antes do Por do Sol” do nosso (de Graça) apartamento, Lisboa ficaria bem em cima do bondinho. Mas não tenho a menor dúvida que meu cantinho é a Ladeira da Misericórdia. É que foi ali que Júlia me perguntou quem era Josué de Castro. E eu respondi paquerando ela com revólver de água. Podia ter sido mais direto para dizer que intelectual me enche o saco? Só Sonia Marques e a mãe de Nana que são excessões, pois dou essa vantagem para as mães pelo que elas já sofrem no dia-a-dia. Tantos atentados ao pudor naquele Alto da Sé, todos absolutamente inocentes e prazerosos. Depois da minha tristeza de 2008, fiquei esperando a minha última esperança até o fim do bloco. Só vi meu amigo tendo de encarar a mulher da vida dele vê-lo do lado de outra menina. E só pensei que tinha passado pela exata situação do outro lado da rua, exatamente ali no finzinho da ladeira, no mesmo sábado. Mas o que fica é a inocência dos meus 11 anos. O prazer inocente do meu primeiro Carnaval. Sobe ou desce? Sobe sim! O que fica é o beijo puro que roubei de Mariana ali no meio da ladeira. Passam os anos e fica a lembrança. Moi aussi. Te amo minha amiga querida, por mais que você goste de queimar meu filme.

Compro uma lembrança que seja forte, gostosa e intensa em um açude de Floresta!

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