31.8.09

Leonardo Boff defende saída de Marina


Por Leonardo Boff

Erram os que pensam que a saida da senadora Marina Silva do PT obedeçe a propósitos oportunistas de uma eventual candidatura à Presidência da República. Marina Silva saiu porque possuía um outro olhar sobre o Brasil, sobre o PAC (Programa de Acelaração do Crescimento) do governo que identifica desenvolvimento com crescimento meramente material e com maior capacidade de consumo. O novo olhar, adequado à crescente consciência da humanidade e à altura da crise atual, exige uma equação diferente entre ecologia e economia, uma redefinição de nossa presença no planeta e um cuidado consciente sobre o nosso futuro comum. Para estas coisas a direção atual do PT é cega. Não apenas não vê. É que não tem olhos. O que é pior.

Para aprofundar esta questão, valho-me de uma correspondência com o sociólogo de Juiz de Fora e Belo Horizonte, Pedro Ribeiro de Oliveira, um intelectual dos mais lúcidos que articula a academia com as lutas populares e as Cebs e que acaba de organizar um belo livro sobre “A consciência planetária e a religião”(Paulinas 2009) Escreve ele:

“Efetivamente, estamos numa encruzilhada histórica. A candidatura da Marina não faz mais do que deixá-la evidente. O sistema produtivista-consumista de mercado teima em sobreviver, alegando que somente ele é capaz de resolver o problema da fome e da miséria – quando, na verdade, é seu causador. Acontece que ele se impôs desde o século XVI como aquilo que a Humanidade produziu de melhor, ajudado pelo iluminismo e a revolução cultural do século XIX, que nos convenceram a todos da validade de seu dogma fundante: somos vocacionados para o progresso sem fim que a ciência, a técnica e o mercado proporcionam. Essa inércia ideológica que continua movendo o mundo se cruza, hoje, com um outro caminho, que é o da consciência planetária. É ainda uma trilha, mas uma trilha que vai em outra direção”.

“Muitos pensadores e analistas descobriram a existência dessa trilha e chamaram a atenção do mundo para a necessidade de mudarmos a direção da nossa caminhada. Trocar o caminho do progresso sem fim, pelo caminho da harmonia planetária”.

“Esta inflexão era a voz profética de alguns. Mas agora, ela já não clama mais no deserto e sim diante de um público que aumenta a cada dia. Aquela trilha já não aparece mais apenas como um caminho exclusivo de alguns ecologistas mas como um caminho viável para toda a humanidade. Diante dela, o paradigma do progresso sem fim desnuda sua fragilidade teórica e seu dogma antes inquestionável ameaça ruir. Nesse momento, reunem-se todas as forças para mantê-lo de pé, menos por meio de uma argumentação consistente do que pela repetição de que “não há alternativas” e que qualquer alternativa “é um sonho”.

“É aqui que situo a candidatura da Marina. É evidente que o PV é um partido que pode até ter sido fundado com boas intenções mas hoje converteu-se numa legenda de aluguel. Ninguém imagina que a Marina – na hipótese de ganhar a eleição – vá governar com base no PV. Se eventualmente ela vencer, terá que seguir o caminho de outros presidentes sul-americanos eleitos sem base partidária e recorrer aos plebiscitos e referendos populares para quebrar as amarras de um sistema que “primeiro tomou a terra dos índios e depois escreveu o código civil”, como escreveu o argentino Eduardo de la Cerna”.

“Mesmo que não ganhe, sua candidatura será um grande momento de conscientização popular sobre o destino do Brasil e do Planeta. Marina Silva dispensará os marqueteiros, e entrarão em campanha os seguidores de Paulo Freire”.

“Esta é a diferença da candidatura Marina. Serra, do alto da sua arrogância, estimula a candidatura Marina para derrubar Lula e manter a política de crescimento e concentração de riqueza. Lula, por sua vez, levanta a bandeira da união da esquerda contra Serra, mas também para manter a política de crescimento e de concentração da riqueza, embora mitigada pelas políticas sociais”.

“Marina representa outro paradigma. Não mais a má utopia do progresso sem fim, mas a boa utopia da harmonia planetária. A nossa visão não é restrita a 2010-2014. Estamos mirando a grande crise de 2035 e buscando evitá-la enquanto é tempo ou, na pior das hipóteses, buscar alternativas ao seu enfrentamento.

É por isso, por amor a nossos filhos, netos e netas, temos que dar força à candidatura da Marina. E que Paulo Freire nos ajude a fazer dessa campanha eleitoral uma campanha de educação popular de massas”.

Digo eu com Victor Hugo:”Não há nada de mais poderoso no mundo do que uma idéia cujo tempo já chegou”.

PS: Leonardo Boff é teólogo e autor do livro Que Brasil queremos? Vozes 2000.

27.8.09

Alternativa Verde!

O deputado cassado José Dirceu escreveu artigo colocando uma interrogação após a expressão alternativa verde. Para ele, parece uma construção tucana travestida de “uma alternativa que apresente novo discurso e nova imagem que tentem sangrar o bloco popular liderado pelo presidente Lula e pelo PT”.

Uma filiação da ex-petista, fundadora do Partido dos Trabalhadores, referência internacional na luta pela Amazônia, nem se efetivou e já causa ansiedade em quem arquitetou todo o plano de domínio do poder do grupo paulista capitaneado pela dupla Lula-Dirceu, que agora vê em Dilma Roussef a imagem da continuidade desenvolvimentista.

O debate do Desenvolvimento Sustentável e da Ecologia não é mais uma temática. É o foco central de uma política que vem sendo construída desde a Década de 90 e ainda não ganhou corpo eleitoral aqui no Brasil.

Desenvolvimento sustentável é discutir o inchaço do Legislativo em todo o País. Colocar na pauta diária dos jornais a discussão do Orçamento Público. Esmiuçar os investimentos feitos para a Copa do Mundo de 2014 e para a implantação de coleta seletiva em uma pequena cidade nordestina.

Ecologia é o investimento em fontes alternativas de energia. Criar fontes de renda através da reciclagem para as populações pobres dos nossos grandes centros urbanos. Defender nossos parques, as reservas ecológicas e os campos de várzea dos subúrbios. E ter coragem política para enfrentar a necessidade de uma Reforma Agrária.

Muitos sonhos. Mas essas duas temáticas passam prioritariamente pela defesa da qualidade de vida da população brasileira.

Uma chapa encabeçada por Marina vai obrigatoriamente forçar a discussão do papel do PT no nosso País. Mas se ficar apenas nisso seria uma perda enorme de oportunidade. Para bom entendedor, a seringueira me parece muito mais opositora de uma candidatura tucana do que a mídia expõe. Ela significa uma defesa do princípio democrático, de uma política fraterna, que denuncia a mudança de legislação oportunista utilizada para reeleger FHC.

Como Obama representou o respeito a diferença. Marina é a encarnação da maternidade, no sentido da defesa dos direitos do próximo. E falo isso do alto da minha posição de pai, que luta pela igualdade dos direitos nesta que é a única fronteira em que as mulheres nos obrigam a engolir em seco sua superioridade.

”Seu papel nas batalhas pela emancipação de nossa gente lhe garante o direito de disputar qualquer função pública em nosso país”, diz o deputado cassado.

Também acredito no papel educativo que essa candidatura possa ter em novas eleições. Imagine nacionalmente uma candidatura que critique a poluição visual das eleições. Que, a exemplo da Obama, venha a fazer realmente da Internet um veículo primordial de sua construção.

Pensei nisso a partir do meu blog. Depois de anos sem muito debate, me lembrei da eleição Roberto Magalhães X João Paulo, quando começaram a haver trocas de impressões sobre as candidaturas ao se colocar a hipótese desta candidatura.

A primeira argumentação contrária do ex-presidente do PT é lembrando escolhas políticas de integrantes do PV. Mas será que depois de tantos dólares nas cuecas os petistas ainda não aprenderam que numa eleição o que se leva em conta são as boas possibilidades? Os defeitos podem dificultar alguns votos, mas todos sabemos que temos defeitos com todos os nossos esforços.

Marina pode até não se candidatar ou ficar pelo meio do caminho, mas uma candidatura dela teria tido um papel fundamental como tiveram o saudoso Partido dos Trabalhadores da Década de 80 e o PSDB de Mario Covas.

E não se engane companheiro José Dirceu. Sou um bom exemplo de quem lutou e acreditou no PT e dei meu primeiro voto a Lula. Hoje tenho três opções de voto para presidente: Marina, Serra ou Aécio. E muitos amigos estão na mesma situação.

Mauricio Rands acha que a culpa é de Lula. Vai entender. No meu espírito paternal, que não chega nem perto mesmo do que o de uma mãe, acho que os petistas têm mesmo de passar um tempo pensando. Não vai ser fácil eles se perdoarem por terem cassado José Dirceu e absolvido o outro Zé, Presidente.

25.8.09

Alternativa Verde?

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A história de Marina é um patrimônio do país e de nosso partido. A vida política, porém, é plena de armadilhas
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O VEREADOR carioca Alfredo Sirkis, dirigente do Partido Verde, começou o artigo nesta página do dia 9 de agosto ("A hipótese Marina") afirmando a legitimidade da causa ambientalista e da eventual candidatura presidencial pelo PV da senadora Marina Silva, que anunciou seu desligamento do PT na semana passada. São colocações com as quais estamos de pleno acordo. Mas, como tudo na política, devemos sempre averiguar os interesses que animam seus agentes.

Não paira nenhuma dúvida sobre o caráter, a biografia e os compromissos da senadora Marina Silva, companheira de tantas lutas e trincheiras. Senadora acriana, eleita pelo PT, construtora de nosso programa ambiental e ministra do governo Lula durante cinco anos.

A história de Marina é um patrimônio do país e de nosso partido. Ao lado de bravos companheiros como Chico Mendes, Jorge e Tião Viana, entre tantos outros, dedicou o melhor de sua vida para defender os povos da floresta e a causa ambientalista.
Cabocla, seringueira, Marina é o sal da terra. Seu papel nas batalhas pela emancipação de nossa gente lhe garante o direito de disputar qualquer função pública em nosso país.

A vida política, porém, é plena de armadilhas. Até os mais nobres e valorosos militantes podem ser arrastados a situações com as quais, no futuro, não concordem ideologicamente.

Os feitos recentes do PV no Rio, liderado por Sirkis, por exemplo, são bastante reveladores: o partido integrou todas as gestões do prefeito César Maia e contou com o apoio do DEM a Fernando Gabeira no segundo turno da eleição de 2008.
Essa conduta é partilhada pelo PV paulista, que faz parte da base de sustentação dos governos Serra e Kassab. Enfim, os setores do Partido Verde liderados por Sirkis e Gabeira não são uma voz progressista em busca de uma alternativa para aprofundar o processo de mudanças iniciado no Brasil em 2002, mas representantes minoritários do bloco conservador que dá tratos à bola para achar saída diante da desidratação político-ideológica da coalizão demo-tucana, à qual pertence com galhardia.
Analisemos os argumentos acerca da possível candidatura presidencial de Marina Silva. Sirkis apresenta essa hipótese como uma alternativa à "compulsória aliança das duas vertentes da social-democracia com as oligarquias políticas na busca da governabilidade", referindo-se a uma suposta e nefasta consequência da disputa entre PT e PSDB.

E vai além, ressaltando que "Marina é bem talhada para promover uma nova governabilidade (...) que, enfim, supere essa polarização bizarra". O vereador carioca redesenha a realidade, possivelmente para pavimentar a terceira via que propõe. O PSDB fez uma opção, há quase 15 anos, por ser o partido das elites financeiras, quando a transição conservadora entrou em colapso após o impeachment de Collor.

A velha direita, desgastada pela longa ditadura militar, não era mais capaz de protagonizar a engenharia do Estado neoliberal.

Esse foi o vácuo preenchido pelos tucanos, que se aliaram às velhas oligarquias do PFL-DEM para levar a cabo um programa de privatizações e desregulamentações que desmontou a economia do país e colocou em xeque a soberania nacional. Esse foi o papel exercido por FHC, cujo custo social o levou à derrocada em 2002.

O PT foi a vanguarda da mobilização contra esse programa. Quando o presidente Lula assumiu, mesmo em condições políticas precárias, pois minoritário no Congresso e às voltas com uma herança maldita, travou o programa tucano-liberal, interrompeu as privatizações e deu início à reconstrução do Estado como condutor de uma economia baseada na produção, no mercado interno e na distribuição de renda.

São, portanto, dois projetos antagônicos, inconciliáveis, cuja contraposição só pode ser considerada "bizarra" se forem outros os interesses que não o retrato da realidade. Muitos arautos conservadores se deram conta de que, no caso de não ser superada ou esmaecida a polarização entre os dois projetos, tudo indica que o condomínio PSDB-PFL terá ralas chances em 2010, naufragando outra vez com seu velho programa privatista.

Uma das possibilidades para tentar essa superação passou a ser a construção de uma alternativa que apresente novo discurso e nova imagem que tentem sangrar o bloco popular liderado pelo presidente Lula e pelo PT.

Esse é o esforço ao qual aparentemente se filiam setores do PV, em manobra que busca atrair os anseios legítimos e as contrariedades respeitáveis da companheira Marina Silva com a execução da agenda ambiental, que ela tanto ajudou a construir.

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JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA, 63, é advogado. Foi ministro-chefe da Casa Civil (governo Lula) e presidente do PT. Teve seu mandato de deputado federal pelo PT-SP cassado em 2005.

24.8.09

Respondendo aos comentários sobre a saída de Marina

eu tinha lido. tá no terra tb.

admiro demais marina. mas acho que comete um erro de cálculo...
uma pena. perdem amboas, ela e o partido. diferentemente da saída de figuras como HH, que só fizeram bem ao partido! :P
BJ | Homepage | 08.20.09 - 10:50 am | #

Gravatar Concordo com sua saída, ela teve que engulir muito em seu período como ministra até culminar na sua saída do Governo. Digo que uma chapa dela com Cristóvam (algo já especulado), a chapa dos ex-petistas, pode trazer muitas surpresas para todos.
Tiago | 08.23.09 - 9:56 pm | #

Trabalhei para o PT. Era assessor de Paulo Rubem quando ele passou pela ruptura que Marina está vivendo agora. Hoje sou coordenador de Jornalismo de uma Prefeitura do PSDB. Quer dizer, minha opinião é cheia de vícios da minha experiência pessoal. Mas, incitado, estou querendo dizer algo sobre isso.

O Diario de Pernambuco de ontem trouxe uma reportagem importante sobre o tema. Dois ecologistas discordavam sobre a importância do fenômeno Marina, para a questão ecológica no Brasil. Vejam os textos no link abaixo.

http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/08/23/politica1_0.asp

Novamente, os vícios. Minha mãe atua, hoje em dia, como mobilizadora do Fórum pela Vida do Rio Tapacurá e trabalha ao lado de Ricardo Braga, na Sociedade Nordestina de Ecologia. Concordo com ele, as chances são pequenas de uma vitória da candidata, mas Dilma e Serra serão obrigados a discutir publicamente o Desenvolvimento Sustentável. É uma pontinha de esperança.

Seria fantástico ter uma chapa robusta de gente que fuja à dicotomia PSDB/PT. Por isso, concordo também com Tiago, na expectativa de uma chapa Marina e Cristovam Buarque. É a forma de forçar que esses partidos sejam empurrados a fugir da Ditadura dos sangue-sugas do Congresso (minha opinião é baseada na minha experiência de que existem pessoas competentes e honestas entre tucanos e petistas).

No fim, resta para meu espírito de sonhador a vontade de ver o P-Sol também participando de uma chapa como esta. Quem sabe com Heloisa Helena candidata ao Senado ou ao Governo do Estado de Alagoas. E, aqui em Pernambuco, a espectativa de Paulo Rubem forçar também uma terceira via na eleição polarizadíssima entre Jarbas Vasconcelos e Eduardo Campos.

No plano local, seria mais ou menos o que Elias Gomes significaria numa eleição ao Governo do Estado daqui há cinco anos. Ou seja, antecipar politicamente a vida política de Pernambuco em meia década.

Esse texto reflete minha humilde opinião, sem intenção nenhuma de chegar à verdade. E viva Foucault.

19.8.09

A CARTA DE MARINA

"Caro companheiro Ricardo Berzoini,

Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.

Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.

Tenho a firme convicção de que essa decisão vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida.

Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, a título de exemplo, a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Entendo, porém, que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

É evidente que a resistência a essa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas políticas para mantê-las.

Uma parte das pessoas com quem dialoguei nas últimas semanas perguntou-me por que não continuar fazendo esse embate dentro do PT. E chego à conclusão de que, após 30 anos de luta socioambiental no Brasil - com importantes experiências em curso, que deveriam ganhar escala nacional, provindas de governos locais e estaduais, agências federais, academia, movimentos sociais, empresas, comunidades locais e as organizações não-governamentais - é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte pro quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País. Assim como vem sendo feito pelo próprio Partido dos Trabalhadores, desde sua origem, no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Finalmente, agradeço a forma acolhedora e respeitosa com que me ouviu, estendendo a mesma gratidão a todos os militantes e dirigentes com quem dialoguei nesse período, particularmente a Aloizio Mercadante e a meus companheiros da bancada do Senado, que sempre me acolheram em todos esses momentos. E, de modo muito especial, quero me referir aos companheiros do Acre, de quem não me despedi, porque acredito firmemente que temos uma parceria indestrutível, acima de filiações partidárias. Não fiz nenhum movimento para que outros me acompanhassem na saída do PT, respeitando o espaço de exercício da cidadania política de cada militante. Não estou negando os imprescindíveis frutos das searas já plantadas, estou apenas me dispondo a continuar as semeaduras em outras searas.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos

Saudações fraternas

Marina Silva"