2.10.09

Nova Suíça pernambucana

Ainda criança fui com toda minha família acampar na então virgem praia de Maracaípe. Quando era adolescente fiz um outro acampamento para me despedir de Muro Alto, quando começaram a ser construídos os caríssimos resorts naquele que é um dos mais bonitos pedaços de oceano de Pernambuco. Casei, tive um filho e passei a freqüentar a Pousada Porto Verde, em Porto de Galinhas.

Infelizmente, nestes 30 anos, a arrecadação de Ipojuca cresceu por conta do Porto de Suape e da mais conhecida praia pernambucana, mas os serviços continuam tão ou mais precários do que na minha época de criança.

Nos últimos anos, fui cansando dos engarrafamentos nas ruas de Porto, do esgoto que é jogado diretamente nas mais famosas piscinas naturais do Brasil. De vez em quando, troco o caos urbano e vou tomar minha água de coco na beira do mar de Japaratinga, em Alagoas. Passei a freqüentar mais a Pousada Doze Cabanas, do que a Porto Verde.

Como jornalista, só tive um contato mais profundo com a cidade de Ipojuca. Como assessor de imprensa da Comissão de Defesa da Cidadania, que na época era comandada pelos deputados Roberto Leandro e Betinho Gomes, passei para a repórter Bianca Carvalho, da TV Globo, uma das pautas mais chocantes que já tive conhecimento.

Os proprietários da maior parte das terras da cidade queriam impedir o Programa Luz Para Todos de atender uma comunidade rural instalada há quase um século no litoral ipojucano. Os meninos que estudavam à luz de candeeiro estavam perdendo a visão e mesmo assim os usineiros não liberavam a instalação dos postes.

Para mim, a reportagem ganhou um tom sentimental porque foi uma forma de homenagear a ironia e o sarcasmo do meu pai, Fred Albuquerque Maranhão de Amorim. Ele, que tinha no sangue a tradição canavieira de pernambuco, não concordava com muitas das práticas que eram praticadas pelos nossos ancestrais.

Denunciar a grilagem que era cometida, em pleno século XXI, pelos proprietários da Usina Salgado, foi uma volta aos princípios surgidos em minha família a partir da luta política do meu pai. Assim como para mim, teve um sentimento especial também acompanhar todo o processo de fechamento do Lixão da Muribeca, pois ali naquelas terras que eram do avô dele, meu pai me ensinou a respeitar e admirar o povo simples canavieiro de nosso Estado.

Esse debate surgido nos últimos dias em torno da divisão dos recursos de Suape me faz imaginar um questionamento. Como é que estão sendo geridos os recursos de Ipojuca? O ICMS das indústrias do pólo industrial é apenas uma parte dos recursos de Ipojuca. A cidade conta ainda com todo o ISS gerado pelos grandes hotéis e as dezenas de restaurantes de Porto de Galinhas, Serrambi, Muro Alto e Maracaípe. Sem falar nos milhões que foram investidos pelo Estado e União.

O povo da mais rica cidade de Pernambuco não pode ficar calado. É preciso haver mobilização social para exigir os melhores sistemas educacional e de saúde do Estado. Nem mesmo a tarefa de casa, que é manter limpas as praias que tantas oportunidades geram para os ipojucanos, está sendo cumprida. Nós, pernambucanos, que gostamos e freqüentamos aquele bonito pedaço do nosso litoral estamos atentos e não vamos ficar calados.

Salve Ipojuca. Recursos não faltam. Com a mesma população de Gravatá, Ipojuca tem ICMS per capita de R$2.051 e a antiga Suíça pernambucana recebe apenas R$77. É preciso haver controle social para que a Prefeitura transforme todo o investimento da União e do Estado, que agora rendem frutos financeiros, em bem estar para os ipojucanos e para todos os pernambucanos.

Eduardo Amorim é Coordenador de Jornalismo da Prefeitura de Jaboatão

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