2.5.07

Como transformar o plenário da Câmara dos Deputados em local de troca de conhecimentos?

É raro, mas as vezes acontece. Achei muito bonito o discurso da viúva de Paulo Freire hoje.

"Quando a Livraria Imperatriz, localizada na Rua da Imperatriz, citada aqui anteriormente por Paulo Rubem, depois da Segunda Guerra Mundial, recebia aquelas caixas de livros dos pensadores do mundo, havia um ritual. Os intelectuais da cidade eram convidados, tirava-se aquele lacre de fita de aço, abriam-se os caixotes, e cada um pegava um livro.

Posso imaginar Paulo segurando o livro, alisando-o atentamente, olhando o índice e alguma referência à primeira obra. Paulo aprendeu a partir de livros, sim, mas sobretudo de sua experiência, rica em compaixão com os explorados e oprimidos.

Em meu discurso, digo que Paulo aprendeu com intelectuais, muitas vezes negando-os, já que tinha outra compreensão. Afinal, para a academia, o único saber era o saber científico e filosófico. No entanto, Paulo dizia: Não, o saber é o saber do senso comum. É dele que a história da humanidade partiu e de onde devemos partir.

Quem ensinou o senso comum a Paulo foi a sua experiência de vida, o seu sofrimento, as suas incursões aos quintais alheios, mas principalmente o povo pernambucano, o povo dos alagados, de Brasília Teimosa. Paulo dizia: Que coisa deliciosa, como o povo sabe nomear as coisas. Brasília Teimosa se fazia, a Polícia vinha e a derrubava, mas ela ia se reconstruindo. Foi um espaço de teimosia, de rebeldia da população de Recife. Foi por causa dessa gente, chamada assim para menosprezá-la, que Paulo construiu o termo gentidade. A partir disso, da experiência que teve com a gente dos alagados, de Brasília Teimosa, de Afogados, dos pescadores de Ponta de Pedras e sobretudo dos camponeses da agroindústria açucareira,que Paulo aprendeu a ler o mundo.Foi por causa deles, que perguntavam e não queriam prestar atenção às respostas prontas que ele levava, que Paulo dizia: A pedagogia não pode ser a pedagogia das respostas, dos conteúdos prontos; a pedagogia tem que partir daquele que não sabe para aquele que sabe um pouco mais".

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