Ela sempre me disse que não gostava de futebol. O tio jogador, meu grande ídolo de infância, era o único motivo que a fez ir aos jogos na Ilha do Retiro. Desde os 15 anos, só voltou a um estádio em Lyon, para ver o craque liderar os hexa-campeões franceses. A tribuna não lhe encantou.
Mas o convite do meu amigo João Freire, apesar de singular, era plural. Eu disse vamos!
No caminho entre Brasília e Goiania as conversas eram variadas. Juninho Pernambucano X Isabela Tainara. Plebe Rude X Vavá. Joaquim Cardoso X Leonardo. Juazeiro X Ilha do Retiro. MST X Ademir. Escândalos do Congresso X Copa do Mundo.
Ela não quis vestir a camisa rubro-negra. Tinha recebido uma mensagem de que a torcida alviverde era violenta. Mas enquanto eu ajudei João a derrubar metade de um whisky, começou a dar uns golinhos em uma lata de cerveja.
Ainda no estacionamento do Serra Dourada, começamos a trocar as nossas impressões futebolísticas. Ela disse que na França prestou muito mais atenção às roupas das mulheres dos jogadores do que às partidas. Eu admiti o prazer de ver o rubro-negro enfrentar um adversário alvi-verde. Acho muito sem graça a monotonia das cores dos times pernambucanos: vermelho e preto X vermelho e branco X vermelho, preto e branco.
Quando subimos as escadarias para entrar no estádio o verde da torcida goiana ainda não mostrava toda sua força. Fomos nos esconder atrás de uma das barras, junto com mais uns cem fãs do Sport Club do Recife.
Ali naquele cantinho vermelho e preto, o verde da camisa dela era a única cor distoante. A pequena torcida começou cedo a fazer a sua festa. Estávamos a meses sem ir ao estádio para ver o nosso time do coração. E o Sport respondeu com velocidade.
Diogo aparece pela ponta-direita, têm duas opções, cruza e Carlinhos Bala marca. É hora de festa na nossa pequena torcida. Bruna me abraça forte. Mas o gol é anulado. Impedimento.
- Carlinhos Bala é o pior jogador desse time. Diria ela, indignada com a festa adiada pelo posicionamento do nosso atacante.
Mas logo o Sport voltaria a marcar agora com Ticão, que no nosso cantinho de arquibancada, ficou sendo Fumagalli durante a maior parte do jogo. E no segundo tempo, quando o Sport ampliou, ela já estava abraçando a todos naquela típica euforia dos amantes da arquibancada.
Ainda tivemos chances de ampliar.
Mas veio o gol alviverde. E finalmente a torcida deles mostrou sua força. Eles tinham chegado em cima da hora, alguns entraram em campo já com a bola rolando e guardaram o grito para aquele momento crucial.
Pior, para nós, foi que o time do Goiás estava com o mesmo gás da torcida. Veio o empate e a virada faltando menos de um minuto para o apito final.
Decidimos voltar direto para Brasília. Não queríamos assistir à festa dos goianos. Para mim, restou o consolo de ouvir Bruna dizer que tinha adorado o jogo. A família Reis é mesmo rubro-negra. Até nas derrotas.
Mas ficou claro a saudade dela de ver o time com um Juninho no meio-de-campo. Quem sabe um Paulista, para o lugar de Fumagalli.
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