29.10.07

Sexo e futebol

O melhor filme sobre o futebol brasileiro ainda é Garrincha, Alegria do Povo. Assisti recentemente a um outro que retrata a vida do ponta-direita do Botafogo. Interessante, mas deixa uma caricatura meio boba do cara que só pensa em sexo e é usado pelas mulheres.

Esse floreio dai de cima foi só para dizer que estou meio puto com a realidade.

O Sport jogou tudo que podia ontem.

Levou um pênalti e o centroavante bateu de um jeito indefensável. A bola tocou na trave direita e entrou.

Contou com a sorte, Everton desviou uma bola forte, cabeceou a bola alta, à queima-roupa, dentro da pequena área.

Depois o melhor jogador rubro-negro, Romerito, bateu uma falta com maestria, o goleiro abriu um canto, ele invés de bater no óbvio tentou pegar o contra-pé, inverteu a bola todinha.

Pois num é que em dois desses três lances Rogério Ceni mostrou porque é o que é:

Puta que pariu!
É o melhor, goleiro do Brasil!
Rogério!!!!!!!!

O grito dos sete mil são paulinos está custando a sair da minha cabeça e de muitos dos mais de 30 mil rubro-negros que estavam ontem na Ilha do Retiro.

Pois é. O que era para ser um glorioso 3X2 virou um honroso e sofrido 1X2, dentro de casa. E a gente não pode nem dizer que faltou esforço. O time deu tudo, mas era pouco para o São Paulo. E pronto.

Não deu nem para lembrar aquele cara que quando a menina acaba com ele fica triste porque respeitou demais. Fomos com tudo. Metemos pressão até onde podíamos. Se não tinha KY, fomos no cuspe. Sem violência, que a gente sabia o valor da coisa. Não tenho dúvidas. O Sport foi até onde podia. E perdeu.

Que venha uma lourinha vestida de vermelho em Porto Alegre para a gente chamar de Barbie. E meter com força. Tem que tentar a vitória. Lá e cá, sempre.

23.10.07

Shakespeare and Company

Andar pelas ruas de Paris e encontrar uma livraria com alma. É um sonho para qualquer viajante, que tenha algum gosto por livros. Lembro que queria dar um livro a Patrice durante toda a minha estadia na França e andando pelo Quartier Latin entrei em uma lojinha bem pequena. Perguntei pelo autor: Anthony Bourdain. A menina me trouxe o livro rindo porque o título em francês de Cozinha Confidencial é algo como O Chef Maluco (trocadilho intraduzível em sua plenitude). Mandei embrulhar para presente e tive a maior surpresa pois o lugar só tinha livros sobre comida. Fiquei ali conversando e olhando os livros e lembro até que quando saí Mateus elogiou o meu francês, que ficou esquecido naquela minha meia hora de vida.

Não cheguei na parte do meu guia de Paris que falava da Shakespeare and Company. Uma livraria cheia de autores residentes, poetas não-publicados e que nem aceitava cartão de crédito. Tudo isso, a poucos metros da Sacre Couer. Muito perfeita a imagem. Gosto de imaginar as teias de aranha por trás das estantes. O velho dono meio rabugente com saudade de sua filha e esperando preencher o seu vazio a cada novo visitante que lhe bate a porta pedindo abrigo. Sempre uma linda menina no caixa, para deixar qualquer um apaixonado. E um ou dois caras tentando mostrar que têm organização e podem deixar o lugar até mais organizado do que se o próprio George ainda estivesse tomando conta de toda a loja.

Olhando bem a foto da capa do livro que acabei de ler, fico imaginando que passei na frente daquele lugar. Ou estaria só sendo enganado pela imagem dos livros em pequenas mesas expostos no meio da calçada? Bem, fico feliz que de qualquer maneira eu não fui mais um turista bobo que passou ali para levar para casa algumas imagens digitais. Pode não ter sido muito poético entrar no bar ao lado e tomar uma cerveja com todas as francesas do local dando em cima da gente, para logo depois todas nos abandonarem. E finalmente notarmos que estávamos sendo confundidos com um casal gay. E que estávamos inadvertidamente em um bar de strip masculino. Mas que foi divertido isso com certeza nem Mateus vai negar.

O livro é uma imagem singela dessa livraria no início dos anos 90. Jeremy Mercer viveu ali por alguns meses, enquanto a Shakespeare and Company ainda tentava se definir entre o que tinha sido e o que viria a ser. Paris já estava totalmente tomada pela invasão de turistas. Os jovens se aproximavam dos velhos. As vezes até aprendiam alguma coisa e em troca acabavam abrindo algumas portas também. As meninas se aproximavam dos caras, ou mesmo de outras garotas se achassem mais interessante. A maioria dos escritores pouco fazia para sair dos cadernos escritos ou das páginas em branco e os que conseguiam publicar algo provavelmente pulavam fora daquele agitação. Mas ali ainda se tentava fazer algo mais longo e duradouro que um vídeo de telefone celular.

Agora me lembrei do ritual do meu pai. Recife também já teve uma livraria e até loja de disco cheias de charme. Meu programa de sábado era passear pela Sete de Setembro. Lembro de ficar ouvindo sem entender nada as discussões sobre Chet Baker, Miles Davis, Dizzie Gillespie, Coltrane e cia. Saudade. Dizem que essa palavra também é intraduzível?

16.10.07

São Bento, Japaratinga e Maragogi

Frases do fim de semana:

"Pai, vamos na casa daquele seu amigo super-legal que me bota nas ondas para surfar". Ao acordar.

"Chiiico!", "Chicooo", "Chico!!!". Ao chegar na casa de Rodolfo. Recepção da pirralhada.

"Vai pra banheira Leleco. Teu lugar é do lado da barra". Durante o show de futebol na beira da praia.

"Lagostinha?". Antes de ver a maravilha.

"Nunca comi uma coisa tão gostosa na vida!". No durante.

"Caralho, pensei que tu não ia aparecer mais...". Ao chegar atrasado para ajudar Zenzi a cozinhar carangueijo, peixe e agulhinha frita.

"Tive meus motivos". Resposta que deixaria invejosa a galera que não comeu lagostin.

"Dona Elsinha, eu te amo!". Agradecendo a Julio e à famosa dona da casa em que nos hospedamos, durante o aguardado almoço da galera.

"Meu barco é movido a escravo". Presidente de empresa de trânsito admitindo que está cansado do transporte veicular sobre rodas.

"Vamos tomar um vinho". Depois de tudo isso ainda tinha um vinho para coroar?

"Dado, os meninos todos já tomaram banho e teu filho tá aqui abandonado". 'As 20h30.

"Não. Deixa ele ficar mais aqui. Por favor". Ao pegar o menino.

"Obrigado por me acompanhar". Eu é que agradeço (a todos).

Ps: Fiquei com inveja porque não podia comentar nos fotologs da galera então botei isso aqui.

9.10.07

Teste



http://www.paraquedismo.org/tropadeelite/

Gostei do filme. Vejam. O teste eu achei interessante. Não tenho o perfil de nenhum dos policiais. Então veio o chefe do tráfico no morro. Pelo menos num veio uma das meninas da ONG. Façam o teste depois de assistir Tropa de Elite.

8.10.07

Baixio das Bestas

Todo mundo me disse que não era um bom filme. Mas eu adorei Amarelo Manga. Na verdade tinha obrigação de ir assistir e colocar aqui minha opinião. Gosto do visual. Tem umas cenas interessantes. Tome cana-de-açúcar. Passa uns três minutos mostrando Caio Blat e Matheus Nachtergale nus. Achei interessante aquilo. Meio gay, a cena me agradou. Engraçado Claudio Assis filmar um filme cheio de nuances homossexuais.

Os personagens não me agradam. Excelentes atores parecem desperdiçados naquela violência gratuita toda. Muita fala para poucos silêncios. Não fiquei verdadeiramente chocado com nada. Apenas achei uma redução meio boba da juventude classe média da Zona da Mata os personagens de Caio Blat, Samuel e China. A miséria? Não, o filme não fala sobre os miseráveis. O principal núcleo é um grupo de jovens que não têm muito o que fazer naquela cidadezinha e usa um cinema desativado e um puteiro como locais de divertimento (fuga?).

A história tem mais começo, meio e fim do que Amarelo Manga. Talvez por isso fiquem mais evidenciadas as fraquezas. De bom mesmo, acho a experiência de ver o povo falando com sotaque verdadeiramente pernambucano. Ninguém faz essa leitura melhor. Dá saudade em quem está longe a tempo. Vale a pena assistir? Claro que sim. Mas não não me parece um filme de quem conhece a miséria da Zona da Mata.

Prostituição. Violência. Ignorânica. Prostituição. Violência. Para mim, faltou farinha e o pirão ficou ralo.

3.10.07

Eu vou esse ano pra lua

Apesar da minha insônia crônica, ou talvez justamente pela minha intimidade com o tema, sempre me achei muito bom de colocar criança para dormir.

Com meu filho passei por algumas fases engraçadas, ele era super difícil logo que nasceu. Lembro que quando completou três meses alguém me disse que a partir dali ele passaria a dormir mais, foi um alívio grande ouvir aquilo.

Desde que nasceu ele me esperava para que eu o colocasse para dormir. E olha que eu chegava da faculdade quase de 11 da noite. Minha primeira tática que funcionava era coloca-lo no carrinho de bebê e sair pelas ruas das Graças, quando passava por um lugar esburacado perto do Rio Capibaribe eu acelerava bem rápido e ele sempre adormecia. Não faz sentido? Mas é assim mesmo.

Mas os problemas mesmo eram as madrugadas em casa. Minha primeira técnica era balançar o pirralho bem forte. Botava no braço e ninava ele bem rápido mesmo e na mesma técnica estranha ele pegava no sono.

Depois comecei a cantar e olha que minha voz é péssima. Bossa nova era o meu preferido. O sonho de colocar uma criança para dormir antes do fim da introdução de Wave... "Vou te contar, meus olhos já não podem ver, coisas que só o coração pode entender. Fundamental é mesmo amor, é impossível ser feliz sozinho". (Sempre achei isso a frase mais perfeita para se dizer a um filho. Para um amor é um típico e lindo exagero.)

Mas acaba que a vida não é bem como a gente espera não. Passei uma fase em que cantava uns sambas de Chico Buarque. Lembro que cantava Vai passar e Samba do Grande Amor inteiras e de repente o pirralho acabava cansando de tanto esperar aquelas letras enormes. Mas a única coisa que realmente tive noção de que dava certo eram os frevos. Não sei se era o ideal para Chico dormir, mas pelo menos o pirralho decorou todas as letras mais bonitas do Carnaval de Olinda. Com os erros a que eu me acostumei a cantar, claro!

Engraçado que hoje em dia só sei cantar algumas músicas em ordem. Para me lembrar da introdução do hino do Ceroula (Eu vou esse ano pra lua...), canto primeiro o do Galo da Madrugada. Uma coisa mais ou menos assim.

Mas acho que esse momento é meio como fazer amor com uma pessoa. Mais do que falar o importante é estar sentindo o momento. Tocando um no corpo do outro e sabendo conduzir a dança. E, mesmo que em algum momento a paciência tenha desaparecido, saber não estragar o trabalho que estava sendo construído. Uma fala fora de hora e tudo volta à estaca zero. Como no sexo.