Apesar da minha insônia crônica, ou talvez justamente pela minha intimidade com o tema, sempre me achei muito bom de colocar criança para dormir.
Com meu filho passei por algumas fases engraçadas, ele era super difícil logo que nasceu. Lembro que quando completou três meses alguém me disse que a partir dali ele passaria a dormir mais, foi um alívio grande ouvir aquilo.
Desde que nasceu ele me esperava para que eu o colocasse para dormir. E olha que eu chegava da faculdade quase de 11 da noite. Minha primeira tática que funcionava era coloca-lo no carrinho de bebê e sair pelas ruas das Graças, quando passava por um lugar esburacado perto do Rio Capibaribe eu acelerava bem rápido e ele sempre adormecia. Não faz sentido? Mas é assim mesmo.
Mas os problemas mesmo eram as madrugadas em casa. Minha primeira técnica era balançar o pirralho bem forte. Botava no braço e ninava ele bem rápido mesmo e na mesma técnica estranha ele pegava no sono.
Depois comecei a cantar e olha que minha voz é péssima. Bossa nova era o meu preferido. O sonho de colocar uma criança para dormir antes do fim da introdução de Wave... "Vou te contar, meus olhos já não podem ver, coisas que só o coração pode entender. Fundamental é mesmo amor, é impossível ser feliz sozinho". (Sempre achei isso a frase mais perfeita para se dizer a um filho. Para um amor é um típico e lindo exagero.)
Mas acaba que a vida não é bem como a gente espera não. Passei uma fase em que cantava uns sambas de Chico Buarque. Lembro que cantava Vai passar e Samba do Grande Amor inteiras e de repente o pirralho acabava cansando de tanto esperar aquelas letras enormes. Mas a única coisa que realmente tive noção de que dava certo eram os frevos. Não sei se era o ideal para Chico dormir, mas pelo menos o pirralho decorou todas as letras mais bonitas do Carnaval de Olinda. Com os erros a que eu me acostumei a cantar, claro!
Engraçado que hoje em dia só sei cantar algumas músicas em ordem. Para me lembrar da introdução do hino do Ceroula (Eu vou esse ano pra lua...), canto primeiro o do Galo da Madrugada. Uma coisa mais ou menos assim.
Mas acho que esse momento é meio como fazer amor com uma pessoa. Mais do que falar o importante é estar sentindo o momento. Tocando um no corpo do outro e sabendo conduzir a dança. E, mesmo que em algum momento a paciência tenha desaparecido, saber não estragar o trabalho que estava sendo construído. Uma fala fora de hora e tudo volta à estaca zero. Como no sexo.
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