22.12.07

Candomblé é Freud em garrafinha

Quando ouvi falar de Peões e Entreatos não tive a menor dúvida que o mais interessante seria o segundo filme. Eduardo Coutinho nunca tinha pego na minha veia. Assisti aos dois filmes no Cine Odeon e na saída, depois de um debate com os diretores, me lembro de ter pensado o quanto ter visto a obra de João Moreira Salles tinha valido a pena, porque tinha sido difícil aguentar o sono para ver aqueles conhecidos de Lula discorrendo sobre a juventude quando o petista ainda tinha sonhos e a realidade não tinha carcomido os nossos ideais. Os bastidores da eleição fizeram um dos melhores documentários da minha vida.


Jogo de Cena também e me fez ter vontade de rever Cabra marcado para morrer.

O novo filme de Eduardo Coutinho é puro teatro. A confusão entre realidade e ficção. Os depoimentos emocionados. Uma hora, ele pergunta para uma atriz se ela tinha preparado o choro e ela honestamente responde que tentou imitar a dona do depoimento, mas simplesmente não conseguiu evitar as lágrimas. Me faz pensar em o Alienista, somos todos mentirosos também além de loucos. E mesmo naquela tristeza toda que são as vidas das mulheres do filme, conseguimos rir e nos divertir.

Um dos melhores filmes que assisti em 2007. Fiquei impressionado com uma história sobre o candomblé. A atriz conta que foi para a casa de uma mâe de santo, que era sua tia hoje falecida. Passou a noite numa camarinha, cheia de galinhas mortas e ratos. Quando acordou foi levada para fora junto com uma pomba branca e ficou com medo que fossem matar o pássaro. "Entenda, estou lhe tirando da morte e essa é você", disse a velha deixando o bicho voar. Candomblé é Freud em garrafinha e tem filme que é puro condimento para nossos pensamentos.

20.12.07

O roubo no Masp

Passei uma tarde no Masp na última vez que fui a São Paulo. Sozinho, tive bastante tempo para ficar pensando na vida. E nas coisas que estava observando. Como não sou nenhum teórico das artes plásticas, tive tempo também de ficar pensando na estrutura do museu.

Não é um museu do tamanho das grandes instituições européias. Não falo do Louvre ou do Reina Sophia. É bem menos estruturado que alguns museus de Berna, Barcelona e que o (meu preferido) Museu D`Orsay.

Não falo do acervo. A estrutura mesmo, não me pareceu tão boa quanto deveria ser. Pouca gente nos andares de cima, muita gente na exposição temporária do subterrâneo. Os seguranças todos cansados de guerra.

Me lembro de ter pensado em um assalto naquele local. A exata frase de resumo seria: se os caras forem profissionais eles conseguem. Mas isso não é nenhuma crítica ao museu. Putz, estou cansado de ouvir falar de assaltos a obras de arte nos principais museus europeus.

Vem um babaca da Usp dar declaração de que agora vai ser mais difícil trazer exposições internacionais para o Brasil. É o que Bernardo cansa de falar sobre o espírito brasileiro, a gente sabe que assalto a obras de arte por quadrilhas especializadas acontecem no mundo inteiro, mas precisa dizer que aqui é pior.

Seria legal se aparecessem depois uns ladrões italianos presos pela Polícia Federal brasileira. O que seria ruim é que se deixasse de investir no museu e de tentar trazer coisas de fora por conta de um assalto. Mas tenho certeza que o melhor museu brasileiro seria figurante em qualquer cidade de grande porte europeu. Temos muito a investir.

12.12.07

Na tribuna do Senado, Simon critica Sarney e Lula

O Senador Pedro Simon (PMDB-RS) criticou de forma veemente o ex-presidente e atual senador pelo Amapá, José Sarney (PMDB), e o atual presidente Lula. De acordo com o gaúcho, os dois são responsáveis pelo fato de ele, Simon, não ter sido indicado pelo partido para a presidência do Senado. “Esse PMDB [de Sarney] não é o meu”. “Dr. Sarney passa, o PMDB fica”, complementou, ao justificar por que não deixará o partido.Pedro Simon também ressaltou que o presidente Lula interveio de forma “grosseira” e “vulgar” na sucessão da presidência do Senado.

O parlamentar subiu à tribuna, inicialmente, para felicitar a eleição de Garibaldi Alves (PMDB-RN). O peemedebista gaúcho era um dos candidatos do PMDB à presidência do Senado. No entanto, por 13 votos a seis, o partido escolheu Garibaldi Alves para substituir o também peemedebista Renan Calheiros (AL).

De acordo com Simon, apesar de ter sido lançado por senadores de diversos partidos, o seu nome não foi referendado pelo PMDB para suceder Renan porque ele é considerado “imprevisível” pelo governo Lula. “Eu sou previsível. Mas Vossa Excelência [Lula] não foi fiel ao seu passado”.O senador gaúcho, no entanto, considerou “positivo” o fato de ter sido registrado em ata da reunião do PMDB que o senador José Sarney não será candidato à presidência do Senado em 2009.

DO CONGRESSO EM FOCO

O Franciscano

Dar sua cara à tapa. Oferecer a outra face. Não acredito mais em sair apanhado e satisfeito. Mesmo assim, fico feliz com o que fez o senador Pedro Simon. Mesmo ele tendo levado uma pisa.

Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy e José Nery começaram um movimento para indicar o gaúcho para a presidência do Senado. Queriam um homem público respeitável que começasse a refazer a imagem do Congresso Nacional, mais derrubada do que nunca após o apogeu do paulista Chinaglia e dos "severinos" Calheiros e Sarney.

O senador segurou até o último momento a sua vontade de assumir um papel relevante em Brasília. Mas acabou assumindo a candidatura, para uma derrota eleitoral por 13X6 dentro da Bancada do PMDB. Foi derrotado pela força do Governo Federal, que teme qualquer sinal de independência. E pela união de Calheiros e Sarney, que preferiram colocar um peixe morto na cadeira para guardarem a vaga deles para a próxima eleição.

O franciscano expôs mais uma vez sua situação: "tenho sido discriminado no PMDB nos últimos dez anos. Recebi um manifesto de apoio, com a assinatura de 34 senadores, que o partido nem sequer levou em consideração. Sou discriminado pelo Lula, pelo líder do partido e pelo Sarney". Teimo em acreditar que seria interessante uma voz na Presidência do Senado a trazer novos assuntos e levantar questões esquecidas pela "mão em que falta uma falange".

Apanhou. Mas registrou nos anais do Senado, no Estadão e aqui no blog agora a fantástica frase do Sarney: "Não serei candidato a nada na minha vida. Nem daqui a um ano, nem nunca mais na minha vida". Se fosse verdade teria sido pelo menos uma vitória parcial.

Se...

4.12.07

Frase do Dia

"Ficar rico não vai, mas pode ter certeza que você vai pro céu! Aguentar essa pocilga não é para qualquer um", João Pedro Stedille (MST), após saber da absolvição de Renan Calheiros em plena Câmara dos Deputados.

3.12.07

Julgamento

Por mais que vá me estressar para caramba, fiquei feliz de o PT ter entrado com pedido de cassação contra Paulo Rubem. É o momento de julgar tudo que eu passei nos últimos anos. Da vitória de João Paulo, o convite que eu não cheguei a aceitar para começar aquela gestão, depois de participar de um momento em que as coisas estavam mudando e da decepção de sair com as piores impressões possíveis daquela gestão. Da entrada em um mandato relativamente independente, a luta para tomarmos posicionamento livre, as dificuldades impostas pelo isolamento e a derrota eleitoral. Depois assumir uma assessoria de imprensa de um parlamentar histórico do PT, como Paulo Rubem, e participar diretamente da decisão de sair do partido. Tendo sido derrotado na idéia de ir para o P-Sol.

Se perdermos o País perde um bom parlamentar. Se ganharmos o PT ficará com um carimbo do TSE dizendo que abandonou o seu histórico de lutas. O risco vale a pena.

Domingo na família dos outros

Fui passar o domingo na casa de um fotógrafo colombiano. Típico cara que vira meu amigo automaticamente. Filho de bolivianos, apaixonado pela Argentina, cozinheiro de primeira, pandeirista amador, casado com uma linda negra de raiz sambista, artesão e pai de uma menina lindíssima: Sofia.

Durante a cervejada minha paquerinha tinha dito. Nunca vi um cara que tivesse tanta saudade do seu filho. No meu chopp noturno com Bira veio a pergunta. Por que a fixação por crianças? Tinham duas, a pirralha tem dois anos e tinha também Pedro, que é um pouco mais velho que Chico.

Acho que as coisas que passamos realmente fazem a gente se fortalecer para as decisões que tomamos. Fui dormir ontem tranquilo. Com certeza de que não dá para perder a maioria dos domingos com Chico. As respostas, para perguntas que as vezes eu esqueço de me fazer, aparecem nas situações mais inusitadas.