15.7.10

Piedade e Casa Forte

Depois de muito pensar, vendi o carro rapidamente. Em um dia de nova vida já me sinto muito mais cidadão. De volta à rotina de comprar fruta no Joana Bezerra. E dividir o banco com os recifenses de todos os lados da cidade.

Estava no metrô agora a pouco. Fechava o olho, com a cabeça encostada na janela. Uma menina tilintava com o dedinho no vidro. Desencostei e ela balançou a minha mão. Abri só o direito, depois o esquerdo e o esquerdo e ela tentando disfarçar a brincadeira.

Vitória tem cinco anos. É filha única. A mãe estava indo no Centro do Recife. Mas não perguntei o que diabos ela estava fazendo levando a pirralha para passear tão tarde. É que precisei logo descer no Joana Bezerra.

Ontem, entrou um ventríloquo no ônibus. Não me lembro o nome de nenhum dos dois. Sei que quando o artista começou o show, um crente empata foda começou a gritar que aquilo era um boneco de Satanás.

O cara era tão humilde que foi logo descendo. Dei uns R$0,50 centavos para ele, as moedas que tinha no bolso. Depois comentei com a menina que tava do meu lado, que o boneco nunca deve ter ganho tanto dinheiro por um show incompleto.

O nome dela é Vaninha. Estuda no GGE e vai fazer vestibular para Direito. Me disse que achava uma boa escola, bem puchada. E ficou me perguntando sobre Jornalismo, nos intervalos entre as ligações da Folha de Pernambuco e do Jornal do Commercio.

A venda do carro foi quase um reencontro com o meu bairro. Marquei de receber o dinheiro dentro do Banco do Brasil da 17 de Agosto. O comprador era um kombeiro de Abreu e Lima, cara super gente fina. É sério!

É evidente que tive preconceito com esse cara. Talvez por isso, tenha marcado para dentro daquela agência. Ali os dois seguranças vinheram me perguntar se estava tudo bem e um fez questão de dizer que ninguém mexia comigo naquele banco.

Jadiel que me abriu o olho. Era para eu ter dado um trocado ao cara. Pelo menos, era essa a intenção dele ao se mostrar tão prestativo, com alguém que estava contando dezenas de notas de R$100. Ainda bem que não entendi.

Pedi ao cara para ele contar os assaltos todos que já aconteceram naquela agência. É um tema meio proibido para um vigilante de banco. Mas foi engraçado ficar me passando por malandro. Será que disfarcei o quanto sou menininho de Casa Forte?

Felizmente, mais da metade das notas foram usadas antes de entrar na minha conta para pagar as dívidas. Dormi tão tranqüilo. Vai ver tem haver com isso o fato de estar gostando de andar de metrô novamente.

Ainda teve uma outra fofoca. A dona do cartório veio me perguntar se eu estava querendo casar. Ela adora uma história dos Costa Lima. Disse que estava (só) vendendo um carro e menti dizendo que era muito amigo da minha ex-mulher.

É que eu me separei há uns três anos de uma prima dela. E quando meu filho nasceu, ela passou bem uma hora contando todas as fofocas possíveis da família delas. Felizmente, ontem foi bem mais rápido. Acho que ela estava bem humorada.

Estou pensando em comprar uma outra bicicleta. Deixo uma no trabalho e a outra aqui em casa. Como estava preso a um carro... Chega dá vontade de dizer que nunca mais vou ser proprietário de um veículo. Alívio!

6 comentários:

flavia disse...

andando de metrô em recife, dado? que lugares tu anda frequentando? :P

João disse...

O ventriloquo do satanas e' muito bom! tragicomedia cotidiana. agora tenho uma bike, vou pra todos os lugares com ela, um prazer. abraco, my friend

Dado disse...

Piedade e Casa Forte! Ou melhor, Parnamirim e Massangana Flavinha

Dado disse...

É que a linha nova do metrô passa a uns 500 metros do meu trabalho

Franco Benites disse...

Parabéns, meu amigo. Pelo texto e pela iniciativa. Venho pensando em fazer a mesma coisa, mas falta coragem. Abs.

Unknown disse...

Belo exercício de humanidade. Ver beleza, poesia e, acima de tudo, vida pulsando nas ações cotidianas.