11.7.10

Quantos eus tenho em mim!?

Meu amigo João Lima fez uma peça autobiográfica. Ele ia falando sobre quem é e assumindo os papéis das pessoas que são importantes na vida dele. Adorei porque eu ficava vendo ele fazer a cara de amor que a mulher dele faz mesmo na vida real.

Acho que a gente é muito isso. O reflexo dos cheiros, das cores e dos amores que passam pelas nossas vidas. E dos ódios, das solidões e das ausências também. Afinal, alguma coisa tem de ser culpada pelas nossas mancadas.

Já comecei esse texto falando das marcas que as pessoas me deixaram. Outra tentativa trazia as maiores vergonhas que eu já tive na vida. Poderia escrever mesmo 1.000 coisas diferentes porque sou dado a absorver o ambiente e o momento em que estou.

Meu maior sonho quando era criança era ser jogador. Mas cresci, esqueci aquele pesadelo em que ficava nu no meio da rua, mas morri de medo quando me joguei de cima de um prédio e acordei morto no chão.

Sei da minha capacidade para jogar bola. No entanto, poucas vezes consigo reunir a raiva e a calma nas dosagens certas. A maioria das vezes acabo sendo apenas um jogador esforçado, quando sempre imagino ter condições de fazer mais.

O ato de escrever reflete muito da minha vida. Lembro que, na primeira vez que nos encontramos, disse a minha ex-mulher que ia ser escritor. Ela ficou com impressão de ter sido pura lenda para encantar a menininha, pois acabei virando rapidamente um jornalista.

Mesmo na paternidade que exerço com muito carinho, fico vendo os momentos em que deixo a raiva tomar controle. Olha que a ausência de meu pai sempre me faz pensar muito na importância de ser um cara muito esforçado na criação do meu filho.

Ele é responsável por uma série de mudanças que vieram a me tornar quem sou. O fato de me imaginar exemplo para alguém muitas vezes me encoraja. Já a responsabilidade de cuidar dele gera todo um cuidado extra.

As vezes tenho medo de repetir meu pai. Outros momentos me dá o maior orgulho por parecer com ele. No jeito de entender a política ou de tratar uma mulher com carinho ou de simplesmente perceber o mundo como uma metralhadora giratória de informações.

A verdade é que me tornei alguém muito diferente do que sempre imaginava. Pensava que ia morar em república, viajar pra caramba, ter namoradas à rodo e que nunca ia gostar de Carnaval.

Não é que me tornei mais uma dessas pessoas que fica esperando Zé Pereira chegar para colocar um monte de frustrações pra fora? Que me casei, passei nove anos com uma pessoa e me descobri um romântico incorrigível.

Eu vejo amor em qualquer toque sutil. Tento controlar minha raiva, pois sei que quando explode muitas vezes quem vem abaixo sou eu. Acredito nos amigos como se fossem irmãos. E escrevo um texto para pagar a promessa mesmo em dia sem inspiração.

3 comentários:

Unknown disse...

Uma vez li não lembro onde que a gente só define quem é quando morre. No meio do caminho entre início e fim da vida, estamos sempre sujeitos a mudanças. E eu adoro mudanças, elas nunca me assustam. Só tenho medo de permanecer a mesma.
Belo texto, espero que você continue em movimento.
bjs

Anônimo disse...

Eduardo, adorei o txt pq também me sinto assim. Muitas vezes. Imaginei que seria uma garota viajante, sem marido e filhos. Livre. A vida me pregou um peça e cá estou eu: uma feliz prisioneira de minha rotina, que, na verdade, não tem um dia igual ao outro. Quem tem 3 filhos nunca tem um dia igual ao outro.
Tem dias em que começo uma crise de identidade pq é tanta coisa na minha vida que nem sei quem sou. Aí, a menina suja a fralda, o marido grita, o celular do trabalho toca e...voilá esqueci de pensar.
Mesmo assim, vez ou outra, lembro de Cecília Meirelles perguntando: "em que espelho está perdida a minha face".
Beijos,
A. Barbarini
Continue pagando a promessa de um txt por dia.

Anônimo disse...

Alê.
Fiquei tão orgulhoso da sua visita. Feliz mesmo de você deixar um comentário. Beijo enorme
Dado
www.horoscopo.blogspot.com

Ps: A promessa não é para um texto por dia, mas vou atualizar mais frequentemente. Hoje mesmo estou com a cabeça fervendo de tanto cansaço, tenho que guardar tempo para entrar na piscina e resfriar o cérebro. É que estou trocando temas com uma amiga e ai sempre tem prazo para publicação. Vai Monaliza, manda logo um novo!