13.5.04

Chico e Che

Diarios da Motocicleta é um filme muito simples. Os sentimentos que temos, como reclamava um colega meu, ficam sempre dentro de um padrão próximo ao que estamos acostumados a vivenciar em nossas vidas.

As minhas reflexões iniciais, ainda durante o filme, foram extremamente bobas e pessoais.

Primeiro me lembrei da opressão que o Brasil também causa no lado mais fraco da América Latina. E de minha arrogância adolescente, nos Estados Unidos, desprezando um equatoriano que se vangloriava de em seu País existirem mais de 50% das espécies da pássaros do mundo.

"E eles ficam só do lado de lá da floresta é?!"

Depois fiquei pensando na relação dele (Che) com os pobres, afinal o cara tinha saído de uma Argentina que era um País (até alguns anos atrás me parece que era assim, e ninguém ache que estou comparando com Estados Unidos porque aquilo ali é excesso de dinheiro) que tinha um padrão de vida bem razoável.

Jampa sempre fala em como a gente cria calos que acabam nos deixando menos sensíveis aos dramas cotidianos. Che saiu de fora. Esse choque pode ter sido muito importante para criar toda aquela figura destemida.

Recebi uma senhora com quatro filhos há duas semanas atrás pedindo comida. A primeira frase que eles ouviram (de Chico) foi que ele e os amigos iam tomar banho de piscina lá atrás. Era óbvio que ele estava afim de chamar aqueles pirralhinhos pretos para o banho na piscina de plástico.

Mas me senti satisfeito porque a vizinha me ouviu dizendo que só não tinha arroz e eles poderam comer uma refeição bem completinha, na sombra do Pau-Brasil: feijão, frango assado (metade de um), meia palma de bananas e arroz oferecido pela senhora que mora ao lado. Fiquei com uma certa vontade de conversar com ela, estava muito aberto naquele dia, mas ela num mostrou muita abertura e nem isso rolou.

Chico vai então criando esses calos, desde já, que afinal são bastante práticos na nossa vida cotidiana.

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