10.6.05

Rossini Alves Couto - promotor de Justiça

Meu amigo Duda me explica com muita sinceridade porque o País está melhorando: ?cada concurso novo para procurador (ou promotor, juiz ? ele que é tributarista) entra mais gente competente para verificar as falcatruas que sempre aconteceram?. Paulo Rubem e Roberto Leandro sabem muito bem que o processo é complicado porque as quadrilhas estão organizadas há décadas, nas administrações, legislativos, Justiça e na Defesa Social. Mas, mais importante que esses conceitos, é o sentimento de querer fazer que precisa invadir os corações das pessoas.

Hoje, eu me emocionei ao ouvir os relatos sobre uma pessoa que não conheci e realmente deu sua vida para chegar a um objetivo. O ato público que marcou os trinta dias da morte do promotor Rossini Alves Couto foi uma verdadeira aula de Cidadania, Justiça, Esperança e Amor à Vida. Queria que todo mundo tivesse a oportunidade de ir para aquele colégio em Cupira saber o quanto temos a fazer em nossas vidas. Mais que isso, queria que cada um de nós pudesse ter certeza ao morrer que deixaria um legado tão importante quanto o daquele homem, que nem chegou a ser famoso.

Cada um dos advogados, políticos e amigos falava sobre uma qualidade do promotor. ?As peças de Rossini não eram escritas somente com técnica, tinham a vibração do coração?. ?Não se abatia com as limitações do serviço público e tirava do seu bolso quando era preciso?. ?Amava a natureza e era corajoso para, na falta de policiamento, ir ele mesmo vigiar o restinho de Mata Atlântica que havia em Lagoa dos Gatos?, ?Pedi ajuda a ele para fazer alguma coisa pelos meninos de rua e ele e sua esposa construíram um abrigo e alimentavam os meninos desde 1997 em Cupira?.

Infelizmente, não tenho a capacidade de mostrar toda a beleza da esperança que aquelas pessoas demonstraram. Mas tento me lembrar um pouco do que disse a esposa do promotor, que também exerce a profissão muito corajosamente no interior do Estado. ?Rossini não se conformava em ver a coisa errada e envolvia o corpo todo para resolver cada situação. Muitas vezes chegava de noite em casa e me explicava que estava ouvindo um caso, em que não poderia fazer nada. Mas que aquela pessoa precisava ser ouvida por alguém?.

A Secretaria de Defesa Social, além de não mandar representante, fez questão de colocar na imprensa uma reportagem de ataque ao Ministério Público de Pernambuco. Não ouviu o clamor de uma esposa apaixonada e viúva: ?Eu preciso dizer para os meus filhos que Justiça existe?. Eu me lembrei do juiz que, no enterro de Rossini, me dizia que não acreditava na Justiça. Mas olhei para toda aquela gente e acredito que se não existe ainda precisamos construir.

Um advogado, citando Che Guevara, resumiu o sentimento dele e de muita gente que esteve em Cupira.

?Não tenho medo de morrer. Tenho medo de que ninguém apanhe o meu fuzil do chão. Rossini pode ter certeza que sua caneta não ficará no chão?.

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