10.6.05

Um voto bem Dado

Nós, deputados do Bloco de Esquerda do PT, vemos enfim nossa proposta de investigação parlamentar das denúncias de corrupção nos Correios ser assumida pela Bancada inteira e pelo governo. O fato de governos anteriores, em especial o de FHC, abafarem CPIs, não nos legitima a fazer o mesmo. A política é, de fato, muito dinâmica: os "hereges" de ontem são os "companheiros sensatos" de hoje...Quem dentro do próprio PT nos desmereceu, classificando-nos como "braço tucano" ou "lacaios da oposição", agora reconhece que a operação anti-CPI nos desmoralizava na opinião pública, reforçava suspeitas de envolvimentos em ilícitos e se chocava com a história do PT.

Não podemos repetir a mesma trágica sucessão de erros quanto às acusações do deputado Roberto Jefferson. Sua caudalosa entrevista à Folha de São Paulo incrimina três partidos - um como corruptor e dois como corrompidos - e mais de 100 deputados! Por mais que ele esteja afogado em denúncias e não tenha conquistado grande credibilidade em sua vida pública, o que disse sobre "mesada" a deputados para votarem com o governo precisa ser apurado com rigor máximo. Mais uma vez, a credibilidade do Legislativo está em cheque... por causa de "cheques", agora? É nossa prerrogativa trabalhar em duas CPIs: a da suposta "receita", a dos Correios, que agora, paradoxalmente, a oposição tucano-pefelista quer protelar, e a da "despesa", do tal vergonhoso "mensalão". É essa contabilidade espúria que deve ser apurada, na sua totalidade.

Como petista, expresso o sentimento de milhares de filiados e de boa parte da sociedade: atacado por Jefferson, era dever do Tesoureiro Nacional do PT, Delúbio Soares, apresentar de imediato sua defesa, abrir nossas contas e interpelar judicialmente aquele que o expõe com estas impressionantes histórias. Um quadro político com suas responsabilidades não poderia silenciar por tanto tempo! O companheiro Delúbio deve também se afastar de suas atividades partidárias enquanto durar a investigação. E é urgente a separação rigorosa, definitiva, entre aqueles que exercem funções de direção partidária e o governo. São territórios bem distintos.
O governo Lula precisa aprofundar a linha afinal adotada para superar a inegável crise, apoiando toda e qualquer investigação, "cortando na própria carne", se necessário, afastando Ministros processados, como Jucá e Meirelles, não contemporizando com aliados fisiológicos, que queiram cargos e emendas em troca de votos.

Chico Alencar
Deputado Federal

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