15.2.06

Latinidade européia

Desci em Barcelona no dia 17 de janeiro. Andei todos os metrôs do mundo com um montão de malas. Váarias pessoas se ofereceram para me ajudar. Quando cheguei no prédio de Helena já estava adorando o lugar, nem tanto pelo elevador (que me salvou de um colapso de cansaço), mas principalmente pelo calor humano: "Leninha, todas as mulheres dessa cidade estão dando em cima de mim!". Ela me mandou ter calma, não é bem assim mesmo não.

A cidade me lembra o Rio. Um povo sem frescura que adora tomar uma clara, que não chega para conversar do nada tanto quanto os espanhois (eles são catalães), mas que demonstra muito carinho e vontade de viver. As belezas naturais somadas com as arquitetônicas se não batem pelo menos equilibram com o que vi na capital fluminense (claro, sou muito mais de natureza do que arquitetura). Parque Gwell, Montjuic, Bairro Gótico, o Porto, Barceloneta, as Ramblas, Praça Real, La Pedrera, Sagrada Família. Muita gente vai achar que é a cidade mais bonita do mundo. Eu mesmo tenho uma certa tendência a achar isso.

Achei que meus amigos estavam morando muito bem em Barcelona. Fiquei fã totalmente de Lela e Pedro, porque de repente são pessoas tão calmas e estão fazendo uma vida super cheia. Depois de morar na Italia, estarem vivendo e trabalhando e estudando com tanto gosto na Catalunha. E ainda são um casal que parece se gostar pra caramba. O resto do povo não fique com ciúme, tenho meus motivos para me identificar com aqueles dois.

A noite de Barcelona seria o atrativo principal para a maior parte dos meus amigos. Como eu descobri que realmente não tenho nenhum gosto pela vida noturna, só fiquei achando aqueles barezinhos uma coisa muito do caralho. Fui numa boite com Miguel e a gente se divertiu pra caramba, saímos de lá de manhã. Tinha também um bar de jarra de cerveja. E, claro, adorei sair ponteando em barezinhos, bebendo cerveja e comendo uma ou duas tapas em cada porta.

Pena que tinha de ir logo para Madri. Mas Miguel me animou: "a noite de lá é muito melhor do que a daqui!" Como pode? Bem, eu realmente não sou a melhor pessoa para avaliar. Meu território de interesses é bem diferente da maioria dos caras de 27 anos (maio está chegando). Wendy estava meio doente quando eu cheguei. Em compensação já estava adorando andar naquelas cidades sozinho (em Paris, as vezes queria ficar fazendo as coisas com Mateus. Forçando a barra. Mas depois descobri que os interesses de cada um são muito diversos).

De repente podia parar para comer um bocadillo de calamares quando bem entendesse. Delícia! Ou então ir no Santiago Bernabéu fazer uma visita e resolver comprar o ingresso para o jogo que ia acontecer naquela mesma noite. Real Madrid x Betis. Tive que adiar minha ida para Lisboa por um dia, mas valeu a pena. No fim Wendy ainda ficou melhor e pôde fazer um passeio pela cidade comigo e eu ainda conheci a Escola de Teatro.

Lisboa compete com Barcelona para ser a melhor cidade para um brasileiro morar na Europa. Tudo bem, tem tanto brasileiro que o povo português deve mesmo ter um pouco de preconceito (apesar de eu não ter sentido em nenhum momento, ao contrário do que aconteceu na Suiça). Mas é linda. Tem um povo muito simpático. Que fala português (cansa estar falando a língua dos outros). É uma puta capital (com cinemateca e tudo, como faz falta uma coisinha dessas). Mas tem um clima super tranquilo.

Lisboa foi só festa. Felicidade de ver João. A saudade de Chico já estava perto de terminar. Os amigos de Johny foram todos super legais comigo, parecia que eu já fazia parte daquilo tudo. Só me arrependi de não ter passado uma madrugada colando cartazes com Pedro. Nevou quando fomos comer um pastel de belém. Histórico! Trouxe o jornal: "Há 50 anos não nevava assim", dizia a manchete.

Bacalhau, arroz de polvo, vinho barato pra caramba, a melhor mostra de vinhos grátis do mundo (na Praça do Comércio, o cara sai bêbado se tomar tudo o que a galera oferece). Bem, é muito mais barato que na França e pelo menos tão bom quanto a comida de lá. Me desculpem os franceses. A da Espanha fez minha cabeça pela desorganização, tudo é um grande petisco. Na Suiça, só provei mesmo fondue e raclete (um queijo que se derrete na mesa, antes de botar no pão ou batata).

A Feira da Ladra é muito legal. Tão bom passear naquelas ruas. De repente você acha uma livraria de livros infantis, em cima da Alfama, do lado do Castelo de São Jorge, onde se fala português e uma mulher lia um livro para umas trinta crianças. Uma coisa muito mais linda do que a do filme de Meg Ryan. E olha que uma livraria daquelas já seria apaixonante.

A noite de Lisboa é tão boa quando a da Espanha. E ainda tem a vantagem de que a língua oficial é o português. Mas isso eu digo porque... Vocês já sabem. No meu último dia lá, era aniversário de João. A italiana que mora com ele, Francesca, desbancou a minha promessa de fazer uma muqueca e fez uma massa (que eu ajudei a preparar). Por sinal, são três meninas lindas que moram com o cara. Marta é da Colombia e Libb do Mexico. João está bem pra caralho! Só ele ainda não tem certeza disso. Nuria também é outra menina muito especial. Enfim, vou parar de dizer que o cara está com a vida que pediu a Deus. Até porque sei que tem muitas dificuldades também.

Saí de casa e o motorista tentou me enganar, mas português é foda: esperou aparecer a placa de aeroporto para dar o arrudeio. Eu fui bem claro: "prefiro ir pelo caminho que está sinalizado". ELe obedeceu. Peguei o avião e no mesmo dia estava em Recife. Quando cheguei no Aeroporto as malas demoravam e minhas pernas tremiam de saudade de Chico. Que bom estar de volta. A vida chama. O sonho é bom porque dura pouco. Vou trabalhar.

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