16.1.05

Eu acho é pouco, Fred Amorim e saudade

No único livro que escrevi tem uma crônica sobre o Eu acho é pouco. Pena que não tenha ficado com uma cópia. Me lembro muito pouco do que era o arrebatamento dos meus 11 anos. Ficou só a lembrança vaga de Debora Suassuna prevendo o escritor que eu viria a ser um dia. Da discussão criada porque o desenho da capa tinha umas suásticazinhas roza, vermelha e amarelas (salve Leda Telles que me salvou dessa roubada). Da emoção da professora, sobrinha de Ariano, ler um texto meu para a turma e dizer "essa parte aqui me deixa toda arrepiada". E do último Eu acho é pouco que fui levado por meu pai e que me faz chorar toda vez que relembro.

A história é a mesma que se repete todos os anos nas ladeiras de Olinda e se você for bom em fechar os olhos pode viver até no Recife Antigo. Só que é a minha. Chegar em Olinda e procurar o bloco no aperto das ruazinhas lotadas. Descer a ladeira da Prefeitura e sentir o aconchego do espaço quando a gente chega na frente do Eufrasio Barbosa. No Bêbado e o equilibrista papai me deu o primeiro porre de lança-perfume da vida. Mas naquele ano o que me chocou mesmo foi uma discussão no pé da Misericórdia: sobe ou não soube? "Criança sobe de ré!". Desde então minhas cores são vermelho e amarelo. Paixão e sabedoria, sempre com muita ironia.

Por que quem parte deixa saudade.

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