24.1.05

Pernambucanidades

Julio Cavani fez, finalmente, a matéria que ele imagina há mais de um ano. "Novatos desprezam clichês de identidade". A matéria é boa apesar de fazer pensar que antes da "nova geração" todo mundo era pernambucanidade. Será que o cara esqueceu do Paulo Francis vai pro Céu?

Ô Ariano, Suassuna
Não ligue a televisão
Pois pode estar passando, Paulo Francis
E você morrer do coração (repete)

Mas só que o PFVPC já segue uma tradição, não sei se cultural ou familiar, da ironia e sarcasmo pernambucanos. Assim como todas essas bandas que fazem escracho hoje em dia. Nada é fruto direto, mas a verdade é que há num sei quantos anos Ivaldevan criou um bloco chamado Língua Ferina justamente para estravazar esse sentimento. E essa porra, hoje em dia, se chama Eu acho é pouco: não tem a mesma qualidade nas críticas, mas faz umas festas legais.

Sabia que Rodolfo Mesquita faz aqueles quadros com a mesma identidade "contemporâneo globalizado" desde a Década de 60? Mas isso são apenas detalhes, a matéria é muito boa o ridículo é o tipo de afirmação de quem quer aparecer: "A pernambucanidade é uma formulação que caducou".

Existe pernambucanidade? Não. Existe cultura local, uma coisa altamente instável e mutante, que felizmente está sendo aproveitada de forma menos forçada por essa geração. Agora a reportagem foi muito interessante em abrir espaço para gente feito Marcelo Campello (que aprendeu o que é música com os malas do samba e choro pernambucanos) e Valeria Vicente, que comeu muito cuzcuz na casa dos Madureira para chegar a ser vizinha de Mestre Salustiano e finalmente entrar numa companhia de teatro contemporâneo.

Esse post é só para dizer que Amarelo Manga é mais do caralho (na minha humilde opinião e sentimento, claro) porque a mulher aparece com a buceta de fora e a camisa do Santa Cruz e pronto - e olha que sou rubro-negro. Se fosse do Real Madrid não seria a mesma coisa para mim. E duvido que o Mombojó cuspa no pandeiro que os ensinou, ou que Valeria vomite o coco que dançou.

Agora eu digo: aquela exposição do Museu do Estado "contemporâneo globalizado" é qualidade zero. Por que assim como existe aproveitamento da cultura local de forma não forçada, existe também arte contemporânea chula em qualquer lugar do mundo.

O pior é que se eu dissesse que cuspo naquela exposição virava uma instalação. Por sinal, não sei quem me contou dessa obra de arte: um monte de tomate podre para ser jogado numa parede?

É foda gente que se fantasia de inteligente.

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