27.11.09

Corrupção na arte


Dois artistas admitem ter recebido cachês bem menores do que as notas fiscais emitidas por eles aos seus produtores em Pernambuco. A notícia só ganha importânca quando a gente fala que foi o Maestro Spock e Silverio Pessoa. Mais que pessoas que tocam todos os anos nos eventos promovidos pelo Governo do Estado e Prefeitura do Recife, são referências da música pernambucana.

O mundo político reage da mesma maneira que em qualquer outro escândalo. No máximo, Silvio Costa Filho vai contratar uma consultoria de crise lá em Brasília. Eduardo Campos pede investigação no Tribunal de Contas do Estado. Jarbas Vasconcelos diz que o governador está tentando sufocar o assunto na base da ironia e do grito. A Assembléia Legislativa deve propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

E o mundo artístico?

Honestamente, fazer chacota no Carnaval chamando os outros de ladrão é muito fácil. Mais ainda, se você nem sabe quem é o artista e produtor que está cantando e tocando do seu lado.

O que seria importante é propor sugestões para exigir a transparência nas contratações. Por exemplo. Através de projeto de lei, pode-se obrigar o Poder Público a publicar em anúncio nos jornais os valores de toda e qualquer contratação de artista (através de produtora ou diretamente) acima de um certo percentual. Digamos: R$30 mil. Basta para isso relacionar os modelos de dispensa de licitação utilizados para esse tipo de contratação.

Já trabalhei em algumas gestões. Sempre há denúncias desse tipo, são comuns. Mesmo quando não chegam à imprensa, destroem a imagem dos políticos junto à classe artística, aos formadores de opinião e, especialmente, na juventude.

26.11.09

Besouro


Acabo de chegar de uma sessão do melhor que a Globo Filmes já produziu. Pena que eles não invistam pesado no marketing de Besouro.

Estava com a maior história de rivalidade Bahia X Pernambuco na cabeça. Vem o filme e bota no lugar as imagens do Recôncavo Baiano e uma música da Nação Zumbi e uma trilha assinada por Pupilo.

Cordão de ouro!

As negras são divinas. Os recursos à la Matrix estão sendo muito utilizados, mas na Capoeira ficam muito massa. Ouvi de um filho de Ogum que era a primeira vez que a religião dele era bem representada, que ele ficou com orgulho ao sair do filme.

Eu fiquei cheio de orgulho com os comentarios de meu filho de dez anos e seu amigo ao fim do filme. Muito lindo poder levar as crianças para ver um filme nacional, que realmente tem um enredo bem feito e ainda por cima é a maior diversão.

Acredito que a pesquisa seja muito boa.

A própria filosofia do candomblé torna o filme mais interessante que o normal. Ninguém é 100% bom. Mas o filme não é fábula. É dureza, capoeira, religião e seios.

- Já tinham visto tantas cenas de sexo?

- Nãaao. Claro que não.

É, eles tiveram motivos para gostar. Eu também.

24.11.09

Yorubá


Estou fazendo um curso de introdução à linguagem Yorubá. Tive a primeira aula ontem de noite. Ainda estou sob o impacto da beleza dos cânticos da gente de terreiro. Muito bonita aquela língua cantada.

Ali sou totalmente aprendiz. A turma tem uns três ou quatro gestores públicos, como eu, mas é formada basicamente por babalorixás e yalorixás.

Entreguei uma história em quadrinhos hoje para Chico e ficamos os dois conversando sobre a beleza dessa religião. Me impressiona muito o quanto essa sabedoria é de conhecimento de poucos.

Meus primeiros pensamentos. É preciso defender o estudo e a pesquisa em cima dos terreiros de Pernambuco. Temos ainda alguns mestres que guardam conhecimento impagável. Mas estamos muito longe ainda do que se produz de informação sobre a cultura afro-brasileira na Bahia, que ainda é muito pouco guardada a importância que isso tem.


Tenho pensado outras coisas, mas as vezes é preciso calar.

Nota de Inaldo Sampaio e comentário

Qual alvo? – Sempre que Fernando Bezerra Coelho (PSB) abria a boca dizendo que postula a candidatura ao Senado dentro do seu próprio partido, João Paulo (PT) se considerava o alvo dele e Armando Monteiro Neto (PTB) também. Mas ambos se equivocavam.

Será que o alvo era o vice-governador João Lyra Neto? Se for o caso o cargo fica com Humberto Costa. É a única interpretação que consegui fazer.

20.11.09

A tentação de Dudu


O governador Eduardo Campos tem tudo a perder. Na situação que está atualmente tem uma chapa imbatível. Tudo correndo tranquilo seria inevitável eleger dois senadores e conseguir sua reeleição.

Mas ninguém me tira da cabeça que os grandes adversários dele em Pernambuco são os petistas. Por mais que tenha criado uma boa relação com Humberto Costa, o grupo de João Paulo nunca foi engolido e por isso está saindo tão cedo do Governo do Estado.

A grande dúvida é quanto ao cenário nacional. Ele deve embarcar numa candidatura dificílima que será a de Dilma Roussef. A ministra pode ser uma excelente técnica, mas não dá filme. Não tem a menor poesia em cima da figura dela.

A outra opção dele vem de Minas com escala na capital cearense. É apostar na reconstituição de um capítulo perdido na história do nosso País. Aécio Neves é de Tancredo o mesmo que Eduardo Campos é de Miguel Arraes.


Eduardo seria, apostando neste cenário, o que Sarney e Renan são no Governo Lula. O resumo da ópera. Ou, em linguagem de política, a iminência parda.

10.11.09

Quem quer ser um milionário?



www.horoscopo.blogspot.com diz:
 eu ontem disse a Tuti que o negócio dele é bebidas
 para ele comprar a fábrica de polpa de meu Tio

Cyntia diz:
 e colocar vodka na polpa!
 kkk

www.horoscopo.blogspot.com diz:
 ahn???

Cyntia diz:
 concordo que o negócio de tuti é bebidas, mas bebidas alcoólicas. Ou seja, tem q colocar vodka na polpa de fruta de teu tio

www.horoscopo.blogspot.com diz:
 kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
 ia dar muito dinheiro essa tua idéia
 um frozen já preparado de vodka com polpa
 você é uma gênia
 !!!

9.11.09

Salvem a Baía da Guanabara


Meu avô contava que quando era jovem nadava da praia de Botafogo até não ver mais os prédios e voltava para a orla. Essa história me fascinava pois falava de um Rio de edificações que não eram tão altas e de um mar sem sujeira. Além de um carioca saldável, que mostra claramente o quanto essa história de geração saúde é antiga na então Capital Federal.

O velejador Lars Grael, um dos maiores atletas olímpicos da história brasileira, essa semana deu uma entrevista defendendo a mudança das competições de vela para Búzios. Os argumentos são fortes. "A raia da Baía de Guanabara é pequena para todas as classes de vela e o vento muito inconstante - no Pan-Americano de 2007, a vela atrasou e teve um dia de regatas cancelados por falta de vento. Logo, o Rio não atende a essa necessidade. Para abrigar todas as raias, o Rio-2016 teria de sair da baía. Em Búzios, existe espaço para todos os campos de regata e as variações de vento e condições climáticas em geral são mais adequadas à vela".

Não tenho como discordar do cara em argumentos esportivos. No entanto, apesar de admirador da vela vejo como prioridade para o Brasil o investimento na baía de Guanabara.

Imaginar que as Olimpíadas seriam um fato suficiente para devolver ao Brasil as 44 praias da Baía de Guanabara para mim já seria argumento suficiente para todo o investimento em 2016.

Ganham todos os moradores do Rio de Janeiro. Quem mora em Botafogo vai poder usar a praia, vai ter seu imóvel valorizado, mas vai também abrir espaço em Ipanema para o morador que não aguentava mais tanta gente no seu quintal. Imaginemos o efeito financeiro dessa operação de limpeza, mesmo que em 2016 estejamos somente no meio do processo, sobre os já valorizados imóveis da capital carioca?

Mas, fora isso, estamos falando também de devolver praias a uma população enorme de lugares que são considerados periferia. Vou estudar mais e completo o post. O tema é mais interessante do que eu imaginava.

http://www.portalbaiadeguanabara.com.br/

8.11.09

Cubalançando



Li Viagem ao Crepúsculo de uma tacada só. Comprei na Bienal do Livro, deitei ao lado de Chico e passamos a tarde em silêncio. Ele lendo os mangás que tinha ganho de presente do Dia das Crianças e eu reconhecendo as mau traçadas do meu velho professor de Técnicas de Reportagem.

Samarone Lima entra em uma lista de poucos grandes mestres que tive na vida. Sempre tive pena dele não ter continuado como professor da Universidade Católica de Pernambuco, seria um belo substituto para a minha querida Marinita Neves na disciplina de sensibilidade estética e social avançada.

Felizmente, no ano passado peguei uma carona com ele entre o Aeroporto de Brasília e o hotel onde ele se hospedava, em que ele me relatou a problemática do projeto Oi Kabum, especialmente depois da saída do seu fundador, Ricardo Melo.

Foi bom saber que ele continua se interessando e fazendo coisas boas nessa vida. Viagem ao Crepúsculo foi mais uma demonstração da dedicação e competência desse cara.

Cuba foi um tema da geração dos meus pais. Infelizmente, os mesmos dilemas do povo cubano continuam no Século XXI. Botei ai embaixo a tradução de uma postagem de hoje do blog Generacion Y. Leiam. A blogueira Yoani Sanchez foi sequestrada e sofreu agressões quando ia participar de um protesto anti-violência. Surreal!!!

Para quem não acreditar dou a dica. Aproveite o domingo, vá ao Poço da Panela, tome uma cerveja na barraca de Seu Vital e compre um exemplar de Viagem ao Crepúsculo. O livro mostra aquela mesma realidade que minha mãe relatou quando foi à ilha de Fidel Castro na Década de 90.

Um país miserável. Uma população amedrontada pela sistemática perseguição. A imprensa amordaçada. Profissionais de qualidade sendo forçados a exercerem funções indignas no mercado negro da ilha. Pessoas doentes se submetendo a situações vexatórias, no que não é mais um belo exemplo de sistema de saúde (o livro serve como contra-ponto ao filme de Michel Moore que tem uma cena sobre Cuba).

Nunca estive na ilha. Espero ter a oportunidade de ir ver um país livre da Ditadura. Isso se torna uma promessa, só vou a Cuba quando acabar o mais longo período repressivo da América Latina. Mas tive esses dois relatos de pessoas que são mais socialistas do que eu, minha mãe e Samarone.

Sou também leitor de Pedro Juan Gutierrez. Tenho todos os livros que ele publicou. Ele conta a mesma situação absurda na sua ficção e se nega a discutir política em entrevistas. Evidentemente, lhe falta coragem para algumas coisas, mas os seus relatos são mordazes.

De que adianta ter um ótimo sistema de ensino, se na vida real as crianças cubanas são levadas à Escola da Mula Sem Cabeça? Obrigadas a viver na roda viva entre pedir esmolas e assaltar os turistas mais bobos. Minha mãe foi vítima de um roubo em seu primeiro dia de viagem, pois seu grupo de amigos intelectuais esquerdistas decidiu dar bandeira pelas ruas de Havana Velha. Samarone com aquela barba todinha de malandro porto-riquenho ainda correu de uma galera de adolescentes.

Não vou ficar fazendo crítica literária depois de um absurdo como esses, mas deixo só minha dica. Leiam o post ai embaixo e comprem Viagem ao Crepúsculo. Imperdível, para quem quer entender o que realmente se passa em Cuba.

O blog de Sama: www.estuario.com.br

Secuestro estilo camorra

Do: http://www.desdecuba.com/generaciony/
Por: Yoani Sanchez

Próximo da rua 23 e exatamente no trevo da Avenida de los Presidentes foi que vimos chegar num automóvel preto - de fabricação chinesa - tres robustos desconhecidos: “Yoani, entre no automóvel” me disse um enquanto me continha fortemente pela mão. Os outros dois rodeavam Claudia Cadelo, Orlando Luís Lazo e uma amiga que nos acompanhava para uma marcha contra a violência. Ironias da vida, foi uma tarde cheia de golpes, gritos e palavrões que deveria transcorrer como uma jornada de paz e concórdia. Os mesmos “agressores” chamaram uma patrulha que levou minhas outras duas acompanhantes, Orlando e eu estávamos condenados ao automóvel de chapa amarela, ao pavoroso terreno da ilegalidade e à impunidade do Armagedón.

Neguei-me a subir no brilhante Geely e exigimos que nos mostrassem uma identificação ou uma ordem judicial para levar-nos. Claro que não mostraram nenhum papel que provasse a legitimidade de nossa prisão. Os curiosos se comprimiam ao redor e eu gritava “Ajuda, estes homens querem nos sequestrar”, porém eles pararam os que queriam intervir com um grito que revelava todo o fundo ideológico da operação: “Não se metam, estes são uns contrarrevolucionários”. Ante nossa resistência verbal, pegaram o telefone e disseram à alguém que devia ser o chefe: O que fazemos? Não querem entrar no automóvel”. Imagino que do outro lado a resposta foi taxativa, porque depois veio uma explosão de golpes, empurrões, me levaram de cabeça para baixo e tentaram enfiar-me no carro. Resisti na porta…golpes nas juntas…consegui pegar um papel que um deles levava no bolso e o meti na boca. Outra explosão de golpes para que devolvesse o documento.

Orlando estava dentro, imobilizado numa chave de karatê que o mantinha com a cabeça colada no chão. Um pôs seu joelho sobre meu peito e o outro, do assento da frente me batia na região dos rins e me golpeava a cabeça para que eu abrisse a boca e soltasse o papel. Num momento, sentí que nunca sairia daquele automóvel. “Chegaste até aqui Yoani”, “Acabaram tuas palhaçadas” disse o que ia sentado ao lado do chofer e que me puxava o cabelo. No assento de trás um espetáculo invulgar acontecia: minhas pernas para cima, meu rosto avermelhado pela pressão e o corpo dolorido, do outro lado estava Orlando restringido por um profissional da surra. Só consegui agarrrar este - através das calças - nos testículos, num ato de desespero. Afundei minhas unhas, supondo que ele iria continuar esmagando meu peito até o último suspiro. “Mate-me já” gritei, com o último fôlego que me restava e o que ia na parte da frente advertiu ao mais jovem “Deixe-a respirar”.

Escutava Orlando ofegar e os golpes continuavam caindo sobre nós, pensei em abrir a porta e atirar-me, porém não havia uma maçaneta por dentro. estávamos a mercê deles e escutar a voz de Orlando me dava ânimo. depois ele me disse que o mesmo ocorria com as minhas palavras entrecortadas…elas lhe diziam “Yoani continua viva”. Nos descartaram doloridos numa rua de la Timba, uma mulher acercou-se “O que lhes aconteceu?”… “Um sequestro”, atinei de dizer. Choramos abraçados no meio da calçada, pensava em Teo, por Deus como vou explicar-lhe todos esses hematomas. Como vou dizer-lhe que vive num país onde isto acontece, como vou olhá-lo e contar-lhe que a sua mãe, por escrever um blog e por suas opiniões em kilobytes, foi agredida em plena rua. Como descrever-lhe a cara despótica dos que nos colocaram a força naquele automóvel, o prazer que se notava ao pegar-nos, ao levantar minha saia e arrastar-me semi-nua até o carro.

Consegui ver, não obstante, o grau de temor de nossos atacantes, o medo ao novo, ao que não podem destruir porque não compreendem, o terror valentão dos que sabem que tem seus dias contados.

Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto

6.11.09

A candidatura de Marina

Eu e Bernardo iniciamos uma discussão via comentários sobre a candidatura de Marina. Para não ficar parecendo um bate-boca, decidi escrever algo sobre o que penso das eleições presidenciais do ano que vem.

Durante o Governo Fernando Henrique Cardozo, eu fazia parte de uma minoria entre os meus amigos que via coisas muito positivas na gestão tucana. Da mesma maneira, vejo muitas coisas boas nos oito anos de Lula. Não diria que sou defensor de nenhum dos dois presidentes, mas é evidente que foi um salto enorme para quem vinha de Ditadura, Sarney e Collor.

O debate político no Brasil estava meio estagnado. O tempo que passei, entre 2007 e 2008, em Brasília foi justamente um momento de total falta de esperança. Após o mensalão, as denúncias de corrupção continuavam a aparecer e já eram acompanhadas pela mídia com uma certeza de que tudo terminaria em pizza. Ao mesmo tempo, ideologicamente o debate foi ficando cada vez mais ralo.

O PT fez um Governo de coalizão com a direita. Perdeu seus quadros ideológicos: Marina, Paulo Rubem, Chico Alencar. A oposição demorou para conseguir um discurso que realmente pegasse. A questão ética, que foi a grande aposta, naquele fim do primeiro Governo Lula, acabou não sendo suficiente para diminuir a popularidade do presidente.

Para onde iríamos? Teve uma hora, sinceramente, que cansei de achar que o problema do Brasil é simplesmente a roubalheira. Como é que vai se enfrentar a corrupção com uma mídia desqualificada e um sistema jurídico completamente viciado?

A candidatura de Cristovam Buarque cantou uma pedra. Vamos voltar à Educação.

Honestamente, é a questão que eu mais elogio no Governo Lula. Por ter voltado a fazer investimento nas universidades públicas. O Prouni é uma grande falácia, pois as faculdades particulares são péssimas, mas é uma oportunidade que milhares de jovens estão tendo e especialmente no Nordeste e em regiões pobres tem seu valor. Digo isso com toda a experiência de quem tem ao lado na minha sala pessoas que honestamente eu imagino que não seriam hoje bons jornalistas sem esse programa.

Mas falta muito para ser um ponto fundamental deste Governo.

Os fundamentos da economia, e ai vai ser uma discussão eterna, vieram do Governo do PSDB. Lembro que conversei muito sobre isso com Paulinho. Ele, assessor do Ministério da Fazenda durante a segunda gestão FHC, dizia que Lula não saberia superar a crise no mercado de ações e tals. Eu dizia exatamente o que digo até hoje, ele fará mais do mesmo e vai tudo acabar se normalizando.

Enfim, chegou a um ponto que os próprios tucanos (Armínio Fraga!) reclamam dos juros altos.

Não tenho certeza ainda do meu voto em Marina no ano que vem. Mas acho que dificilmente uma candidatura me fará ter tanta vontade de discutir a política brasileira como o que tenho sentido a partir dessa perspectiva.

Quer dizer, via cada vez mais o Brasil com um sistema partidário semelhante ao dos Estados Unidos. Os democratas e os republicanos, que têm exatamente o mesmo discurso, e discordam em questões éticas ou relativas a setores específicos. Aqui, é piorado porque os lobistas que vivem em Brasília não têm carteirinha de profissional, mas têm mandato parlamentar.

Como tratar com a bancada ruralista? O que sei é que a política de aliança implementada pelo Governo Lula não deu certo. Eles são um grupo que têm compromisso primeiramente com o grupo econômico que representam. E assim é também com os representantes das igrejas protestantes, com os defensores de conglomerados educacionais privados, das entidades pseudo-beneficientes...

Espero que Marina vá para o pau. Tenho conciência de que isso pode significar uma decisão que vá trancar a pauta no Congresso e possivelmente impossibilitar a realização de uma gestão bem avaliada. Mas é o processo histórico. Têm enfrentamentos que precisam ser realizados, mesmo que sejam infrutíferos neste momento. Agora, eu não sei se é isso que aconteceria numa hipotética gestão do Partido Verde.

O que sei é que quando ela saiu do PT e começou a receber as críticas, de gente que a acusava de estar sendo financiada pela oposição, eu sonhei que ela procurasse o P-Sol para uma aliança. Foi o primeiro movimento político que ela fez e me parece ser uma estratégia boa eleitoralmente e politicamente para ambos os partidos e especialmente rica para o País, por criar uma terceira via com um discurso realmente dissociado do que vem sendo falado pelos grupos majoritários politicamente no Brasil.

4.11.09

Para Edilson Silva, aproximação entre Marina Silva e PSOL tira a paz de Zé Dirceu

POSTADO ÀS 09:48 EM 04 DE Novembro DE 2009

Por Edilson Silva

Está lá no blog do Zé Dirceu: “Marina candidata dá adeus à coerência. Ao aliar-se ao PSOL, a senadora Marina Silva (PV-AC), presidenciável de seu partido, coloca-se na oposição radical não só ao governo Lula, como ao PT. Rompe, assim, totalmente com o seu passado e revela o caráter não programático de sua candidatura (...)”.

O posicionamento de Zé Dirceu se deu logo após declarações de Marina Silva à imprensa afirmando que busca apoio do PSOL à sua candidatura. Não vamos aqui discutir a autoridade de Zé Dirceu para tocar no tema coerência.

O capo do PT, ao acusar o golpe preventivamente, dá por tabela um recado curto e grosso: a candidatura de Dilma Roussef treme diante da possibilidade de aliança entre Marina Silva e o PSOL, cujo símbolo junto ao povo é a futura senadora por Alagoas, Heloisa Helena. Ele sabe que o resultado da química entre estes dois pólos pode ser muito maior do que uma simples soma de percentuais em pesquisas de intenção de voto, e que pode ter desdobramentos pós-eleitorais nada animadores para ele e sua forma condenável de fazer política.

Mas, obviamente, o objetivo do líder petista ao voltar suas baterias contra Marina Silva e o PSOL não é dar este aviso ao mundo e demonstrar esta fraqueza, o que seria um desserviço ao seu campo político. Sua declaração tem outros objetivos: por um lado provocar Marina Silva ou seus interlocutores para que desmintam a afirmação de que sua candidatura é de oposição radical ao governo Lula e ao PT, e por outro tentar amarrar a base eleitoral e militante do PT, acusando Marina Silva de rompimento com seu passado, trazendo a idéia de abandono e traição.

Zé Dirceu está preocupado em ganhar a eleição de 2010, mas está preocupado também com a manutenção da musculatura militante do PT e da ex-esquerda que ele representa. Ao tentar arrancar declarações de Marina Silva contra a “oposição radical a Lula e o PT”, tenta transformar o potencial diálogo entre esta e o PSOL numa torre de Babel.

Zé Dirceu pode ser tudo, menos burro. Ele está disputando o perfil da candidatura de Marina Silva, que com seu simples gesto mais à esquerda gerou esta inquietação na cúpula petista. Que venham mais gestos nesta direção por parte de Marina Silva e que ninguém do lado de cá caia nas provocações primárias de Zé Dirceu. A reorganização de uma esquerda autêntica, coerente e com força política, agradece.

PS: Edilson ( www.twitter.com/EdilsonPSOL ) é presidente do PSOL-PE e membro da Direção Executiva Nacional do PSOL.

PS2: Nunca postei nada de Edilson, mas esse artigo achei extremamente coerente.

3.11.09

Uma difícil (e importante) aliança

Quando surgiu a possibilidade de uma candidatura de Marina Silva pelo PV fiquei achando que a maior dificuldade seria a da candidata lidar com um partido sem identidade ideológica.

O Partido Verde tem um discurso que o une: a questão ecológica. Fora isso, é formado por aglomerados regionais. Um mini PMDB, que tem oposicionistas pela Esquerda (Gabeira), pela Direita (Daniel Coelho) e talvez uma maioria que tenha certa identidade com o Governo Federal (o filho de Sarney).

Marina entra e começa a se colocar como possível candidata e seu primeiro movimento é buscar uma aliança com o P-Sol. Para mim, é uma demonstração de maturidade e competência dessa pequena mulher acreana. Resta saber se Chico Alencar e companhia terão condições de dar uma resposta à altura.

O P-Sol, ao contrário do que diz Zé Dirceu e do que gostam de dizer os seus militantes, nunca fez uma oposição radical. No Congresso Nacional, não foram poucas as vezes em que os parlamentares do partido assumiram uma posição favorável ao Governo.

Até sua marca mostra o que eles são realmente. O Sol é uma estrela. Por sinal, a nossa. Não é Marte, que na calada da noite nos engana e chegamos a pensar que seja a maior de todas. Uma delas.

É um grupo que se identifica com os mesmos princípios que formaram o Partido dos Trabalhadores, mas que em certo momento disse um basta. Não conseguiram mais conviver com as incoerências do exercício do Poder pelo Governo Lula.

Não vão faltar adversários para essa aliança. Com certeza, a maior chance de Marina Silva ganhar o que mais lhe faltaria em sua candidatura, uma base ideológica e de militantes com disposição para o trabalho político.

Pode ficar preocupado Zé Dirceu. De minha parte, gostaria de ver também o campo de esquerda do PDT nessa discussão da candidatura do PV. Mas acho que esses dois partidos juntos já podem fazer com que o nível das eleições de 2010 suba muito, muito mesmo.

Fico feliz de imaginar. Chico Alencar e Marina no Rio. Ivan Valente e Marina em São Paulo. Nosso vereador do Greenpeace e Marina no Ceará. A filha de Tarso Genro e Marina no Rio Grande do Sul (essa união é mais engraçada e surreal!). Heloisa e Marina nas Alagos também. Faz parte.

Essa aliança não é importante somente para o PV, é principalmente o teste de fogo do P-Sol. Vejamos se eles conseguem traçar um caminho diferente do que era o PT e mais ainda do que é atualmente o partido onde eles fizeram a maior parte das suas vidas políticas.

DO BLOG DE ZÉ DIRCEU: ALIANÇA PV-P-SOL PREOCUPA PETISTAS

Marina candidata dá adeus à coerência

Ao aliar-se ao PSOL, a senadora Marina Silva (PV-AC), presidenciável de seu partido, coloca-se na oposição radical não só ao governo Lula, como ao PT. Rompe, assim, totalmente com o seu passado e revela o caráter não programático de sua candidatura. Suas alianças irão do PSOL ao PSDB, passando pelo DEM.

Rompe com sua história, repito, e com questões que ela tanto criticou, como a busca dos partidos por alianças para obtenção de maior tempo de campanha na TV e aproximações com o empresariado, que ela está adotando.
Saiu a campo em defesa da adoção de regras claras para a pré-campanha na legislação e critica aparições da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff em eventos e ações do governo federal no período pré-eleitoral.

Marina considerou como campanha, a viagem de inspeção do presidente Lula e da ministra às obras de transposição do rio São Francisco, mas sobre a presença de outros dois presidenciáveis nessa viagem, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), não fala nada (nota abaixo).

Tentativa viola direitos do presidente e da ministra

É risível esse aval que a pré-candidata presidencial do PV, senadora Marina Silva (AC), dá às acusações do PSDB-DEM sobre o caráter eleitoral das inaugurações ou vistorias (post acima).

O fato é que os governadores e todos os prefeitos - dentro do prazo legal - além de governarem, não têm nenhum impedimento legal para visitar e inaugurar obras. Nem Marina os cobra por isso, só ao presidente da República e à ministra Dilma Rousseff.

Essas tentativas de cercear a ação governamental do presidente da República e da Chefe da Casa Civil é que são uma violação do direito deles. Uma tentativa de cercear a ação legal do chefe do governo e da ministra pré-candidata.
Afinal, os adversários de Lula e de Dilma, os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves fazem o mesmo em seus Estados e, também, no próprio Nordeste como é público e notório.

2.11.09

Tarefas para o Brasil olímpico

26 de outubro de 2009

artigo : Aldemir Teles // Mestre em Neurociências
aldemirteles@uol.com.br

O Brasil conquistou, finalmente, o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, após várias candidaturas frustradas. A primeira candidatura ocorreu para os Jogos de 1936, que não obteve nenhum voto, depois para os Jogos de 2004 e 2012. Além do ineditismo de sediar os Jogos pela primeira vez na América do Sul, o Rio de Janeiro será a terceira cidade a receber a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos em um prazo de dois anos. As outras cidades são México, que recebeu os Jogos em 1968 e o Mundial de 1970, e Munique com a Olimpíada em 1972 e a Copa de 1974. A importância dos Jogos Olímpicos não se resume ao espetáculo esportivo capaz de atrair bilhões de espectadores. Os Jogos celebram a convivência harmoniosa entre os povos, através da linguagem universal da beleza atlética e simbolizam um apelo à continuidade do processo civilizador.

A vitória brasileira sobre as cidades concorrentes, com reconhecido poderio econômico, desenvolvimento social e forte tradição cultural, Chicago, Tóquio e Madri, valorizou ainda mais a nossa conquista. Subimos ao pódio onde poucos acreditavam que essa façanha pudesse acontecer agora. Dentre os motivos que nos levaram à conquista destacam-se: o bom momento da economia brasileira e as garantias de investimento do governo, cerca de 29,5 bilhões de reais, o trabalho competente de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), do Ministro dos Esportes Orlando Silva e a perspectiva de descentralização sócio-geográfica, um passo importante para a universalização dos Jogos. Aspectos sentimentais, como a simpatia que os brasileiros despertam mundo afora também podem ter contribuído. Então deu Rio de Janeiro, Brasil. Nada mal para o “último país alegre do mundo”, na opinião do filósofo português Manoel Sérgio ou no dizer do sociólogo italiano Domenico De Masi – “em nenhum outro país do mundo a sensualidade, a oralidade, a alegria e a ‘inclusividade’ conseguem conviver numa síntese tão incandescente”.

Mal terminada a festa e passada a ressaca vamos retornar à realidade. “Sim, nós podemos”, essa é a frase do momento. Nós podemos mesmo? Se não fosse o prazo para a realização do evento, diria que fomos pegos de calça curta. Investimentos e infraestrutura à parte quero referir-me a nossa futura participação. Há tempo carecemos de uma política de esportes consistente, com objetivos claros e prioridades bem definidas. A finalidade primeira para uma nova política de esportes deveria consistir no fomento da cultura esportiva para toda a população, que possa se constituir em importante fator de desenvolvimento social. Talvez esse deva ser o principal legado das Olimpíadas 2016. Considero pouco provável que o desenvolvimento pleno de uma nação possa ocorrer sem investimentos na consolidação da cultura do esporte. Tornar-se uma potência olímpica não deveria ser prioridade, mas poderá ser a consequência natural de uma política bem conduzida. Além do esporte espetáculo, dirigido para potenciais consumidores, fomentar a cultura do esporte significa universalizar a prática esportiva, começando pela escola, a fim de assegurar a formação integral dos jovens e que atenda integralmente os preceitos constitucionais, que asseguram a prática esportiva como um direito de todos os cidadãos e a sua promoção um dever do Estado. A Constituição considera três manifestações do esporte a serem contempladas: o escolar, o de participação e o de rendimento.

Vale lembrar o estudo do IPEA sobre a eficiência da participação dos países nas Olimpíadas de Beijing, 2008. O Brasil obteve 3 medalhas de ouro, 4 de prata e 8 de bronze, mas de acordo com o nosso potencial, deveria ter conquistado 20 medalhas de ouro, 18 de prata e 26 de bronze. Dessa forma teríamos conquistado a 6ª. colocação e nao a 20ª no quadro de medalhas. A avaliação considera a riqueza econômica do país, o tamanho da população e a esperança de vida ao nascer. O estudo revela, enfim a discrepância entre viabilidade econômica e a efetividade da política de esporte.

A contagem regressiva já começou. Os atletas que representarão o Brasil já estão em atividade, a maioria tem entre 10 e 20 anos. Alguns nomes já são conhecidos e certamente representarão o país em 2016, outros serão revelados. Mãos à obra!