6.11.09

A candidatura de Marina

Eu e Bernardo iniciamos uma discussão via comentários sobre a candidatura de Marina. Para não ficar parecendo um bate-boca, decidi escrever algo sobre o que penso das eleições presidenciais do ano que vem.

Durante o Governo Fernando Henrique Cardozo, eu fazia parte de uma minoria entre os meus amigos que via coisas muito positivas na gestão tucana. Da mesma maneira, vejo muitas coisas boas nos oito anos de Lula. Não diria que sou defensor de nenhum dos dois presidentes, mas é evidente que foi um salto enorme para quem vinha de Ditadura, Sarney e Collor.

O debate político no Brasil estava meio estagnado. O tempo que passei, entre 2007 e 2008, em Brasília foi justamente um momento de total falta de esperança. Após o mensalão, as denúncias de corrupção continuavam a aparecer e já eram acompanhadas pela mídia com uma certeza de que tudo terminaria em pizza. Ao mesmo tempo, ideologicamente o debate foi ficando cada vez mais ralo.

O PT fez um Governo de coalizão com a direita. Perdeu seus quadros ideológicos: Marina, Paulo Rubem, Chico Alencar. A oposição demorou para conseguir um discurso que realmente pegasse. A questão ética, que foi a grande aposta, naquele fim do primeiro Governo Lula, acabou não sendo suficiente para diminuir a popularidade do presidente.

Para onde iríamos? Teve uma hora, sinceramente, que cansei de achar que o problema do Brasil é simplesmente a roubalheira. Como é que vai se enfrentar a corrupção com uma mídia desqualificada e um sistema jurídico completamente viciado?

A candidatura de Cristovam Buarque cantou uma pedra. Vamos voltar à Educação.

Honestamente, é a questão que eu mais elogio no Governo Lula. Por ter voltado a fazer investimento nas universidades públicas. O Prouni é uma grande falácia, pois as faculdades particulares são péssimas, mas é uma oportunidade que milhares de jovens estão tendo e especialmente no Nordeste e em regiões pobres tem seu valor. Digo isso com toda a experiência de quem tem ao lado na minha sala pessoas que honestamente eu imagino que não seriam hoje bons jornalistas sem esse programa.

Mas falta muito para ser um ponto fundamental deste Governo.

Os fundamentos da economia, e ai vai ser uma discussão eterna, vieram do Governo do PSDB. Lembro que conversei muito sobre isso com Paulinho. Ele, assessor do Ministério da Fazenda durante a segunda gestão FHC, dizia que Lula não saberia superar a crise no mercado de ações e tals. Eu dizia exatamente o que digo até hoje, ele fará mais do mesmo e vai tudo acabar se normalizando.

Enfim, chegou a um ponto que os próprios tucanos (Armínio Fraga!) reclamam dos juros altos.

Não tenho certeza ainda do meu voto em Marina no ano que vem. Mas acho que dificilmente uma candidatura me fará ter tanta vontade de discutir a política brasileira como o que tenho sentido a partir dessa perspectiva.

Quer dizer, via cada vez mais o Brasil com um sistema partidário semelhante ao dos Estados Unidos. Os democratas e os republicanos, que têm exatamente o mesmo discurso, e discordam em questões éticas ou relativas a setores específicos. Aqui, é piorado porque os lobistas que vivem em Brasília não têm carteirinha de profissional, mas têm mandato parlamentar.

Como tratar com a bancada ruralista? O que sei é que a política de aliança implementada pelo Governo Lula não deu certo. Eles são um grupo que têm compromisso primeiramente com o grupo econômico que representam. E assim é também com os representantes das igrejas protestantes, com os defensores de conglomerados educacionais privados, das entidades pseudo-beneficientes...

Espero que Marina vá para o pau. Tenho conciência de que isso pode significar uma decisão que vá trancar a pauta no Congresso e possivelmente impossibilitar a realização de uma gestão bem avaliada. Mas é o processo histórico. Têm enfrentamentos que precisam ser realizados, mesmo que sejam infrutíferos neste momento. Agora, eu não sei se é isso que aconteceria numa hipotética gestão do Partido Verde.

O que sei é que quando ela saiu do PT e começou a receber as críticas, de gente que a acusava de estar sendo financiada pela oposição, eu sonhei que ela procurasse o P-Sol para uma aliança. Foi o primeiro movimento político que ela fez e me parece ser uma estratégia boa eleitoralmente e politicamente para ambos os partidos e especialmente rica para o País, por criar uma terceira via com um discurso realmente dissociado do que vem sendo falado pelos grupos majoritários politicamente no Brasil.

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