22.5.05

Muribeca

Faz uns três meses que retomei a tarefa semanal de ir ao Sítio. Muita gente que me conhece já ouviu falar desse lugar, mas pouquíssima gente foi até lá. É que esses 11 hectares ficam numa das áreas mais perigosas e miseráveis da Região Metropolitana do Recife. Então, desde a morte do meu pai, tirando um tempo que minha mãe e Paulo tentaram plantar lá, a gente tinha deixado praticamente abandonado.

Durante muitos anos, a única ligação da minha família - além da posse - com as terras era a visita semanal de Seu Julio. Ele antes vinha e conversava e falava os problemas e depois passou a ir esquecendo e mudando a relação, chegando a um ponto que ele praticamente só pegava o salariozinho dele. De tal maneira a relação foi se fazendo que o agricultor passou a ser o único caseiro que não mora no trabalho que conheço. É isso mesmo. Ele ficou com medo e resolveu sair da casa que tinha gratuitamente e construir um local para morar em um arruado.

Mas estou aqui para falar da volta. Quem me convenceu a ir foi Marta. Demos uma olhada e na semana seguinte eu voltei e passei a voltar todos os sábados, com excessão dessa semana (quando adiantei para a sexta, não quero ficar marcado).

O lugar é muito problemático. Fica perto daquela Lagoa Azul (sei lá? Como é mesmo o nome). Mas fica mais perto ainda da Vila Palmares (favela criada por Newton Carneiro), do Lixão da Muribeca e de um acampamento do MST. Ou seja, é dentro de um espaço em que o Poder Público praticamente não chegou, apesar de haver um grande esforço que pelo menos mudou a cara do Aterro Sanitário (mudou mesmo!).

Não chegou porque, apesar de 90% dos moradores do local viverem de reciclagem de lixo, o trabalho (revolucionário) dos catadores continua sendo feito da maneira mais arcaica possível. E tendo o preço que os intermediários querem dar. Na minha primeira ida, com Marta, um policial me ofereceu para fazer uma visita ao Aterro.

- Traga sua família para dar uma volta num sábado. É importante para conhecer a realidade.

Eu ainda não encontrei Seu Silva para dizer a ele que topo o desafio, mas acho que ele fez a proposta para a pessoa certa. Tenho muita curiosidade por esse outro lado da divisão social e acho que só se melhora as coisas conhecendo de perto as problemáticas. Esse texto todinho é para dizer que vou começar a escrever uns perfis de umas pessoas aqui no blog. Seu Julio, Luciano, German, Dona Tereza, Seu Silva.

Sempre gostei de conversar com gente diferente e achei o máximo semana passada quando Julia fez uma coisa bem parecida com isso. Ela encontrou um bêbado na rua, ficou conversando, deu dois reais, continuou conversando e resolveu pegar um táxi para levar o cara para um Caps, onde uma amiga dela o atendeu.

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