20.12.05

Férias

Ainda queria falar sobre a morte de Tiago João da Silva. Um cara de 18 anos. Conhecido desde os 11 pelo apelido de Menino-Aranha. Adorava sair em jornal. Foi assassinado pouco tempo depois de sua cara ser divulgada pelo Diario de Pernambuco. O Jornal do Commercio ainda resistiu a tentação. Não acho que tenha sido coincidência. Para mim, os 17, 20 ou 24 tiros poderiam ter sido evitados com um pouco de responsabilidade editorial. Lógico que o Estado também tem sua responsabilidade, até maior, por não conseguir ressocializar ninguém (e falo isso depois de ter ido em quase todas as unidades da Fundac em Pernambuco). Mas é triste ver que a burrice da Lei só não é maior que a nossa ganância pelo lucro (!?) fácil.

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Mas esse blog entra definitivamente de férias a partir desta quinta-feira. No fim de janeiro estou de volta. Paris, Nancy, Bernna, Paris, Nanteuil, Barcelona, Madri, Lisboa. Quem sabe não consigo botar uma foto aqui.

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Aos que eu não consegui falar tudo de bom. Nada de devagar e sempre. Prazer em doses cavalares é necessário. Bom Natal e Feliz 2006!

29.11.05

Crônica de uma tragédia

ARTIGO

Nasci em 52, mas estive na final de 50

Publicado em 29.11.2005 no Jornal do Commércio do Recife

ANTONIO AZEVEDO

Finalmente, sei o que sentiram os 200.000 brasileiros que estavam no Maracanã, em 1950. Vivo no Recife há cinco anos e aqui redescobri o ambiente de futebol que vivi em São Paulo nos anos 60, e como bom santista não tenho outro time a não ser o meu. Entretanto, pelo ambiente familiar que reina nas ruas e nos estádios daqui, vou freqüentemente aos jogos dos times locais. No sábado optei pelo jogo dos Aflitos. Provavelmente eu era o único entre os 21.950 torcedores do Náutico que não vestia a camisa alvirrubra, os outros 50 vestiam a do Grêmio. Sem entrar em maiores detalhes da partida, conhecidos por todos, eis o que presenciei: durante os 25 intermináveis minutos de paralisação: os torcedores rezavam, andavam de um lado para o outro, sentavam, levantavam e vibravam a cada nova expulsão. Eu torcia para que houvesse mais uma e acabasse o drama, sim, o drama, pois via os jogadores do Náutico se portando como os torcedores e temia pelo desfecho, pois o técnico, como todos lá presentes, também sem controlar as suas emoções, em nenhum momento reuniu a equipe e montou uma estratégia para os 10 minutos restantes, para usar com a vantagem de quatro jogadores.

De repente, pegaram a minha mão esquerda, era um menino de nove anos, que me disse que daria sorte. Quase simultaneamente um senhor fez o mesmo com a minha mão direita, a corrente espalhou-se pelo estádio, e quando olhei para a área do Náutico, o zagueiro Batata, o goleiro e mais outro jogador estavam ajoelhados e também de mãos dadas, rezando, quando houve a defesa do pênalti, Kuki e outros jogadores se jogaram ao chão em desespero.

Mas o time e a torcida prepararam-se psicologicamente para uma decisão naquele pênalti, esquecendo que ainda havia preciosos 10 minutos a jogar, com 11 alvirrubros contra sete gremistas. Logo a seguir, a torcida foi tomada por um sentimento de desespero, impotência e frustração jamais vista por mim em nenhuma outra situação: vi vovôs, vovós, garotos, garotas e crianças chorando copiosamente, sem saber o que fazer, vi inúmeros torcedores falando sozinhos, clamando a Deus o porquê daquilo, gente na rua, que de repente, dava meia-volta em direção ao estádio, como se fosse possível voltar o tempo, vi gente andando e sem mais nem menos, de repente, parar, sentar no meio-fio e começar a chorar, vi inúmeros amigos amparando outros em tentativas inúteis de consolo e, sem sucesso, juntavam-se num abraço sofrido e vi muitos outros alvirubros sentados e sem força para sair do estádio, pois não sabiam para onde ir e nem o que fazer...

Eu que tanto li e ouvi a respeito da comoção do Maracanã e que, na década de 60, na minha primeira visita a esse estádio sentei na arquibancada vazia e fiquei imaginando aquele fatídico dia, hoje posso afirmar: eu, que nasci em 1952, também estive naquela final de 1950 !

Antonio Azevedo é paulista

27.11.05

Só sendo

Tudo deu errado.

Me fudi.

Num tinha mais o que fazer.

Comecei a me desesperar.

Nem fugindo.

Fudeu!

Ai me lembrei:

Podia ter nascido alvirrubro.

Comecei a rir...

Ps: Juro que torci mais do que muitos torcedores do Nautico, mas foi a coisa mais surreal que já vi no futebol.

24.11.05

Diálogo recente

- Meu irmão você num tem vergonha não. Mentiu o suficiente para uma vida inteira dizendo que as passagens iam baixar com a saída das kombis.

- Caralho! Tu não vais mais para o céu não.

- Eu só escrevia porque o meu chefe mandava.

- E eu acreditava naquele papo do prefeito.

- Eu tô ligado... Preocupado com todas as pessoas do Recife que vão procurar emprego a pé...

- Quantas vezes eu não coloquei aqueles índices no papel?

- A gente tinha tudo decorado. Ainda bem que já esqueci tudinho.

Só ficou mesmo o sentimento de um esforço enorme feito em vão.

Eu aprendi.

22.11.05

R$ 0,15 centavos

Eu que pego ônibus todo dia acho que não faz diferença nenhuma o aumento das passagens.

Isso de achar que o povo está preocupado com as moedas é coisa de maluco do PSTU.

Se pessoas sérias como o prefeito João Paulo e o governador Jarbas Vasconcelos aprovaram eu tenho mais que dar com prazer as moedinhas.

Aliás, eu nem dou. Deixo de receber.

Tudo bem que sempre tem aquela surpresa. Cadê? Com o um real que eu tinha eu poderia voltar, se... O velho se?

Mas para que voltar para casa de ônibus. Estou tão fora de forma, preciso mesmo de umas caminhadas.

Dá para fazer os 12 quilômetros entre o trabalho e minha residência em pouco menos de três horas.

Eu acho até que o prefeito zen deveria dar uma declaração mostrando o valor que a caminhada tem.

E talvez Jarbas podesse dar o exemplo e ir e voltar para sua casa, tão pertinho do Centro, caminhando.

Ele ainda poderia comprovar a segurança transmitida pela Secretaria de Defesa Social dispensando os oficiais que fazem sua segurança particular.

Agora absurdo é um monte de desordeiros virem agredir o Batalhão de Choque e destruir a propriedade privada.

E, crime mais grotesco ainda, muitos eram meros cidadãos travestidos de estudantes. Afinal, só quem tem direito a andar de ônibus são os alunos que possuem Passe Fácil.

Talvez a lógica seja essa mesma. Proibir através do preço a utilização do transporte público pela população adulta, claramente fora de forma e precisando de exercício físico.

Eu não vou nem falar em Privatização. Regulação. Corrupção. Quilômetro rodado. Fabricação de números. Financiamento eleitoral.

Eu só queria mesmo achar um paralelepípedo para jogar na cabeça de nego (sem conotoção racista, por favor).

11.11.05

Release de engenheiro

Não conheço muitos assessores de imprensa que gostem da profissão. Devem existir. Mas a maioria acha o trabalho desnecessário e chato. Afinal, para que escrever uma coisa de forma agradável se o repórter vai pegar nos seus calos na hora de fazer a matéria. E se é para contar com um jornalista comprado seria melhor para o assessorado pagar o ?jabá? diretamente para quem está na redação.

Bem, de vez em quando a gente se pega lendo uma coisa que lhe leva a pensar um pouco diferente. Veja o mal que o corte de custos as vezes causa a uma empresa. Vejam esse e-mail que recebi hoje (detalhe, não sou usuário e nunca comprei nenhum produto da Jinx):

Caros usuários,

O FutSim foi lançado em abril de 2003 e já está perto de completar três anos (NÃO COMPLETOU NEM O PRIMEIRO MANDATO). Isso se não contarmos os três anteriores ao lançamento (período de desenvolvimento (QUE DUROU MAIS DO QUE A EXISTÊNCIA DO PROJETO).

Nesse período, a Jynx Playware passou por uma série de mudanças estruturais e estratégicas. A empresa, que inicialmente nasceu para desenvolver o projeto, em 2004 encontrou um nicho de mercado muito mais rentável do que o do FutSim.

(JÁ QUE SÓ TEMOS COMPROMISSO COM O LUCRO FÁCIL...) Desde então, naturalmente a empresa foi mudando seu foco de negócios e acabou
entrando definitivamente no mercado de jogos sérios (CARALHO! ESSA FOI DEMAIS! JOGOS SÉRIOS! DEVEM SER MAIS CHATOS QUE O FUTSIM! E O PRODUTO DELES NÃO ERA SÉRIO POR QUE MESMO? CONTRAVENSÃO? IMORALIDADE?), onde hoje está estabelecida e em constante crescimento.

Nesse meio tempo, o processo natural de ?envelhecimento? do FutSim foi acontecendo. Hoje, chegamos ao ponto onde precisamos focar nossos esforços em outros projetos mais alinhados ao nosso planejamento para o futuro e não temos recurso para deixar o FutSim rodando estável e implementar novidades (OU SEJA, O JOGO É UMA MERDA MESMO).

Por esses motivos, é com pesar que anunciamos que o jogo será descontinuado a partir do dia 31/11/2005. A todos que efetuaram pagamento de assinatura (inclusive os que não chegaram a ter as contas liberadas), estaremos devolvendo a quantia proporcional ao tempo restante, contando do dia primeiro de novembro até o final do prazo. Para isso, cada pessoa deverá seguir um procedimento
simples, descrito no último tópico desta mensagem. (COMO EMPRESA FILHA DA PUTA EXIGIREMOS UM PROCEDIMENTO DESNECESSÀRIO PARA QUE VOCÊ SEJA RESSARCIDO PARCIALMENTE, QUANDO POR DIREITO DEVERIA SER PLENAMENTE RESSARCIDO. ASSIM, ESPERAMOS LUCRAR UM POUCO MAIS COM OS OTÁRIOS QUE NÃO SE TOCAREM QUE PAGARAM POR UM PRODUTO QUE NÃO RECEBERÃO PLENAMENTE).

É importante ressaltar que a partir de hoje não estaremos mais fazendo cobranças e não estaremos dando suporte técnico (DEIXOU DE DAR SUPORTE AUTOMATICAMENTE), relacionado ao jogo, por e-mail ou telefone. Apenas estaremos esclarecendo dúvidas e gerenciando o processo de ressarcimento das assinaturas, através do e-mail encerramento@futsim.com.br.

Agradecemos a todos os (OTÁRIOS) que estiveram conosco todo esse tempo. Esperamos, em breve, poder estar juntos novamente.

Abraços,
Equipe FutSim.

3.11.05

O jardineiro fiel

Fazia tempo que queria ir ver esse filme. Mas estava meio sem saber o que esperar. Claro que não é um filme brasileiro. É mais um filme de Hollywood. Só que tem um diretor brasileiro. Para mim isso é muito. Torço por brasileiro na NBA, futebol europeu... Por que não torceria por um diretor de cinema que entrou no mundo do cinemão.

U$ 25 MILHÕES. É HOLLYWOOD DA PESADA!

Agora o que achei. Acho muito parecido com a trama de O Informante. É o mesmo jogo de intrigas. Falam muito de um tom social, próximo das favelas africanas (tinha escrito européias). Exagero do caralho!

Fernando Meirelles sempre foi o riquinho mesmo.

Mas isso não importa. O filme é excelente. Me surpreendeu em vários momentos. Joga com várias informações ao mesmo tempo. No meu complexo de corno do caralho fiquei com uma pena do caralho de Ralph Phienes até o meio do filme.

A minha única raiva é da propaganda do World Food Program. O mercado da charity agradece (isso é uma piada interna, que infelizmente Inalda não vai ler). Mas nisso eu já estou voltando para analisar a Política por trás da película.

Num tenho jeito.

Para alguns, talvez o casal negro e branca pareça um pouco idealista demais. E o diplomata é passivo em excesso para minha visão latina. Mas o interessante é que o esquema de corrupção que aparece é muito real. E, quem não é burro, se diverte.

Aula para quem viveu ou viverá assistindo negociatas.

27.10.05

Homo Sapiens

?As pessoas acham que hoje vivem mais para o prazer do que no passado, mas isso é uma grande ilusão. Todo mundo trabalha como louco, chega em casa moído, não tem tempo para nada e vive obcecado com a busca do prazer instantâneo em doses cada vez mais altas?, resume o psicanalista Jurandir Freire Costa.

Se "as pessoas" diz respeito aos Homo Sapiens Sapiens eu estou fora.

21.10.05

Pandemia

Jornalista é uma raça incompetente mesmo. Faz mais de uma semana que ouço falar na gripe aviária diariamente. Sempre se usa a palavra Pandemia, mas ainda não sabia o que isso significava. Sempre ficava esperando um aposto explicativo, mas ele nunca vinha. Então fui no dicionário:

Pandemia é uma epidemia que atinge num curto período de tempo as populações de numerosos países.

É bastante grave, não dá nem para pensar que os caras não explicam para causar mais medo ainda nos leitores/ouvintes/telespectadores. Ou seja, é incompetência muita mesmo. Agora eu acho que a quantidade de matérias sem aprofundamento que tenho lido só pode ser uma tentativa de fazer com que as pessoas pensem que o mundo vai acabar.

A Gripe Aviária tabela com a Febre Aftosa, mete na esquerda para a corrupção sistêmica, que recua para a gripe, cruzou, de cabeça, e a Febre Aftosa acabou o mundo. É gooooooooooooooooooool!

18.10.05

Viajar é preciso

Passei 24 horas em Petrolina. O que conheci foram as delegacias e penitenciárias. Mas achei muito legal o que vi no caminho.

Do avião a gente vê as formas geométricas da agricultura irrigada. Círculos de uva, retangulos de manga, diversas formas diferentes de melão.

Tudo bem que aquela riqueza toda pouco chega para o cidadão comum. Mas só daquela terra estar sendo aproveitada já acho muito bonito.

A cidade não é nenhuma jóia. Só não tem a sujeira toda de Recife, Caruaru. Mas também não é organizada como as cidades mais bonitinhas do Nordeste.

Voltei com um primo meu que trabalha exportando frutas. Maior empolgação com a safra de uva. É muito bom produzir.

Fico pensando na ironia de João Lima. "Esse negócio de arte, não está com nada. O negócio é trabalhar em café e comer bem".

É muito legal produzir arte, mas o saco é ficar andando em círculos. Falta, falta, falta. Dinheiro, dinheiro, condições.

Com a Política não é muito diferente. Aliás, as faltas da arte são em grande parte fruto das dificuldades do resto da vida.

Mas a verdade é que eu fiquei com a maior vontade de plantar mais e mais. Meus 100 pés de maracujá são tão pouquinho...

4.10.05

Volta às origens

Gosto de contar uma anedota que parece só ter graça para mim. Ia passando pela mesa dos mais velhos no aniversário do professor Marcos Lima quando me interessei por uma história que Dona Jaci, a viúva do saudoso ministro Oswaldo Lima Filho, contava:

- O maior ladrão que já passou por Pernambuco chamava-se Julio Maranhão.

- Meu bisavô Dona Jaci..!

Me parece que houve um momento de silêncio.

- Esse cara concorda com as piores coisas que você disser mamãe, salvou-me o aniversariante.

Infelizmente, o respeito familiar prevaleceu e Dona Jaci acabou sem contar mais nada. Fiquei sem ter o depoimento que viria a seguir. Mas ontem, em pleno ano de 2005, tive uma visão que me parece ser bastante semelhante ao que acontecia na época de Doutor Julio Maranhão à frente da Usina Jaboatão.

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Visita da Comissão de Defesa da Cidadania à Usina Salgado, em Ipojuca. Passamos a tarde lá. No ônibus os deputados Soldado Moisés e João Fernando Coutinho, ambos do PSB, iam mangando um pouco de Roberto Leandro.

- Essa estrela no teu peito parece mais um sol.

Fomos logo a uma pequena comunidade. Sítio Pistola. Por que será que tem esse nome?

Um trator derrubava algumas árvores para plantar cana-de-açúcar. Um morador, que estava no local há "apenas" 16 anos, contou o prejuízo que teve: foram 145 mangueiras, 80 coqueiros, sem contar os pés de macaíba, azeitona rocha, etc. A fonte de água que ficava a uns 20 metros de sua casa também foi aterrada.

- Não estamos derrubando nenhuma residência, a casa dele foi preservada. Explicou o empresário Marcos Queiroz, que mudou na semana passada do PT para o PSB e deve ser candidato a deputado federal.

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Conversei com uma liderança que é filho de um senhor de 91 anos. Nasceu no Sítio Zépojuca. A Usina Salgado reclama a posse das terras. Quem tem direito é quem tem o papel ou quem plantou uma árvore há 80 anos?

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Eu não vou mais me encher de contar essa história. Me envergonha que ainda estejámos vivendo o tempo de Doutor Julio Maranhão. Me envergonha a falta de jornalistas que tenham sensibilidade para um drama tão chocante. Salve Bianca Carvalho e a Rede Globo. Me envergonha a classe política. Salve os que continuam lutando dentro do PT e os que criarem novas alternativas.

Minha matéria está no site da Assembléia mas também não dá o sentido todo da coisa: http://www.alepe.pe.gov.br/inicio.php?secao=377&doc=021395DE882613BB032570900003860E

30.9.05

MUDAR DE ENXADA PARA CONTINUAR O PLANTIO

"Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!" A lembrança sofrida do poeta Drummond não vem por acaso: o Partido dos Trabalhadores é nossa "cidade natal". Quando dela se parte o coração fica partido. A alma nublada. É com este sentimento de profunda tristeza que decido, após muita consulta e reflexão - que envolveram diretamente cerca de mil pessoas -, deixar o PT.
Nele aprendi, desde 1987, lições de boa prática política, de coletivismo, de ousadia, de jamais perder o horizonte utópico e o objetivo estratégico do socialismo com democracia. Sob sua legenda, com orgulho de "eterno aprendiz", exerci dois mandatos de vereador do Rio e um de deputado estadual, além de disputar, em memorável esforço da militância, já sem apoio da maioria da direção nacional, a Prefeitura da nossa cidade. O PT construiu uma bela pedagogia da aproximação dos movimentos sociais com a inserção nos espaços institucionais. Ele foi a síntese de um alentado movimento de massas nos anos 70 e 80, que se capilarizou nos sindicatos combativos, nas associações de vizinhos, nas comunidades eclesiais de base e entidades nacionais como a CUT, o MST e a então renascida UNE.
Hoje, porém, o PT reiteradamente nega as lições que nos legou, e, para nossa angústia, perde ossatura, alma, aura. Agigantado nas máquinas do poder, cada vez mais acomodado a elas, acriticamente, deixa de ser um partido da transformação social. Justamente quando enfrenta o maior desafio de sua história, o de ser governo da República, o PT se enreda num vendaval de contradições, ambigüidades, perda de referências e esquecimento de princípios: pratica políticas que se chocam com seu programa, implementa medidas que nunca proclamou em campanha, faz alianças - como é imperativo na política - sem estabelecer fronteiras éticas, por mero pragmatismo. Deixa-nos sem discurso e sem ânimo.
O PT vai reproduzindo, organicamente, um grupo dirigente que Chico de Oliveira define como uma "nova classe": capitalista moderada, formada por ex-dirigentes sindicais e profissionais da política que, a partir dos fundos de pensão, das instituições financeiras e dos aparelhos do Estado, transformam-se em gestores do mercado e mediadores das tensões políticas em favor da institucionalidade conservadora.
Respeitando muito aqueles que insistem em lá persistir e resistir, perseguindo sua refundação ou reestruturação, chegou, para nós, a hora da decisão: o chamado Campo Majoritário continuará, com seus aliados, tendo maioria no Diretório Nacional (51%, sem contar o Movimento PT!), e isto significará a manutenção dos atuais procedimentos, no essencial. Não se faz sequer auto-crítica, não haverá investigação séria e punição dura para quem implementou as práticas escusas que hoje vêm à tona.
A estrela cadente do PT continua emitindo alguma luz, cada vez mais tênue, mas tudo indica que esta energia, na sua fonte, já se extinguiu. A tendência é que o PT se torne uma sigla razoável de voto, bom emblema eleitoral, mas "peemedebizado": sem rigor ético, compromisso com o trabalho de base e mística socialista. Um partido cada vez mais semelhante aos partidos convencionais. Um marco histórico na esquerda brasileira que não soube, no governo central, democratizar radicalmente as relações de poder e manter seus princípios. Um partido que desconstitui, no imaginário popular, a política como protagonismo cidadão que melhora a vida das pessoas.

"Seu navio carregado de ideais, que foram escorrendo feito grãos". É esta a sensação, cantada por Edu Lobo e Chico Buarque há duas décadas, que o governo Lula nos provoca. Sua análise comparativa não deve ser feita com a mediocridade privatista da década Collor/FHC mas com o programa mudancista apresentado em 2002, que conquistou a adesão de mais de 52 milhões de brasileiros. O falacioso "caminho único" do neoliberalismo prosseguiu. O governo não mudou a política econômica, ao contrário: reforçou sua ortodoxia e estabeleceu o superávit primário, que hoje esteriliza R$ 80 bilhões/ano. O pagamento (jamais renegociado) de juros das dívidas financeiras corresponde, no Orçamento da União, em um mês, ao gasto anual com o SUS, e, em quinze dias, ao dispêndio anual com Educação! O Brasil, com a maior taxa de juros do planeta, continua sendo o paraíso dos banqueiros, dos especuladores, das 15 mil famílias rentistas. Para cada real destinado ao Bolsa-Família, R$ 15 vão para o pagamento de serviços da dívida.
O governo Lula não logrou, por isso, firmar políticas estruturantes e reformistas na educação, no meio ambiente, na saúde, na habitação, na cultura, no desenvolvimento agrário e mesmo na assistência social, a despeito das valorosas equipes ministeriais que lá estiveram ou estão. Há um dique de contenção instalado na Fazenda, no Planejamento e no Banco Central que impõe um viés conservador e continuísta ao governo, jogando fora, para nosso desespero, uma oportunidade histórica.
Como diz Emir Sader, que é do aguerrido time que ainda batalhará no PT, "o governo fracassa não porque tenha colocado em prática o programa da esquerda, mas porque seguiu o caminho de menor resistência, de ceder à política econômica herdada, acreditando que com ela ganharia o apoio do empresariado, colocando em prática o programa econômico da direita. Ganhou, mas perdeu seu diferencial - o apoio popular. Se vê hoje cercado pelos seus inimigos de sempre, sem poder contar com seus aliados de sempre - os movimentos sociais, a militância do PT, a esquerda" (JB, 28/8/05).
No plano parlamentar, ser deputado do PT transformou-se numa via crucis: ausência quase total de debate político, nenhum diálogo com o Executivo, que só quer subordinação e imposição vertical em todas as questões. Por fim, no caso Valério/Delúbio e seus superiores, veio a quebra de confiança, pois operou-se um poderoso esquema financeiro paralelo, e com paraíso fiscal (nosso inferno !). Isto foi negado por executores e beneficiários até o último momento.
Em todas as votações e decisões importantes foi exigida da Bancada uma postura contrária ao que histórica e programaticamente sempre afirmamos: reforma da Previdência, lei dos transgênicos, lei de falências, parceria público-privada, status de ministro ao presidente do Banco Central, recomposição do salário mínimo, apoio a CPIs, livre escolha de candidato à presidência da Casa. Bancada acocorada, desrespeitada!
A chamada "base aliada" cristalizou-se com partidos e lideranças de tradição fisiológica, que operam na pequena política, e cobram cada vez mais por um apoio sempre frágil, vez que nunca cimentado no interesse público ou com amálgama ideológico. Contrariados, estes "parceiros" são os primeiros a denunciar esquemas que, para o velho e bom PT, sempre foram condenáveis. Mas quem reage a isso e cobra coerência é marginalizado, punido, acusado de "aliar-se à direita", como se direitistas e espúrias não fossem essas práticas chocantes.
Os dirigentes desta política anti-PT e nada progressista, ao proclamar sua votação "fantástica, surpreendente, muito boa mesmo" nas eleições internas recém-realizadas, ainda dizem que "o militante entendeu que a crise não é do PT mas de todo o sistema político" (O Globo, 25/9/05). Sistema político que o governo não quis modificar, engavetando a reforma por exigência de seus parceiros reacionários - com quem muitos petistas sob investigação, e sequer submetidos a comissão de ética interna, mantém estreitas relações. Para quem sempre ostentou com orgulho a estrela no peito, quanta frustração!

"Ah, recomeçar, recomeçar, como canções e epidemias, ah, recomeçar como a lua, como as colheitas e a covardia, ah, recomeçar como a paixão e o fogo, o fogo..." O toque de partida de Aldir Blanc e João Bosco ecoa em nós como aviso de que nem tudo está perdido. Perene reinício. Nesta conjuntura, a direita se reaglutina, empolgada para voltar ao governo nacional, ciente do poder econômico e midiático que nunca deixou de ter. A direita se constitui inclusive como padrão de moral pública: hipocrisia consentida, onda reacionária, que temos a obrigação de barrar! A esquerda, desmoralizada, com as cartas embaralhadas pelo governo Lula, sobrevive como aposta perdida, entrando em nova diáspora. Os movimentos sociais, combalidos, seguem na luta... e na perplexidade. Estamos amargando uma perda histórica, mas a mesma história, com sua dialética, ensina que não há derrotas definitivas.
É hora de aprender com o grande Apolônio de Carvalho: nunca perder a visão estratégica e manter, mesmo em tempos de desencanto, um otimismo visceral. O desafio é reconstruir uma unidade mínima para a esquerda, resignificar o ideário da igualdade social com um movimento pelo socialismo, forjar uma ampla frente antineoliberal. Este esforço de recomposição só prosperará se baseado num projeto para o Brasil, largamente debatido pelas forças da esquerda democrática. Ele deve incorporar propostas de reestruturação radical do Estado brasileiro, soberania nacional e novo padrão de desenvolvimento econômico e social, auto-sustentável e distribuidor de riqueza e renda. Ele pode aproveitar, sem dúvida, entre outras contribuições, muito do que foi produzido no Encontro do PT de dezembro de 2001, no qual foram forjadas as diretrizes para um programa democrático e popular de governo, hoje abandonadas. Ele partirá do entendimento de que a força social de mudança está na luta popular organizada, na reafirmação de que os meios são os fins, em processo de realização. Tudo isto lastreado na humildade de quem se sabe enfraquecido: sem arrogância, hegemonismos, sectarismos.
Para quem está inserido nos espaços institucionais, importantes instrumentos na democracia formal brasileira, a vinculação a partido político é uma necessidade. É, como disse um lavrador de assentamento, "a enxada para a lavoura, que só serve com lâmina afiada". Mas, além de cumprir prazos e normas cartoriais da lei eleitoral, a opção a ser feita deve tentar responder à questão sobre qual a melhor ferramenta para ajudar no esforço coletivo e plural para se reconstruir as referências estratégicas para a esquerda, para uma outra sociedade, fraterna, possível.
Sem a pretensão de entender este caminho como único correto, ousamos apostar no recém-criado - com o aval de 430 mil eleitores de todo o Brasil - Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL. Ainda pouco conhecido, o PSOL é projeto em construção, propositivo, ideológico, e (talvez por isso) sem grande visibilidade midiática na sociedade de massas e na teledemocracia em que vivemos. Trata-se, portanto, de disposição para moer no áspero e praticamente começar tudo de novo, sem ilusões de que a história se repita. Cientes das imensas dificuldades eleitorais, inclusive - o que tira a razão de quem, equivocadamente, possa ver algum "oportunismo" nessa escolha.
Entendemos que o PSOL não deve ceder à tentação fácil do "contrismo", de crescer por oposição e contraponto ao PT, de onde vieram seus principais quadros e sua entusiasmada militância. O partido, em fase de constituição, deve buscar filiações de quem, com generosidade, acredite sobretudo na organização popular e na elevação do nível de consciência política de nossa gente, hoje tão desiludida. Não pode se contentar com a presença em atos de rua, com justas reivindicações e muitas bandeiras (aquelas que o PT deixou de levar, há anos...): o trabalho político de tecer a rede dos lutadores do povo é o mais importante.
O PSOL, aprendendo com os erros do PT, livre de toda soberba, não deve pretender, nesta hora crítica, ser referência única, centro e pólo, mas tijolo na construção comum, que, depois do terremoto, se inicia. Saber aliar-se, sem sacrificar princípios. Saber ter flexibilidade tática e firmeza estratégica.

"Fazer da interrupção um caminho novo, da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro". Temos, como queria Fernando Sabino, um encontro marcado com a troca de idéias sobre a crise, com o resgate da política do bem comum, com a capacidade de compor, discernindo aliados de inimigos políticos, e estes de adversários, e também inimigos principais de inimigos secundários.
São penosas estas encruzilhadas da história, mas elas não começaram agora. O "breve século XX" pontua a trajetória da esquerda mundial com estes ensaios e erros, poucas conquistas e muitas derrotas, que merecem reflexão atenta. E impuseram escolhas, sempre dramáticas, sempre geradoras de perdas, sempre demandando despojamento e renúncias. Não partimos do zero, como um Sísifo que viu a pedra rolar morro abaixo e necessita começar tudo de novo. Não! É também nossa a herança da democracia direta, do orçamento participativo, do "modo petista" de legislar e governar, com transparência e controle social. Não deixaremos num imaginário museu das lutas populares as experiências de partido-pedagógico e partido-movimento. É da esquerda brasileira a rica experiência do partido de Paulo Freire e Florestan Fernandes, que se reinventava na pluralidade das expressões constitutivas da identidade de um povo que não aceita a "ninguendade" e a pré-cidadania a que as elites aristocráticas e racistas tentam lhe condenar.
Aos que não seguirão conosco, nosso respeito e compreensão, torcendo sinceramente para que consigam realizar o que, após tantas tentativas, já não acreditamos mais ser possível: fazer o PT voltar a ser PT. Esperamos deles também a grandeza do entendimento do nosso gesto, definido não sem profunda inquietação e superação de dilacerantes dúvidas.
Só a história dirá, mais à frente, quem tem razão. Por isso, ninguém deve ter a pretensão de qualquer orgulhoso "eu não disse?". Entendemos, inclusive, que os que estão livres da camisa de força do prazo eleitoral, sem perspectivas de candidatura em 2006, devem concluir o ciclo do PED, votando para a esquerda, minoritária, ter mais um voto e uma potente voz no Diretório Nacional, ponte para a reinserção do partido no campo da democracia socialista.
Estes tempos paradoxais da gestão Lula nos levam ao avesso do avesso na cultura partidária que engendramos: para ser petista de verdade, é preciso sair do PT...
Carlos Drummond, que versejou nossa profunda dor, também alimenta nossa teimosa esperança:


"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."

27.9.05

Por que não mais PT?

No atual Partido dos Trabalhadores, a minoria está reduzida à inglória tarefa de legitimar as decisões da cúpula

PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO

Tenho, diante de mim, o recorte amarelecido do artigo que publiquei na página 3 da Folha de S. Paulo, no dia 22 de maio de 1981, com o título: "Por que PT".
Alinhei nesse artigo as razões da minha opção por esse partido: um programa de construção do socialismo democrático; preponderância de gente do povo entre os seus fundadores; subordinação da cúpula partidária às decisões dos núcleos de base.
Após 24 anos e quatro meses de militância, sou obrigado a reconhecer que esses não são mais os traços do PT. O socialismo tornou-se mera referência retórica; a consulta às bases, uma ficção; e, a cada renovação dos quadros dirigentes, menos gente do povo é eleita para os postos de comando.

O pior, porém, veio com a vitória de 2002. Apesar das negativas dos atuais dirigentes, a verdade é que o partido se rendeu ao neoliberalismo. Não foi, como se alega, uma tática de transição. Lula e a cúpula petista convenceram-se de que a receita neoliberal de estabilidade do mercado a qualquer custo, de abertura comercial, de terceirização e de privilégios aos investidores estrangeiros é o melhor que se pode fazer para o Brasil.
Os interesses concretos do povo tiveram de ceder às exigências do capital. Nestes dois anos e meio, o assistencialismo substituiu a luta contra a desigualdade, e o governo procurou frear a combatividade dos movimentos populares.
Nesse contexto de crise moral e política, as eleições para a renovação das direções assumiram importância estratégica, pois a indignação dos autênticos petistas abriu a chance de derrotar a até então imbatível máquina eleitoral montada pela oligarquia que dirige o partido há dez anos. Por isso, aceitei o convite para disputar a presidência do PT.
Deixei claro, porém, a esses companheiros e aos que assistiram aos debates entre os candidatos, que a eleição seria um teste sobre a possibilidade de recuperação da legenda não pelo resultado da votação, mas pela forma como o processo eleitoral se desenvolveria.
O resultado foi desanimador: em vários Estados, houve transporte em massa de eleitores e a quitação de contribuições atrasadas (requisito indispensável para votar) pelos cabos eleitorais do candidato da situação e de dois candidatos que se proclamavam de oposição. O peso desses eleitores de cabresto, que, no melhor estilo da política de clientela, votaram sem saber em quem, foi decisivo para o resultado da eleição.
Essa é uma realidade que não pode deixar de ser considerada pelos socialistas que integram o PT. Eles existem e são muitos. Quarenta mil honraram-me com seu voto e outros tantos podem ser encontrados entre os que, conscientemente, preferiram outros candidatos. Mas o total não foi suficiente para derrotar a situação.
Se nem a trágica crise que se abateu sobre o partido e seu governo, nem a evidente divisão da cúpula dirigente, nem a denúncia dos oposicionistas e nem a vigilância exercida pela imprensa foram suficientes para romper a blindagem que assegura a perpetuação do chamado Campo Majoritário (conjunto de correntes que compõem a direção) no comando da legenda, é preciso convir que o PT não mais oferece a possibilidade de que a minoria possa se tornar maioria, como é da essência do regime democrático. No atual PT, a minoria está reduzida à inglória tarefa de legitimar as decisões da cúpula.
Todas essas razões levaram-me à decisão de deixar o PT. Bem sei que não se trata de uma decisão aceita por parte das pessoas que me acompanharam na disputa do PED. Compreendo essa atitude e respeito esses companheiros e essas companheiras com quem quero continuar dialogando. Mas estou convencido de não ter outra alternativa para dar conseqüência a uma opção socialista feita no longínquo ano de 1961 e que mantive até hoje.
As circunstâncias concretas da conjuntura impedem a reunião de todos os socialistas autênticos em uma única organização política neste momento. Não será, contudo, por longo tempo. Logo a existência da unidade se imporá, até como condição da presença da proposta socialista na agenda política do país. Por isso, surgiu, simultaneamente, em diversas vertentes, a idéia de realizar, com todos os núcleos da diáspora socialista, uma reflexão exaustiva sobre os novos caminhos que o socialismo precisa trilhar em uma sociedade que sofreu profundas mudanças nestas últimas duas décadas. Pretendo dedicar a esse diálogo o melhor dos meus esforços.
Para não nos rendermos à imposição de uma legislação eleitoral espúria, vários companheiros, entre os quais me incluo, estão aceitando generoso oferecimento de filiação ao PSOL. Esse partido ainda não estabeleceu, em definitivo, seu programa e sua estratégia, a fim de nos dar tempo para uma reflexão mais cuidadosa.Essa abertura é importante e dá condições para propor um diálogo político bastante aberto entre nós, os socialistas, hoje dispersos em vários partidos e movimentos populares.
Troco de instrumento para não abandonar tarefa. Pretendo continuá-la com a mesma fé e a mesma garra.



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Plínio de Arruda Sampaio, 75, advogado, é presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária). Foi deputado federal pelo PT-SP (1985-91) e consultor da FAO (Organização da ONU para a Agricultura e a Alimentação).

19.9.05

Articulação

Quem não entende o tamanho das brigas internas do PT pode até não acreditar, mas essa me parece a explicação mais plausível para algo tão inesperado. O presidente Lula não votou em Ricardo Berzoini para favorecer a candidatura de Valter Pomar, nas eleições internas do Partido.

Os dois candidatos são oriundos da Articulação, que viria a se dividir em duas correntes diferentes o Campo Majoritário (que é uma extensão da Articulação Unidade e Luta) e a Articulação de Esquerda.

Ou seja, ambos têm anos e anos de convivência com o presidente da República. Após o racha, Ricardo Berzoini continuou na elite do grupo de Lula e Valter Pomar, apesar de estar na outra corrente, foi eleito vice-presidente do Partido.

Nenhum dos dois parece realmente causar calafrios em Lula.

É a explicação mais plausível para que o prefeito do Recife tenha resolvido mudar de opinião e apoiar Valter Pomar e Carlos Padilha. Traindo seu super-secretário e homem de confiança que contava com o seu voto, Dílson Peixoto. Ele já sabia da posição de Lula.

O presidente da República não vai precisar declarar voto para Valter Pomar no Segundo Turno. No máximo, pode dar alguma declaração dizendo que ambos têm condições de fazer um bom trabalho.

Mas, conquistando alguns apoios como o do prefeito do Recife, espera ter garantido a derrota da candidatura de Plínio de Arruda Sampaio. O deputado constituinte que, com seus cabelos brancos, vem fazendo a cabeça da juventude petista.

É que a vitória de Plínio poderia realmente abalar os alicerces criados pelo presidente Lula, José Dirceu e Companhia Limitada.

O ideal para Lula talvez seja mesmo a vitória de Pomar. Pois assim, o Partido dos Trabalhadores poderia tentar realmente vender a imagem de uma reconstrução. Mas para bom entendedor uma palavra basta.

Articulação.

Outro Brasil

Novo blog do deputado federal Paulo Rubem Santiago: www.outrobrasil.zip.net. Ainda está meio feinho, mas tem um monte de coisas para se ler.

8.9.05

Por que choram os petistas?

?Opaco é o fim do mundo pra qualquer navegador/ que perde o oriente e entra em espirais/ e topa pela frente um contingente que ele já deixou pra trás?. O alerta, poético e profético, foi dado por Chico Buarque e Edu Lobo há exatos 20 anos, quando compuseram ?Meia Noite?, uma canção para a peça ?O Corsário do Rei?, de Augusto Boal.

Furtadas as bússolas éticas e programáticas, em pleno alto mar da crise, a sensação de muitos deputados federais do PT, naquele 11 de agosto, foi de meia noite em nossas vidas. O pranto sentido de tantos, com lágrimas derramadas em cena aberta, era uma síntese líquida de decepção, vergonha e indignação.

Plenário de parlamento é lugar de racionalidades, representações ? algumas bem teatrais ? e certa dose de hipocrisia. Ali, a couraça da persona política que cada um veste não comporta fragilidades emocionais. No entanto, não deu para segurar. As lágrimas públicas já tinham sido derramadas em particular, quando nos reunimos para avaliar as revelações de Duda Mendonça, especialista na arte de erguer e também desconstruir imaginários. Toda maquiagem tem um preço, lembra o marqueteiro, mas nós não sabíamos que a embalagem eleitoral dos generosos anseios de mudança que mais de 52 milhões de brasileiros concretizaram em voto seria paga com trapaças, doleiros e paraíso fiscal. Ali completou-se nosso inferno real!

Ninguém chorou por seus mandatos, por um efêmero status de deputado. Naquele momento de catarse não prevista, choramos o roubo do sonho coletivo (bem modesto, convenhamos) de um país menos desigual, com instituições públicas mais transparentes e protagonismo popular. Choramos a constatação, que teimamos em querer ver desmentida por gestos futuros, de que, no poder, as pessoas não mudam: se revelam. Choramos a força do dinheiro, que vende aspirações justas e pode dar às estrelas um brilho de aluguel. Choramos, sobretudo, a dilapidação do patrimônio ético-político construído por tantos, de Henfil e Helio Pellegrino a Carlito Maia e irmã Dorothy, passando por Chico Mendes e Florestan Fernandes. E sobretudo por milhares de brasileiras famílias Silvas, que aprenderam com o PT que ?reclamando junto melhora?, que ?a luta faz a lei? e que ?direito não exercido é direito perdido?. Choramos, com raiva, a quebra de confiança e a rendição a um pragmatismo que é repetição de tudo o que sempre condenamos.

Mais do que pelo PT e pelo governo, que já se distanciara de nós com suas alianças fisiológicas e sua ultra-ortodoxia econômica, choramos pela derrota da esquerda como alternativa política para este país: num momento de triste emoção, o tempo se condensa e o lamento por um presente que desconstitui o épico passado, de Zumbi a Olga Benário, alcança o escuro do futuro. Choramos por não nos consolar dizer, convictos, que os malfeitos não o foram em nosso nome. As celebrações de dois anos e meio atrás, quando anunciávamos ?o governo de nossas vidas?, deram lugar a um vendaval de perguntas sem respostas, e à vergonha perante as novas gerações, na dúvida cada vez menos duvidosa: fracassamos?

Passado aquele sincero e inusitado desabafo, agarramo-nos à compreensão que afaga: choramos para ter a visão mais límpida e entender que é assim mesmo que se processa a história humana, com forças sociais contraditórias, entre avanços e recuos, fidelidades e traições, emperramentos e superações. E o canto de Chico e Edu, de novo, explica a dor coletiva: ?os soluços dobram tão iguais/ seus rivais, seus irmãos/ seu navio carregado de ideais/ que foram escorrendo feito grãos/ as estrelas que não voltam nunca mais/ e o oceano pra lavar as mãos...?

TEXTO DO DEPUTADO CHICO ALENCAR, PUBLICADO PELO ESTADO DE SÂO PAULO.

27.8.05

Calada ela já está errada!

Quem? A Veja. Claro!

http://vejaonline.abril.uol.com.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=1&textCode=113048&date=currentDate

Eu não tive nem saco de ler a matéria toda. É que a revista deu um furo danado. Conseguiu uma entrevista que coloca o PSDB no mesmo mar de lama em que o PT está envolvido. Aliás, mostra que foram eles que fizeram primeiro o esquema com Marcos Valério. Na campanha do governador de Minas Gerais e tucano-mor (presidente do Partido da Social Democracia Brasileira), Eduardo Azeredo. Mas tomaram um cuidado tão grande que até colocaram todas as contradições da entrevista do tesoureiro, do homem responsável pela montagem do esquema no PSDB. Por sinal, contradições nada contraditórias. Capaz de não merecer nem capa da revista. Vamos ver. Será que eles são tão vendidos a ponto de perderem a chance de vender mais revistas?

Existem mil casos em que fica provado que não era nada do que a matéria diz (alguns até mesmo antes da revista ir para as bancas) mas mesmo assim a Veja publica os textos. Alguns deles já ficaram famosos. Posar de correta com o próprio partido é bom demais. Um fodam-se para quem acha isso normal. Jornalismo é o caralho!

26.8.05

Juntando os cacos

Construir um ideal. Lutar para torná-lo real. Ter a desilusão. E
reunir forças para continuar. Não é fácil.

Em recente reunião realizada para dar um pontapé inicial no trabalho
de reconstruir o PT aqui em Pernambuco um militante histórico das
esquerdas lembrava da tradição de se gritar: "O Socialismo morreu?
Viva o Socialismo!". Ninguém teve coragem de fazer essa saudação para o PT.

No fundo do poço, nem mesmo os deputados Roberto Leandro e Paulo Rubem
Santiago tinham forças para traçar novos caminhos. Queriam ouvir da
multidão quais seriam os esforços possíveis.

Mas a multidão ainda estava chorando. As discussões inflamadas com
familiares e amigos. O dinheiro gasto para se fazer as primeiras
campanhas (e, para alguns, até mesmo em empreitadas recentes). O suor
derramado. A perda do mito. A vergonha diante dos próprios filhos.
Alguns desistiram de assistir o Jornal Nacional.

Veio do Padre Reginaldo Velozo o primeiro flerte com uma nova (antiga)
caminhada. Fazendo um paralelo com os antigos partidos comunistas do
Brasil, ele lembrou que a diferença do PT era o fato de ter crescido
de baixo para cima.

"Nascemos criticando as estruturas centralizadoras dos partidos
comunistas do Leste Europeu", lembrou o religioso. Para então admitir
que na Década de 90 o PT foi reestruturado para garantir o predomínio
do grupo liderado por José Dirceu (Campo Majoritário), que acabou com
a Democracia interna (muitas vezes se utilizando de manipulação para
vencer eleições e mudar o Estatuto do PT).

O discurso do Orçamento Participativo nas gestões petistas não ilude
mais nem mesmo os gestores do Partido. Muito menos a população. No
Recife, o principal responsável pelas ouvidas é candidato a um cargo
parlamentar. E essa gestão, apesar de ter proximidade, nem faz parte
do grupo de José Dirceu.

Talvez o mais sério seja a falta de diálogo dentro da estrutura
partidária. Os deputados petistas no Congresso Nacional reclamam que o
presidente Lula nunca fez reunião com sua bancada parlamentar. Então
precisam também fazer reuniões e estarem dispostos a ouvir seus
eleitores.

Recomeçar pela escuta do povo é o pontapé inicial. Expulsar os
corruptos do PT. Vencer o debate interno, sob as regras criadas pelo
inimigo. Trazer de volta aqueles que baixaram a cabeça. A batalha como
sempre é injusta. E a solução mais racional, para alguns, será
escolher um novo caminho. "Muda a marca, mas continua a luta pela
Cidadania do nosso povo". Será que diremos isso?

O mito Lula perdeu força. E, em Pernambuco, Miguel Arraes de Alencar
deixa saudade. No PT, ou fora dele, será preciso ter propostas e
ideais ainda mais avançados que a Democracia do início dos anos 80.

Fui eleitor de Chico Alencar na última eleição, pois passei um ano
morando na querida Vila Isabel. Orgulhosamente, acompanho a atuação do
parlamentar na Câmara Federal. Escrevo essas poucas linhas para dizer
que sua atuação tem servido para encontrar algumas formas de
encontrarmos saídas no mar de lama que se tornou nosso partido.

Como assessor de imprensa do presidente da Comissão de Defesa da
Cidadania da Assembléia Legislativa aqui de Pernambuco, o deputado
estadual Roberto Leandro, vejo na proximidade que Chico Alencar faz
questão de manter com o seu eleitorado (participando de diversos
fóruns e valorizando um encontro semanal, numa carioquíssima política
de rua), no uso da Internet como ferramenta para aproximar o mandato
dos eleitores e finalmente na atuação séria e transparente na Comissão
de Ética da Câmara Federal um dos poucos motivos de inspiração nessa
crise que tomou conta do meu partido.

A caminhada não é fácil companheiros. Obrigado aos que estão conosco.

15.8.05

Cara de adolescente

Apesar de falar muito nunca fui no Aterro Sanitário da Muribeca. Passo pela frente toda semana. E converso muito com o pessoal que trabalha lá, catando lixo, e as vezes com os policiais. Algum dia vou lá.

Semana passada fui na Fundac de Abreu e Lima. Digamos que continuo sem conhecer o ambiente, porque fui acompanhando uma visita da Comissão de Defesa da Cidadania da Assembléia. Ou seja, era uma realidade muito diferente do que Maria Sobral deve pegar toda semana (segundo Julia ela faz isso toda semana mesmo?). Mas só das conversas com o pessoal da administração já fico chocado com a distância entre mundo real e administração de recursos públicos.

Antes mesmo de entrar nas celas uma coisa que me chamou atenção foi a sinceridade com que os diretores da unidade tratam os assuntos. Os problemas são tão graves que eles esquecem de fazer Política e expoem mesmo as mazelas e até mesmo as divergências internas.

Cada quartinho é mais ou menos do tamanho da minha cama de casal e abriga entre três e cinco meninos. Quase todos estão sem colchões, pois foram queimados em rebeliões. Fora o tamanho, parece uma cadeia normal porque, além das grades, sempre tem uns posters de mulheres nuas pelas paredes.

Os meninos estão atualmente sem direito a banho de sol. É uma punição porque eles realizaram cinco rebeliões em 2005. Só que punição maior é ter de dividir aquele espaço com tanta gente. A Fundac era para abrigar 60 e já contou com mais de 200, depois de vários incêndios tem 180 atualmente.

Na minha mente imunda fiquei pensando a quantidade de estupros que aquele pessoal devia se vitimar. Mas depois soube que os estupradores eram vistos com muito preconceito e são até separados do restante dos adolescentes (talvez isso evite um pouco essa atrocidade). Outros que recebem cuidados especiais são pessoas que mataram as mães. Pareceu-me uma coisa muito sintomática.

A reforma da unidade custaria R$320 mil, mas a verba não foi nem mesmo sinalizada. Toda a área administrativa está queimada. Salas de aula destruídas. Redes elétrica e hidráulica em péssimo estado. Isso sem falar nos equipamentos (pelo menos colchonetes). Seria pouco dinheiro se aquilo fosse tratado como pertencente a nossa realidade, mas o discurso vigente incentiva à marginalização.

- Consertar para ter outra rebelião?

Essa é a pergunta. Reforçada pelo fato dos meninos justificarem as revoltas com argumentos considerados fracos (solicitam Bolacha Vitarella, pernoite, galinha assada). Mas a realidade está muito evidente, mesmo para quem vai ali de passagem como eu.

Um menino que entra ali com cara de criança e consegue sair sem ter perdido o semblante deve ser pura obra do destino. Por que aquilo ali é uma máquina de tirar esperanças. E o pior é que vi muitas pessoas ali com cara de adolescente. Justamente o que eles não deviam perder.

Uma informação que chamou minha atenção: a verba de custeio para manter mensalmente 180 adolescentes é de R$500. Imagine isso para uma pessoa que trabalha em um gabinete parlamentar.

O pior é que os juízes continuam mandando gente para dentro, sem pena. E o Governo do Estado faz de conta que se preocupa e continua mentindo dizendo que vai criar uma unidade modelo em Jaboatão. Se fosse para criar alguma coisa que preste deviam ser vários locais que dessem para abrigar pelo menos a quantidade de adolescentes que estão presos atualmente. Tapar o sol com peneira não adianta.

12.8.05

De volta

Estou voltando. Ainda queria contratar alguém para ajeitar a cara desse blog. Mas vou voltando. Agora não estou em condições de falar de Política. Minha mãe me disse: "se lembre que o PFL era pior". Como eu não consigo passar isso nas minhas palavras então prefiro deixar elas só no ar.

Por enquanto vou escrevendo outras bobagens.

30.7.05

Só falta o livro...

Para quem tinha passado 27 anos quase sem plantar nada até que comecei bem. Foram 30 pés de maracujá, no Sítio Três Irmãos (na época só éramos eu, Marta e Carlos. Meu pai nunca mudou o nome para colocar Tuti e Pedro), na Muribeca.

Saí cedo de casa neste sábado. Chico e Julia estavam dormindo. Por uma sorte incrível caía uma chuvinha bem de leve. Clima perfeito. Seu Julio colocou as mudas no carrinho de mão e cavava os buracos, só tive o trabalho de ir tirando o saco plástico e cobrindo de barro as plantinhas.

Não foi nada combinado. É que eu e Seu Julio estávamos mesmo com vontade de plantar logo. Ele para poder ir para a feira. Eu porque tinha criado uma expectativa depois de ver todo o processo de preparação da terra, colocação das estacas para as plantas subirem...

Na hora que estava ali ajudando aquele trabalhador senti orgulho da proximidade que vou criando com Seu Julio e o pessoal da Muribeca. Me lembrei que é bom trabalhar junto de outras pessoas e me veio a idéia de escrever isso aqui. Só para dizer a João Lima que ele foi o cara com quem consegui trabalhar melhor em parceria.

Obrigado portuga.

29.7.05

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19.7.05

Pavê de Sonho de Valsa?

Tiago reclamou uma atualização. Mas estou meio puto por ter perdido os comentários. Quando fui mudar o template fiz merda. Se alguém souber como reaver meu arquivo no Haloscan avisa. Também, essa crise Política ultrapassou as fronteiras da minha compreensão. Então, só se eu for dar receita de doce.

9.7.05

E agora, pessoal?

POR ANTONIO TORRES MONTENEGRO (BLACK)

Aula de História Contemporânea. Turno da noite. Era uma sexta-feira. O programa a cumprir, mas os acontecimentos políticos das últimas semanas exigiam uma mudança de rota. Esqueci o programa. Não contive minha curiosidade em saber como aqueles jovens percebiam, analisavam, avaliavam o momento presente.

Iniciei então perguntando qual a leitura que eles(as) faziam de tudo a que estavam assistindo no mundo da política. Eduarda tomou a palavra: ?Qualquer um sabia que Lula sozinho não iria resolver os problemas do país. É claro que nós que estamos fora dos labirintos da política não sabíamos em detalhes quais as práticas do PT para chegar ao poder, e realmente num primeiro momento é uma grande decepção. Mas, se tudo isto existe há tanto tempo, não é vindo à tona, discutindo, confrontando, debatendo que se poderá mudar? Sou a favor que se punam todos, de dentro e de fora do partido.?

?Ah, professor ? intervém Rogério ?, sou militante do PT desde os 16 anos. A minha tendência sempre criticou certas práticas que acabaram hegemônicas no partido, mas devo confessar que estou triste, estou frustrado. Mas, tenho pensado muito. Começo a entender que fiz da política uma religião. O meu partido era o lugar do bem, da verdade. Os outros, os impuros, estavam do outro lado. E surpreendente é que dentro do partido também acabávamos fazendo essa divisão. Quando Lula começou a não fazer o que tinha afirmado na campanha, imediatamente foi taxado de traidor. Ora, traição é um conceito religioso, não político. Pensar politicamente é pensar em força. Quais as forças que atuavam e atuam, impedindo dentro e fora do partido que determinados projetos, determinadas propostas sejam realizadas? Acredito hoje que, partindo dessa pergunta, em lugar de nos colocarmos como ressentidos ou traídos, iniciaríamos uma outra prática, de mais troca. Precisamos aprender a construir projetos compartilhados e não impor a nossa visão única, acabada.?

Passo a palavra à Priscila que há dez minutos reclama que não a deixam falar... ?Tenho pensado muito nas nossas discussões sobre a idéia de crise. O professor tem repetido em diversas aulas que percebemos, compreendemos o mundo ao nosso redor a partir dos valores, das idéias que nos foram ensinadas. Por isso ? não é, professor? ? você nos tem dito que o mundo não é objetivo ou evidente. Cada parcela da sociedade lê e compreende o mundo a partir da forma como os grupos em que está inserida apresentam o que denominamos realidade. Mas apesar das diferentes redes há um conceito que tenho a sensação exerce uma ampla influência na sociedade. É a idéia de crise. Quando afirmamos ?está em crise? parece que o mundo está no fim. Reconheço que ninguém me ensinou: crise é isso. Mas fiquei pensando como desde muito pequenos nós todos aprendemos que o homem e a mulher viviam no paraíso, sem dor, sem sofrimento. E a sociedade capitalista reforça esse imaginário, associando a idéia de que quanto mais rico, mais próximo do paraíso você estará. Mas, esse paraíso é uma invenção. Sabe por quê? Porque essa cultura nos ensina uma absurda maneira de pensar e agir na expectativa de que a vida se torne uma felicidade. Percebo que não nos é ensinado a olhar os problemas. Não aprendemos a ler as crises com positividade. Não vejo, de maneira geral, as pessoas dizerem: que bom que o problema foi colocado, está causando um grande mal-estar e obrigará a mudanças. Pelo contrário, percebo um medo, como se o melhor fosse as coisas talvez continuarem escondidas. Tenho procurado pensar essa crise como um momento excepcional para que se criem leis, mecanismos que cerceiem essas práticas políticas inteiramente contrárias ao interesse da maioria. Para concluir, professor, acho que muitos de nós acabam caindo na armadilha de pensar que a crise que estão vivendo os parlamentares corruptos e seus parceiros é uma crise da sociedade. A crise é deles, que serão possivelmente presos, outros poderão perder seus mandatos, e estão expostos à desmoralização pública. Para a sociedade, acredito, é uma grande oportunidade de construção de um outro presente, outro futuro...? Nesse momento, tive que interromper a exposição de Priscila, em face do adiantar da hora (eram quase 22h30) e só me restou agradecer as reflexões por todos apresentadas.

Antonio Torres Montenegro é Prof. Depart. de História da UFPE

30.6.05

De férias

Under reconstruction

16.6.05

Blindagem

De tudo o que Roberto Jeferson fala o que mais me marcou foi quando retrata a blindagem de Lula. É que sentia a mesma coisa na Prefeitura do Recife. Vendo as coisas erradas, gastrite comendo no centro e todas as vezes que chegava junto de João Paulo corriam para defendê-lo os secretários João da Costa e Mucio Magalhães e a ex-chefe de Gabinete Ligia Falcão.

Felizmente isso tudo está acontecendo. Já não agüentava ficar falando em códigos para ver se as pessoas entendiam o que estava acontecendo. Talvez a putaria seja em níveis menores do que em outras gestões, mas nada aceitável para o padrão da maioria. Acho o processo importante historicamente, como é também entender quem era contra a emenda da reeleição no PSDB.

Triste é ver a quantidade de pessoas que simplesmente preferem sair do foco da disputa política. Para não falar na juventude, lembro somente os secretários Chico, Edla e Tânia. Isso tudo sempre aconteceu e com sorte viveremos outros processos, antes de diminuir o nível de corrupção política a um nível mínimo. Mas é preciso estar sempre buscando novos horizontes.

10.6.05

Rossini Alves Couto - promotor de Justiça

Meu amigo Duda me explica com muita sinceridade porque o País está melhorando: ?cada concurso novo para procurador (ou promotor, juiz ? ele que é tributarista) entra mais gente competente para verificar as falcatruas que sempre aconteceram?. Paulo Rubem e Roberto Leandro sabem muito bem que o processo é complicado porque as quadrilhas estão organizadas há décadas, nas administrações, legislativos, Justiça e na Defesa Social. Mas, mais importante que esses conceitos, é o sentimento de querer fazer que precisa invadir os corações das pessoas.

Hoje, eu me emocionei ao ouvir os relatos sobre uma pessoa que não conheci e realmente deu sua vida para chegar a um objetivo. O ato público que marcou os trinta dias da morte do promotor Rossini Alves Couto foi uma verdadeira aula de Cidadania, Justiça, Esperança e Amor à Vida. Queria que todo mundo tivesse a oportunidade de ir para aquele colégio em Cupira saber o quanto temos a fazer em nossas vidas. Mais que isso, queria que cada um de nós pudesse ter certeza ao morrer que deixaria um legado tão importante quanto o daquele homem, que nem chegou a ser famoso.

Cada um dos advogados, políticos e amigos falava sobre uma qualidade do promotor. ?As peças de Rossini não eram escritas somente com técnica, tinham a vibração do coração?. ?Não se abatia com as limitações do serviço público e tirava do seu bolso quando era preciso?. ?Amava a natureza e era corajoso para, na falta de policiamento, ir ele mesmo vigiar o restinho de Mata Atlântica que havia em Lagoa dos Gatos?, ?Pedi ajuda a ele para fazer alguma coisa pelos meninos de rua e ele e sua esposa construíram um abrigo e alimentavam os meninos desde 1997 em Cupira?.

Infelizmente, não tenho a capacidade de mostrar toda a beleza da esperança que aquelas pessoas demonstraram. Mas tento me lembrar um pouco do que disse a esposa do promotor, que também exerce a profissão muito corajosamente no interior do Estado. ?Rossini não se conformava em ver a coisa errada e envolvia o corpo todo para resolver cada situação. Muitas vezes chegava de noite em casa e me explicava que estava ouvindo um caso, em que não poderia fazer nada. Mas que aquela pessoa precisava ser ouvida por alguém?.

A Secretaria de Defesa Social, além de não mandar representante, fez questão de colocar na imprensa uma reportagem de ataque ao Ministério Público de Pernambuco. Não ouviu o clamor de uma esposa apaixonada e viúva: ?Eu preciso dizer para os meus filhos que Justiça existe?. Eu me lembrei do juiz que, no enterro de Rossini, me dizia que não acreditava na Justiça. Mas olhei para toda aquela gente e acredito que se não existe ainda precisamos construir.

Um advogado, citando Che Guevara, resumiu o sentimento dele e de muita gente que esteve em Cupira.

?Não tenho medo de morrer. Tenho medo de que ninguém apanhe o meu fuzil do chão. Rossini pode ter certeza que sua caneta não ficará no chão?.

Um voto bem Dado

Nós, deputados do Bloco de Esquerda do PT, vemos enfim nossa proposta de investigação parlamentar das denúncias de corrupção nos Correios ser assumida pela Bancada inteira e pelo governo. O fato de governos anteriores, em especial o de FHC, abafarem CPIs, não nos legitima a fazer o mesmo. A política é, de fato, muito dinâmica: os "hereges" de ontem são os "companheiros sensatos" de hoje...Quem dentro do próprio PT nos desmereceu, classificando-nos como "braço tucano" ou "lacaios da oposição", agora reconhece que a operação anti-CPI nos desmoralizava na opinião pública, reforçava suspeitas de envolvimentos em ilícitos e se chocava com a história do PT.

Não podemos repetir a mesma trágica sucessão de erros quanto às acusações do deputado Roberto Jefferson. Sua caudalosa entrevista à Folha de São Paulo incrimina três partidos - um como corruptor e dois como corrompidos - e mais de 100 deputados! Por mais que ele esteja afogado em denúncias e não tenha conquistado grande credibilidade em sua vida pública, o que disse sobre "mesada" a deputados para votarem com o governo precisa ser apurado com rigor máximo. Mais uma vez, a credibilidade do Legislativo está em cheque... por causa de "cheques", agora? É nossa prerrogativa trabalhar em duas CPIs: a da suposta "receita", a dos Correios, que agora, paradoxalmente, a oposição tucano-pefelista quer protelar, e a da "despesa", do tal vergonhoso "mensalão". É essa contabilidade espúria que deve ser apurada, na sua totalidade.

Como petista, expresso o sentimento de milhares de filiados e de boa parte da sociedade: atacado por Jefferson, era dever do Tesoureiro Nacional do PT, Delúbio Soares, apresentar de imediato sua defesa, abrir nossas contas e interpelar judicialmente aquele que o expõe com estas impressionantes histórias. Um quadro político com suas responsabilidades não poderia silenciar por tanto tempo! O companheiro Delúbio deve também se afastar de suas atividades partidárias enquanto durar a investigação. E é urgente a separação rigorosa, definitiva, entre aqueles que exercem funções de direção partidária e o governo. São territórios bem distintos.
O governo Lula precisa aprofundar a linha afinal adotada para superar a inegável crise, apoiando toda e qualquer investigação, "cortando na própria carne", se necessário, afastando Ministros processados, como Jucá e Meirelles, não contemporizando com aliados fisiológicos, que queiram cargos e emendas em troca de votos.

Chico Alencar
Deputado Federal

7.6.05

Ao ventilador

É bom todo mundo procurar ler a íntegra da entrevista do ex-líder de Collor e aliado de Lula, Roberto Jeferson. Claro, não há provas. Mas a gente vai formando a nossa verdade, que será levada às urnas no ano que vem.

Achei bom. Desde que começou o Governo do PT me orgulho do chute que dei ao votar no deputado Chico Alencar. A Frente de Esquerda é a única coisa que se salva nesse mar de lama. Estavam avisando que a merda viraria boné há dois anos.

Saí da Prefeitura do Recife porque estava vendo o absurdo que se transformou a ala majoritária do PT. Só faço questão de dizer que é o mesmo nível de corrupção generalizada que havia no Governo do PSDB, que comprou os parlamentares para passar a famigerada emenda da reeleição (por exemplo).

Tem um amigo meu que é advogado e explica muito bem como está acontecendo essa moralização do Brasil. O movimento é esse mesmo. E a explicitação de pontos de corrupção faz parte do processo, assim como a contratação de bons procuradores, juízes e a melhoria no nível da nossa representação parlamentar

O movimento político que vai acontecer depois desse escândalo pode ser um retrocesso? Pode. Mas até os revezes são necessários. A desilusão de quatro anos de Governo de Esquerda sem grandes mudanças seria talvez tão negativa quanto a explicitação de quem estava no poder.

E que Lula seja inteligente. Tem que se reaproximar das correntes de esquerda do PT. Vai ter que fazer um freio de arrumação para tirar algumas pessoas que estão em posições importantes no Partido e no Governo. E pode usufruir da fragilidade de setores da Centro-Direita que não têm interesse na esculhambação, que poderia respingar também em Fernando Henrique Cardozo.

Eu vou continuar dizendo a Roberto Leandro que ele precisa colar no discurso de Paulo Rubem. Mas e se o Governo não tiver uma visão de história e continuar lutando contra as investigações? Será a perda de uma construção de 25 anos do Partido dos Trabalhadores, mas não significa tanto assim dentro do processo de moralização do País.

Já estava afim de interromper minha série plácida sobre a Muribeca. Roberto Jeferson me deu o mote. É porque realmente só daria para continuar se eu fosse realmente fazer umas entrevistas pelo bairro e passear no Aterro. Bem, espero depois continuar.

6.6.05

DONA TEREZA

Passa o Aterro Sanitário da Muribeca, terceira à esquerda. Quando entrar na estrada de terra pegue a rua de baixo (à esquerda). Esse trecho é considerado perigoso, mas se você dirigir por uns 500 metros vai ver a casa de Dona Tereza.

Debaixo de duas enormes mangueiras. Em cima de um morro cheio de verde. A residência tem também a função social de bar da comunidade. Tem até uma sinuca, que nos dias de sol fica na sombra de uma árvore.

O clima é perfeito para chupar uns cajus, mas na sombra dá até para arriscar uns copinhos de cachaça. Cerveja eu não recomendo, pois no único dia que me enveredei por esse campo tive a infelicidade de topar com uma ressaqueira Nova Schin.

Os petiscos ainda não provei. Mas na certa não tem muita diferença do elitista Seu Vital, que fica no Poço da Panela. Muita pipoca, salgadinho de isopor e com muita sorte um guisado de bode ou macaxeira com queijo. Para sobremesa biscoitos Vitarella, a fábrica fica do outro lado do "Lixão" (que ainda é conhecido assim por ali).

Dona Tereza recebe a todos. Apesar de não ter idade para isso, parece tomar conta da vida de todos. Apesar do negócio que tem, é de poucas palavras. Mas isso não significa chatice. Só que deve racionar o gasto de saliva.

Sua casa ainda está pintada com o nome de Newton Carneiro. Isso demonstra um pouco a liderança que ela supostamente exerceria na Muribeca. Mas essa função na verdade fica por conta do cara que mandou pintar. Para ela, já é muito ouvir as histórias e servir aos freqüentadores da sua residência/negócio.

Para mim parece uma situação ideal. Um barzinho em que a proprietária é educada e silenciosa. E que oferece aos seus clientes uma bela sombra como prato principal.

30.5.05

O ADVOGADO

Tão achando que na Muribeca não tem advogado. Eu também acho. Mas isso tudo pode ser preconceito da gente.

Conheci um advogado, que vou manter o nome em sigilo para não ser alvo fácil, lá no Engenho São Joaquim. Ninguém nunca afirmou que ele tenha se formado na minha frente, mas todos repetem que "ele diz que é".

De verdade eu sei que ele muito poderia fazer por aquele povo, apesar de recentemente ter sido demitido do cargo de chefe de gabinete do prefeito Newton Carneiro. Deve ter muito poder.

É sabido que o "bom velhinho" não freqüenta a Prefeitura de Jaboatão e na ausência... O engraçado é que logo depois da saída no "nosso advogado" a imprensa noticiou fartamente a primeira ida de Newton Carneiro ao seu ambiente de trabalho. Ainda estou esperando as notícias da segunda visita.

Mesmo depois de demitido o rapaz continua exercendo o poder de liderança daquela comunidade, atestado por todas as casas caiadas com o nome de Newton Carneiro.

Meu único contato pessoal com ele foi quando consegui a ida de uma equipe da TV Jornal para fazer reportagem sobre o (não) fornecimento de energia para as famílias do Engenho São Joaquim.

Postou-se ao lado de Dona Tereza (de quem falarei em breve) e se mostrou absolutamente chocado com tudo o que estava acontecendo ali. Na verdade fez da dona do boteco mais tradicional do local sua porta voz na televisão.

E foi embora sem dar nem mesmo um telefonema sobre a situação daquele pessoal. Quer dizer, pelo menos não com a intenção de resolver. Para tentar culpar quem investe no local pela falta de luz ele é capaz de falar pelo telefone e até ao vivo.

Quando ouvi a acusação fiquei com vontade de dar na cara dele, mas entendi que só faz uma coisa dessa quem pode. Me retirei do local e retiro o nome do nobre advogado desse texto.

26.5.05

PEPÉU

Ele tinha 18 quando o conheci. Não tenho boa memória, mas tenho certeza do que falo, porque ele estava tendo problemas para se alistar. Precisava vir ao Recife. Como? Nunca tinha saído da Muribeca.

Eu achei engraçado. Sei lá como iam ser as reações dele. Será que ele já tinha tomado banho de mar? Com certeza ia estranhar quando visse uma escada rolante. Talvez tivesse medo de andar de elevador. Leseira isso.

Morava numa casinha construída entre o Sítio do meu pai e o Engenho de São Joaquim. Andei por ali e não vi nem sinal da construção. A taipa deve ter caído e o mato cresceu em cima. Talvez eles também tenham tido medo de continuar morando ali.

Me lembro que a mãe dele falava bastante. O padastro tinha um jeito mais parecido com o dele. Tinha uns dois ou três irmãos mais novos. A família virou na minha cabeça a típica visão dos cortadores de cana.

Escrevi até um texto em que uma das crianças cortava o dedo com a estrovenga, mas isso foi ficção. É que ficou marcado na minha memória as marcas que aquele pessoal sempre tem, do trabalho.

As queimadas matam os bichos. A terra perde a cor. A cana perde o mel.

E aquele trabalho deixava um monte de marcas no povo. Um não meche os dedos. O outro perdeu um dedo. A maioria deixa à mostra rasgões nos braços. Outros escondem as cicatrizes por baixo da camisa.

Mas encontrei Pepéu um dia desses. Como todos ali parece que deixou de trabalhar na cana. Tem família agora. Não perguntei se ele tinha conseguido se alistar. Mas fiquei me perguntando quais seriam as marcas de um catador de lixo.

Penso.

Talvez sejam menos aparentes que as de quem trabalhava na cana.

24.5.05

O ANTROPÓLOGO

Seu Silva é policial militar concursado. Uma pena, deveria ter seguido a sua vocação.

A principal função dele atualmente é fazer a vigilância do Aterro Sanitário da Muribeca. Ele tem muito orgulho do processo de reestruturação pelo qual passou o lugar e gosta que as pessoas visitem "sua" maior obra.

- Antes a gente vivia encontrando corpos no meio do lixo.

Não é que a violência tenha acabado no Aterro, mas o processo que levou o Lixão a ser reconhecido com esse novo nome trouxe várias melhorias. Entre elas, a principal é que o lugar passou a ter vigilância constante e isso afastou o crime organizado.

Como a maioria dos policiais, ele trabalha praticamente três expedientes. É que tem dois trabalhos de vigilante e de vez em quando ainda tem que dar o plantão. O pior é que é um tipo raro que faz questão de honrar sua função pública.

Conhece todo mundo na Muribeca e sabe que tem de exercer sua profissão dentro dos limites que a realidade lhe permite.

- Não dá para sair prendendo qualquer um que venda maconha. Tem muita mulher ai que está fazendo isso porque o marido foi preso. Quem ia sustentar a família desse pessoal se ela fosse para a cadeia?

O que mais irrita Seu Silva é justamente não poder expandir esses limites. A falta de recursos é enorme e o policial que está ali não pode querer enfrentar os grandes criminosos do local sozinho. Seria morte certa.

- A gente recebe muitas queixas. Vai do marido que bate na mulher até as piores coisas. O melhor é resolver na conversa, mas nem sempre dá.

É nesse processo de seleção que Seu Silva se expecializou. Há muitos anos, convive com aquele pessoal. Já faz parte da paisagem. Por isso, as ações de prisão na Muribeca sempre passam pelo crivo desse antropólogo.

Tem as que só podem ser feitas por gente de fora. Outras precisam ser realizadas pelo pessoal que está ali diariamente. E alguns casos é melhor nem falar.

23.5.05

O IRMÃO

O irmão tem 62 anos. Há 15 cuida de um Sítio lá na Muribeca. Morava com a família numa casinha de taipa na propriedade, mas depois da separação não teve mais coragem de permanecer ali.

Sua mulher era muito ativa. Teve a idéia de ficar indo ela mesma vender a produção da propriedade na feira. Todo sábado pegava a condução que a levava para Jaboatão e cada vez ficava um pouquinho mais de tempo no trabalho.

O marido desconfiou. Depois de algumas semanas encucado resolveu ir checar os afazeres da mulher. Encontrou ela trabalhando ao lado de um sujeito desconhecido. A cornura estava prestes a ser comprovada.

Resolveu ir numa mãe de santo.

- Tire isso da sua cabeça! Sua mulher é uma pessoa decente.

Outra.

- Você precisa dar mais atenção à sua mulher, mas ela não está amarrada a ninguém a não ser o senhor.

Não se contentou.

- Tome cuidado. Tem um peso muito grande sobre sua esposa.

Finalmente, teve certeza da traição. Mandou a mulher para fora com as duas filhas. Mas não agüentou muito tempo morando sozinho naquele Sítio e se mudou para um arruado ali bem próximo.

Talvez arrependido com a mudança que deu na sua vida depois de consultar as três mães de santo, acabou virando crente. Hoje, é pastor na comunidade onde mora e aconselha os jovens casais a permanecerem unidos.

22.5.05

Muribeca

Faz uns três meses que retomei a tarefa semanal de ir ao Sítio. Muita gente que me conhece já ouviu falar desse lugar, mas pouquíssima gente foi até lá. É que esses 11 hectares ficam numa das áreas mais perigosas e miseráveis da Região Metropolitana do Recife. Então, desde a morte do meu pai, tirando um tempo que minha mãe e Paulo tentaram plantar lá, a gente tinha deixado praticamente abandonado.

Durante muitos anos, a única ligação da minha família - além da posse - com as terras era a visita semanal de Seu Julio. Ele antes vinha e conversava e falava os problemas e depois passou a ir esquecendo e mudando a relação, chegando a um ponto que ele praticamente só pegava o salariozinho dele. De tal maneira a relação foi se fazendo que o agricultor passou a ser o único caseiro que não mora no trabalho que conheço. É isso mesmo. Ele ficou com medo e resolveu sair da casa que tinha gratuitamente e construir um local para morar em um arruado.

Mas estou aqui para falar da volta. Quem me convenceu a ir foi Marta. Demos uma olhada e na semana seguinte eu voltei e passei a voltar todos os sábados, com excessão dessa semana (quando adiantei para a sexta, não quero ficar marcado).

O lugar é muito problemático. Fica perto daquela Lagoa Azul (sei lá? Como é mesmo o nome). Mas fica mais perto ainda da Vila Palmares (favela criada por Newton Carneiro), do Lixão da Muribeca e de um acampamento do MST. Ou seja, é dentro de um espaço em que o Poder Público praticamente não chegou, apesar de haver um grande esforço que pelo menos mudou a cara do Aterro Sanitário (mudou mesmo!).

Não chegou porque, apesar de 90% dos moradores do local viverem de reciclagem de lixo, o trabalho (revolucionário) dos catadores continua sendo feito da maneira mais arcaica possível. E tendo o preço que os intermediários querem dar. Na minha primeira ida, com Marta, um policial me ofereceu para fazer uma visita ao Aterro.

- Traga sua família para dar uma volta num sábado. É importante para conhecer a realidade.

Eu ainda não encontrei Seu Silva para dizer a ele que topo o desafio, mas acho que ele fez a proposta para a pessoa certa. Tenho muita curiosidade por esse outro lado da divisão social e acho que só se melhora as coisas conhecendo de perto as problemáticas. Esse texto todinho é para dizer que vou começar a escrever uns perfis de umas pessoas aqui no blog. Seu Julio, Luciano, German, Dona Tereza, Seu Silva.

Sempre gostei de conversar com gente diferente e achei o máximo semana passada quando Julia fez uma coisa bem parecida com isso. Ela encontrou um bêbado na rua, ficou conversando, deu dois reais, continuou conversando e resolveu pegar um táxi para levar o cara para um Caps, onde uma amiga dela o atendeu.

19.5.05

Qual a realidade?

A postagem do subjetivo estimula a reatividade do sistema de pós-ovulação da criatividade subjetiva intempestivamente relacionda à situação cósmica da singularidade da nuance.

16.5.05

Cabeça de Porco

Estou lendo esse livro de Luiz Eduardo Soares e MV Bill (tem o empresário dele também, Celso alguma coisa?). Tudo bem que sou fã mesmo do ex-secretário Nacional de Segurança, mas a leitura é excelente. Começa com o relato dos episódios em que Celso e o rapper se envolveram, para pesquisar sobre as crianças envolvidas no tráfico de drogas e na violência. Depois vem uma parte mais sociológica, que para mim tem o ponto alto numa entrevista de Escadinha.

O ex-traficante, depois de 20 anos na cadeia, se mostra arrependido e chocado com os níveis de violência do Rio de Janeiro. "De dez, se eu conseguir tirar um do crime, tô no lucro. Se a gente conseguir recuperar um, a gente tem que bater palma. O trabalho está surtindo efeito", diz ele, que prestava serviço para o Bon Marché. Logo depois, e antes de conseguir dar os depoimentos necessários para que fosse realizada uma biografia dele, Escadinha foi assassinado.

Luiz Eduardo Soares vai um pouco mais longe: "O grande desafio está em hamanizar o sujeito que comete o crime, sem subtrair-lhe a responsabilidade; responsabilizar o "sistema", sem eximi-lo da responsabilidade de distribuir responsabilidades e aplicar penas, segundo as leis, humanizando-as; humanizar o "sistema", transformando-o, criando condições para que prosperem a solidariedade e a verdadeira Justiça".

13.5.05

Serviço Público

Estou pensando em fazer concurso para Gestor Público do Estado. Faz parte da minha raiva da "politização" (mal feita até em termos eleitorais) dos cargos da Prefeitura do Recife. E da luta contra a total falta de valorização do Serviço Público.

Meu cunhado, quando falei isso, respondeu com aquele típico sorrizo: "é, concurso público virou uma alternativa econômica". Eu não respondi na hora, mas estou vindo fazer essa discussão aqui. É que depois de muitas horas de trabalho na Assembléia Legislativa fico mesmo sem muita reação para algumas coisas.

Poxa, o quanto já fui crítico de gente como meu sogro que prefere estar na condição de professor e pesquisador (um tanto não remunerado por essa segunda função) na Universidade Federal de Pernambuco, a enfrentar os desafios e as falta de desafios do mercado de Educação Particular.

É uma luta. Tem suas vantagens. Mas é incrível o quanto é uma minoria que luta e faz algumas coisas funcionarem. Julia sempre disse, por exemplo, que no Departamento de Psicologia da Federal ninguém faltava aula por motivo banal e tal. O contrário do Centro de Artes.

Mas já passou um professor, em recente concurso público, para dar o mal exemplo de falta de compromissos com a Educação. Cupim, hoje em dia, acaba até madeira dura! Ela não critica, mas eu acho que a gente tem dar o exemplo trabalhando sério e também exigindo que os outros tenham postura semelhante. De repente, o silêncio dela pode até ser mais eficiente que meu esperneio.

A verdade é essa. Todo mundo já disse, mas a maioria faz questão de não ouvir. Quem não disputa as instâncias de Poder está cedendo. E no nosso caso dificilmente vai estar deixando para alguém que queira fazer algo em prol de uma maioria.

O PSDB fez muito bem em criar o cargo de Gestor Público Federal. Responde a uma demanda da Sociedade, de se despolitizar algumas funções na máquina administrativa. Jarbas realmente mantém alguns burocratas, que sabem tocar as coisas nos segundo e terceiro escalões. E se o PT continuar se fechando vai perder (como diz Paulo Rubem) os 20 anos de investimento para se criar um projeto de País.

Bom fim de semana!

8.5.05

Os nerds também amam

Eu vinha escrever sobre a minha pequena realidade. Parlamentares que me decemcionam e outros que confirmam sua capacidade (isso no campo do PT ético). Mas um comentário me fez mudar de idéia.

A conversa de que nada dá certo é uma coisa muito forte nos dias de hoje. Ai teve uma pessoa que escreveu, sem se identificar, que era apenas um nerd (sei lá, vejam nos comentários ai de baixo).

Realmente é muito difícil a gente ver evolução através dos políticos. Por que realmente é muito pouca coisa boa sendo feita. E muita putaria continua rolando solta no Brasil.

Por outro lado, acho que algumas coisas são evoluções no nosso mundo. Quando fui para os Estados Unidos (em 95) um nerd era simplesmente um looser. Me lembro a capa de uma Mad com os nerds famosos (ridicularizando essa mudança que estava começando a ser sentida).

Hoje em dia, a coisa mais comum do mundo é uma pessoa que tem aquele estilo (o nome continua sendo depreciativo). Os caras têm bandas e a gente vai assistir o Profiterolis. Ganham dinheiro com suas taras por computador. Muita gente acha (como eu) umas meninas bem branquinhas de ficar na frente de um computador e com um corpinho delicioso de malhar mouse a maior delícia. E tal e brá, como diria um amigo meu skatista.

Não estou fazendo nenhuma louvação. Até porque sempre achei aquela frase de Cazuza uma grande merda: "Eu sou burguês, mas eu sou artista". Porra, as pessoas respeitam o artista pelas suas qualidades, mas não por ser artista. Assim como os nerds.

Agora vou deixar meu outro post para outro dia para ninguém ficar dizendo que estou querendo justificar minha condição de nerd. Não me acho nerd Mateus!

4.5.05

Winbledon

Eu devia ser proibido de falar desse tipo de filme. Comédia romântica, com tema esportivo, ambiente de múltiplas nacionalidades e com uma loura linda compondo o par romântico.

Falo mesmo assim. A minha única queixa é porque realmente o filme se mostra muito idiota ao não mostrar carne nenhuma. A única bunda que aparece é do ator que faz o papel de Guga inglês.

Paul Bethany? Acho que é isso. Apesar de ser um pouco mais alto, e do jeitão brittish, não dá para deixar de pensar em Gustavo Kuerten. É que além de serem hiper boa-praça, os dois estão sempre perdendo seus primeiros jogos.

Bem, não tenho nem um pouco de pena de Guga. Mas o filme é legal. Apesar da vitória mais que consagradora na última partida da carreira do tenista ser uma coisa muito surreal para se levar a sério.

Bem, é uma comédia e deve ser tratada como tal. Além disso, Fernando Meligeni conseguiu um feito quase tão absurdo? Não foi. Anunciou a despedida e ganhou o Pan, depois de anos sem botar a mão em nada.

Digamos que o Pan não chega perto de Winbledon, mas pelo menos o cara tinha sido décimo primeiro do Ranking. Fininho deve ter sido no máximo um trigésimo baixo. Acho que não baixou de 30?

29.4.05

Narcisismo em estado bruto

As vezes fico curioso se as pessoas realmente entendem quem eu sou. Tipo assim, alguem - fora Mateus, que deve ter um senso de humor quase tão ridículo quanto o meu - entende que quando escrevo "Encontrei Marina na entrada e a sessão ficou um pouco mais gostosa" é só para associar as palavras Marina e gostosa?

Será possível que dois anos seguidos a pessoa faça declarações de imposto de renda de terceiros antecipadamente e deixe a sua para o último dia? Pior, acorde às 3 horas da manhã de uma sexta-feira e encontre a mensagem: Manutenção impede contribuinte de fazer declaração das 3h às 7h. Ano passado fiz umas três do pessoal da Prefeitura e domingo passado fiz a de Julia (hiper complicada). A minha que é simplinha e tem só uma fonte de renda, vou ter que fazer de tarde.

Tudo bem que a maioria dos leitores desse blog nunca acessou o site da Receita Federal. Mas tem um amigo meu que tá grávido e eu gostei pra caramba de saber. Assim, a minha geração vai ganhando responsabilidades.

Tive uma conversa com Rosinha sobre exposição/narcisismo/blog. Se a pessoa parar para pensar realmente morga esse negócio de escrever sobre si mesmo. Mas como são cinco horas da manhã espero que ela perdoe mais esse post.

28.4.05

Machuca

Fazia tempo que não assistia a um bom filme. Encontrei Marina na entrada e a sessão ficou um pouco mais gostosa. Depois não consegui falar da sensação que tive, mas venho aqui tentar explicar.

O filme chileno é sobre o conflito entre duas crianças, uma pobre e outra rica, que se conhecem durante o Governo Allende. Quando morava no Rio escrevi uma história que tinha esse mesmo enredo, no contexto da violência crescente no Brasil.

Eles se conhecem quando um padre inglês abre um colégio aristocrático para meninos das comunidades próximas. O riquinho ruivo e o índio gordinho (Pedro ?Peter? Machuca) têm uma empatia imediata e ainda dividem uma paquerinha infantil.

O filme é dedicado a um padre que realmente dirigiu o Colégio Saint Patrick na época em que se passa o filme. Mas tem toda uma aura de fantasia, com os meninos correndo das passeatas nacionalistas para as comunistas para vender bandeirinhas.

A história é boa. Bem contada. Consegue entrar em territórios de múltiplas sensações. Acho que as pessoas podem gostar do filme por diversos motivos diferentes. O namoro das três crianças. A Política. A infância bem vivida. A linda Santiago. A violência policial...

Para mim, o que mais reverberou foi a sensação forte de machucado por sentir falta de lutas no nosso País. Tanta coisa evoluiu! Mas as pessoas estão deixando passar porque quem veste a camisa vermelha hoje são os perseguidores no Brasil.

Cadê aquele povo que jogava torta na cara dos tucanos?

25.4.05

Teoria e prática

Escrevi um negócio grande da porra sobre a distância entre teoria e prática na regulação de energia, mas perdi. Queria ver o que Paulinho ia achar. Mas agora não vou conseguir reproduzir. O resumo da ópera: os "donos" da Aneel têm mandato e por isso são facilmente corrompidos, a empresa ideal que a Agência cria é uma lenda (os custos e perdas da Celpe acabam sendo levados em conta), as regras da Aneel não levam em conta contribuições que poderiam ser dadas por exemplo pelos Procons (maior número de reclamações em Pernambuco é para quem? Celpe - Grupoo Neoenergia), fantasias criadas pelas empresas viram custos nas contas dos contribuintes ("o aumento na perda de energia foi gerado pela violência em Pernambuco", Roberto Alcoforado, presidente da Iberdrola, Celpe, Termopernambuco. Sei lá, é tudo o mesmo monopólio). Os juízes que vão julgar o aumento, depois de autorizado pela Celpe (sei lá, Aneel), já foram devidamente comprados. Por sinal, foi a Veja que divulgou uma viagem desse pessoal para a Cidade Maravilhosa paga pelo nosso dinheiro e repassado para a Celpe através das contas de energia elétrica. E o pior é que lá no Sítio os fios (que eram para ser de energia) são todos de telefone.

31.3.05

Um bom registro

De tempos em tempos encontro uma pessoa que supera todos os problemas da Poder Público e faz um trabalho bonito. Isso é quase impossível. Hoje, ouvi o depoimento de Brenda Braga e fiquei impressionado com o que aquela mulher vem realizando no Projeto Renascer. Depois perguntei a minha mãe sobre ela, Inalda disse que ela era toda a mulher bonita e brilhante que eu tinha visto e ainda tinha senso de humor.

Difícil explicar tudo que ela mostrou com suas palavras. Tentativas de desburocratizar as operações para possibilitar a captação de recursos por pessoas com pouca formação do meio rural; realização de seleção para ocupação dos cargos (todo lugar que vejo as indicações são políticas); busca de apoios em entidades como o Tribunal de Contas e o Ministério Público para solucionar problemas sérios; a defesa do princípio de que aquele trabalho social realmente não pode virar politicagem e precisa seguir critérios técnicos (para a platéia ávida pelos votinhos que as pontes, banheiros, cisternas e poços poderiam lhes dar); e especialmente a capacidade demonstrada de solucionar os problemas que ela encontrou no órgão.

Pedro Eurico levou um show!

E está 1 X 0 para Jarbas em 2005.

Poderia empatar dizendo que João Paulo finalmente tirou as famílias da Vila do Vintén, aqui do lado do Plaza Casa Forte, mas isso é só a repetição de Brasília Teimosa. Então só empato quando a Urb mandar começar a obra viária para desafogar o trânsito de Casa Forte. Ou então quando Hommer Boy chegar no ouvido do prefeito e contar a esperiência existente no Rio de Janeiro de trabalho social (Favela Bairro?), que é tudo que a gestão precisa em termos de conceito para vender o trabalho em Brasília Teimosa. Que agora poderia ser feito no Coque, por exemplo.

Saudades

Estou no trabalho mais indicado para mim no campo da Política. Milhões de dilemas a enfrentar, mas pelo menos trabalho com gente que está afim de discutir algumas coisas e sempre respeitando aqueles princípios fundamentais que são tão raros nos dias de hoje (não só na vida pública, diga-se de passagem).

Agora, a verdade é que isso me torna ainda mais órfão de um jornal. Poxa, fazem quatro anos que saí do Jornal do Commercio. Sinto falta de tudo aquilo que os melhores repórteres reclamam depois que passam os três meses iniciais de euforia: excesso de responsabilidades, falta de estrutura, pouco tempo, pautas sobre assuntos absolutamente extraterrestres...

Engraçado que algumas pessoas têm bem menos perfil de jornalista, do que eu, e se enquadram e estão ralando em uma das três empresas de Pernambuco. Ainda bem! Sentei do lado de um amigo hoje, na CPI do Campo, vi que ele continuava o mesmo punk questionador da época de Católica (isso é um comentário 100% elogioso a um cara de quem nunca fui muito próximo). Como é que ele consegue continuar na Folha?

A única resposta que imagino é a necessidade. Imagino que é capaz de todo dia ele acordar com uma decepção nas costas: manchetes distoantes, textos decapitados, inserção de erros na edição, falhas do repórter vistas à posteriori (nem sempre por sua culpa, muitas vezes causadas por falta de condições de trabalho mesmo)...

Bem, mas pelo menos fico feliz que haja espaço para essas pessoas ainda no Jornalismo pernambucano. É muito fácil se enquadrar no esquema se você escreve bem. Para qualquer empresa é bom ter um Marcelo Pedroso (só para citar outro cara), só que são poucos os que ficam brigando para que cada texto seja um pouquinho mais verdadeiro, todos os dias da semana, quase o ano todo (ninguém tem saco para ser assim 24 X 365).

Acho que todo mundo para ficar numa dessas três empresas tem que fazer um pouco de malabarismo (ia dizer cavanismo só pra arretar Julio). Será? Eu sei que é um aprendizado do caramba aprender a conviver. Mas é especialmente importante não esquecer dos seus ideais.

Tanta coisa para escrever, mas não acho esse blog um veículo para assuntos do Mundo. Pelo menos para os meus dilemas ele tem um bom espaço. Infinito.

28.3.05

Viajar é preciso

Por que eu passei dez anos sem ir para Natal?

Realmente não há explicação. É a cidade realmente bonita mais barata que tenho notícia que se possa ir daqui do Recife.Uma prainha paradisíaca não pode ser considerada cidade, por mais que tenha reconhecimento formal para isso (óbvio!). Perderia todo o charme.

Puxa vida, a primeira conclusão é que todo mundo que investe em turismo no Recife vive de ilusão. É claro que esse mercado nunca vai passar da fase que vive atualmente: Carnaval, eventos e visitas familiares. Quem quiser realmente escolher um lugar para visitar sempre vai ter outras opções no Nordeste.

Ah, porque Recife tem uma cultura efervescente! Salvador também tem, as coisas são mais organizadas lá e a cidade ainda tem um litoral bonito.

Ah, porque o casario de Olinda e as igrejas são um diferencial! Realmente um décimo dos turistas acima de noventa anos realmente devem acreditar nisso. Os outros 90% ficarão decepcionados, pensando porque não passaram uns três dias a mais em Natal conhecendo todas aquelas praias lindas.

Ah, porque o artesanato... Sem explicações. Todo mundo sabe que em todas as capitais nordestinas é vendido o mesmo "crap".

Ah, porque Recife fica próxima de Porto de Galinhas, que é a um pulo de Japaratinga. Realmente, dá para pegar uma van direto do Aeroporto para um monte de praias que valem a pena. Finalmente achei um motivo para esse mega-aeroporto.

23.3.05

Arte no Muro



Fotografia: Maria Rosa

22.3.05

Antes do anoitecer

Finalmente fui assistir. Era o filme que estava faltando na minha lista de quando fui pro Rio, no ano passado.

A cena de ínicio é muito legal, assim como o final. A trilha sonora é uma das melhores coisas do filme. O debate não cansa, apesar de ter sentido falta de um pouco mais de carne na tela.

Julie Delpy continua tão linda como dez anos atrás. Julia ficou tirando onda da roupa de Ethan Hawke (como se escreve esse nome?), mas eu não tinha notado. Deve ser mesmo gréia com americano. Por sinal, é muito bom existir um filme que fica fazendo piada com os estadunidenses.

Fui assistir com Julia. Não sei se é a melhor condição. É um filme para relembrar relacionamentos perdidos. Passei uns quinze minutos para me recuperar das lembranças trazidas e acho que ela deve ter ficado na mesma situação.

Meia hora depois a gente já estava combinando uma viagem para a França. Paris é o principal personagem desse filme. Porra, é muito fácil ser um casal feliz frequentando aqueles cafés, ouvindo Nina Simone e vivendo num apartamento daqueles.

Depois tivemos de enfrentar a difícil realidade. Vamos comer onde? Anjo Solto? Boteco? Acabamos indo no Pin Up, pelo menos era uma coisa que a gente não tinha ido ainda. Muito caro para ter ketchup de sachê, mas o lugar tem uma comida boa. Recomendo principalmente o wafle.

9.3.05

Notícias da semana

Severino Cavalcanti passou pelo Recife?
Foi aprovada alguma Lei que fala sobre células tronco?
Humberto Costa continua cai não cai?
Rubinho continua em segundo lugar?
A Saúde em Pernambuco não tem como piorar?

Pois eu só prestei atenção mesmo nas fotos de Chico Buarque com uma mulher bem bonita num mar azul-verde lindíssimo do Leblom. Pois bem, não existe nada proibindo publicar fotos de gente na praia. Mas eu sou moralista velho. Quanto mais me interesso em olhar aquelas imagens, mais acho que não deviam ter sido publicadas e mais vejo o quando foram manipuladas de maneira a parecerem bem mais do que realmente deve ter acontecido. A única solução são processos muito bem estruturados que causem mega-indenizações. Na minha vida, ainda vou ser contratado para dar minha visão sobre esse tipo de cobertura. Que peça é essa dentro de um processo? Contendo a opinião de um especialista sobre um assunto. Outra coisa, sem nenhuma relação, a mulher pode ser linda, mas junto de Chico ela virou uma deusa.

28.2.05

Mudança de endereço profissional

Só para registrar que amanhã passo a trabalhar na assessoria de imprensa do deputado estadual, Roberto Leandro.

Continuo no mesmo ambiente petista, mas agora com um pouco mais de idealismo (espero e acredito!).

Não será nenhuma grande evolução financeira e a vantagem principal será ter um pouco mais de tempo livre para nadar, ficar com Chico, ir pro cinema, namorar...

Aos que ficarem iludidos de que vou ganhar bastante dinheiro ou trabalhar quase nada já deixo clara que ambas as idéias são precipitadas.

Não sei se vai dar para atualizar esse site na Assembléia Legislativa, mas espero em breve ter Internet à cabo em casa.

Para quem não conheçe esse deputado é aquele que vem devolvendo o jeton desde o início do mandato e tem um projeto de lei, junto com Tereza Leitão, para extinguir essa verba. É presidente da Comissão de Cidadania da Assembléia e foi presidente do Sindicato dos Bancários. Ano que vem a gente vê se ele vai estar mais conhecido do público pernambucano ou não.

25.2.05

Bolsas do Salão de Artes

Fernando Perez rules! O cara teve cunhão pra caramba de levantar o questionamento ao vivo, no Sopa Diario. Agora, duvido que ganhe qualquer coisa do Governo de Jarbas novamente. Mas tudo bem, 2006 vem ai. E em 2007 o Carnaval de Pernambuco já pode ser Multicultural.

A polêmica está grande, leiam as matérias de Julio e Diana. Quando é que essas curadorias vão aprender que realmente têm que tomar todos os cuidados imagináveis para distribuir verba pública? Mas o pior é que a coisa tem que ser discutida com respeito para não acabar causando uma decisão mais drástica da Secretaria de Cultura.

22.2.05

Juventude de Esquerda

Trechos de texto de Cristovam Buarque:

Enquanto não tiver responsabilidade de mais velhos, o jovem não deve ser o castrador de seus sonhos. Deve lutar por ele, enfrentar as resistências, mesmo que tenha que se submeter depois à lógica dos velhos.

O mais grave deste envelhecimento precoce que se percebe nos jovens militantes da esquerda brasileira, como forma de defender o nosso governo, é que a sociedade fica sem a vanguarda sonhadora que deve caracterizar a sociedade. Este é um imenso risco que corremos atualmente.

Na verdade porém, o problema talvez esteja menos na falta de sonho, do que no corporativismo como os jovens sonham hoje em dia. Se se falasse em federalizar o ensino superior, era capaz de os jovens aceitarem a idéia e lutarem por ela. Mas, como se trata de beneficiar as crianças, os sonhos são cortados pelos jovens militantes.

Não importa se por corporativismo ou por conservadorismo, a sociedade não muda, quando a juventude militante perde o gosto pelos sonhos mais radicais.